Após três anos de crescimento, a concessão de financiamentos pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) recuou 32,5% em 2014, refletindo um ano difícil em que a economia brasileira andou de lado. A carteira de empréstimos e financiamentos contratados somou apenas R$ 2,7 bilhões em recursos para empresas e empreendedores da Região Sul em 2014, contra R$ 4 bilhões em 2013. Prestes a deixar a presidência do BRDE, o paranaense Jorge Gomes Rosa Filho falou à Gazeta do Povo sobre sua gestão de um ano e quatro meses à frente do banco e os desafios atrelados ao crédito em 2015. Pela sequência, o próximo presidente do BRDE será um representante de Santa Catarina.
O recuo na contratação de crédito via BRDE em 2014 interrompeu uma sequência de três anos de crescimento. Qual a justificativa?
Um dos motivos é a nossa base de comparação. O ano de 2013 foi atípico, extraordinário. A política de crédito do governo federal, à qual estamos atrelados por meio do BNDES, foi bastante expansionista nos últimos anos. O Finame oferecia juros de 2,5% ao ano, algo surreal. O crédito muito barato acabou levando a um boom na contratação de financiamentos no país. E o BRDE surfou nessa onda. O ano de 2014, por exemplo, foi melhor que o de 2012.
Essa torneira que o Luciano Coutinho tinha agora foi fechada e está sob o comando do ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Vejo com bastante preocupação este cenário que está descortinando a nossa frente, porque não há qualquer possibilidade de melhorias no curto prazo.
O cenário econômico não teve impacto na retração do crédito?
O governo imaginou que o crédito barato subsidiado ia impulsionar o crescimento econômico do país, mas isso não se traduziu em investimentos e o resultado ficou muito aquém do esperado. Além disso, as eleições também deixaram o setor produtivo brasileiro em compasso de espera. As condições econômicas do país, resultado da política econômica equivocada adotada pelo governo cujos efeitos começamos a sentir mais fortemente agora, fez com que as empresas se endividassem e pisassem no freio na hora de buscar dinheiro. Somado à economia desfavorável, o aumento das taxas de juros de 2013 para 2014 e agora em 2015 fez as empresas repensarem os investimentos.
A queda nas contrações é resultado do recuo na oferta de crédito? Este será um ano de dinheiro caro e escasso?
O presidente do BNDES tinha na sala dele uma torneira de crédito que ele abria ou fechava conforme seu desejo. Essa torneira que o Luciano Coutinho tinha agora foi fechada e está sob o comando do ministro da Fazenda Joaquim Levy. O dinheiro que sai daquela torneira é do Tesouro Nacional e está escasso. Os juros altamente subsidiados contribuíram para o déficit nas contas públicas do governo, causando um rombo nas contas públicas do país. O Finame a 2,5% é uma beleza, mas alguém está pagando essa conta. Até então o governo vinha bancando essa diferença. Com o aperto fiscal, agora a liberação de crédito funciona dentro de um orçamento pré-estabelecido.
Como isso vai impactar o BRDE?
O BRDE é um repassador de recursos, sobretudo do BDNES, que é o grande agente financeiro para o fomento no país, através do qual todos os bancos de desenvolvimento e os comerciais abastecem suas carteiras de crédito. Nós já estamos prevendo dificuldades para este ano. Nosso orçamento é de R$ 3 bilhões no primeiro semestre para os três estados do Sul, mas não vejo com muito otimismo que esse orçamento será, de fato, cumprido. Pelo desempenho do BRDE e pelo cenário em 2014, este valor estava dentro de um contexto razoável, mas o governo não tem esse dinheiro. Como dependemos 90% do BNDES, o que estamos fazendo é buscar outras fontes de captação.
Quais são essas alternativas?
São três. Uma delas é a Agência Francesa de Desenvolvimento, com a qual já tivemos várias reuniões em Brasília, Curitiba e Porto Alegre. A segunda é o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e a terceira, que eu estou vendo com mais simpatia, é o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), que funciona com o aporte de dinheiro dos países do continente e já atua em parceria com prefeituras e estados brasileiros. Com este, estamos no processo final do acordo de cooperação após cinco anos de negociações.
Quanto o BRDE espera captar junto a essas instituições?
O limite de captação é a capacidade do BRDE. As negociações tratam mais dos projetos que poderão ser financiados do que de valores. Como os bancos atrelam seus empréstimos ao dólar, isso é algo preocupante, por exemplo, para uma empresa que não exporta. Mas para o BRDE não vemos problemas. Temos muitas cooperativas que atuam no mercado internacional.
A busca por crédito deve crescer neste ano?
A demanda em um mercado que está altamente restritivo naturalmente vai cair. Não acredito em expansão do crédito em 2015. Mas temos que analisar dois aspectos. A economia do Paraná é um pouco diferente dos demais estados do Sul. Nós aqui temos uma economia mais pujante, avançada e moderna puxada principalmente pelo agronegócio. Isso faz a diferença. Entre 2011 e 2014, o Paraná absorveu 44,09% do crédito concedido pelo BRDE, sendo a maior parte destinada justamente ao agronegócio. Do restante, 29,62% ficaram em Santa Catarina e 26,29% no Rio Grande do Sul. Só as cooperativas paranaenses devem absorver R$ 100 milhões em projetos aprovados em 2014 com liberação prevista para este ano.
Atualmente, qual o principal destino dos financiamentos do BRDE?
O agronegócio continua sendo a área que mais absorve crédito do BRDE, com participação em torno de 35% da carteira. Na sequência vem o setor industrial, com 30%, e serviços, com 25%. No Paraná o agronegócio é o carro-chefe. Em geral, o perfil da economia dos três estados é mais ou menos equivalente. Para o BRDE é bom que haja equilíbrio. No Rio Grande do Sul, eles alegam concorrência com o Badesul, que é a agência de fomento, e com o Banrisul. No Paraná, há uma complementação de funções entre a agência de fomento e o BRDE. A agência atua com a concessão para micro, pequenas e médias empresas enquanto o BRDE atende empresas de maior porte.
Como o senhor avalia a perspectiva de crescimento do Brasil para 2015?
O empresário que procurar o BRDE não vai sair frustrado. O problema é a economia como um todo. Não adianta a empresa ter um bom projeto e crédito disponível se o entorno não está harmonizado. Vejo com bastante preocupação este cenário que está descortinando a nossa frente, principalmente porque não há qualquer possibilidade de melhorias no curto prazo.
Que balanço o senhor faz da sua gestão?
Deixo como a menina dos olhos uma proposta do ressurgimento da Sudesul, uma autarquia federal extinta no governo Collor e que tinha como função a organização e a viabilização de projetos de infraestrutura nos estados do Sul. A Sudam, Sedene e Sudeco funcionam. Fizemos uma conta de padeiro e, com o porcentual destinado à Sudesul, teríamos uma receita de cerca de R$ 8 bilhões por ano para aplicar em infraestrutura. O projeto foi engavetado e não tivemos mais notícias.
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