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O ministro Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego (MTE), desistiu de pedir demissão do cargo após ameaçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em outubro, de deixar o governo caso o pacote de corte de gastos atingisse a sua pasta.
A mudança de tom ocorreu nesta quarta (27) pouco antes do ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciar medidas que podem atingir diretamente o ministério de Marinho, como o reajuste do salário mínimo dentro da regra do arcabouço fiscal, e não mais pela inflação e aumento do PIB de dois anos anteriores.
“Eu disse que se não fosse envolvido, colocaria meu cargo à disposição. Mas fui envolvido. Participei de todo o debate. Será anunciado”, disse a jornalistas.
Em outubro, quando foi questionado sobre as medidas fiscais no MTE, Marinho afirmou que “se eu for agredido, é possível”. “Uma decisão sem minha participação em um tema meu é uma agressão”, emendou na época.
Ele foi um dos ministros que emperraram as negociações do pacote entre Haddad e Lula, além de outros da área social. Carlos Lupi, da Previdência, também chegou a ameaçar demissão, mas ainda não se pronunciou.
O pacote de corte de gastos foi anunciado na noite de quarta (27) e será detalhado na manhã desta quinta (28) por Haddad, Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil). Ainda há dúvidas de como as medidas serão efetivamente encaminhadas ao Congresso.
Também está previsto para esta quinta (28) uma reunião de Haddad com os líderes partidários do Senado para apresentar as propostas do pacote de corte de gastos e tentar convencer para encaminhar a tramitação. Durante a coletiva de imprensa, ele disse que já discutiu com os da Câmara.
O pacote vinha sendo cobrado fortemente pelo mercado financeiro e ficou emperrado especialmente nas últimas três semanas, com intensas negociações entre a Fazenda, o presidente Lula e ministros principalmente da área social, que chegaram a ameaçar demissão caso fossem atingidos.
Analistas do mercado financeiro apontam que o impacto das medidas dependerá fortemente da aprovação no Congresso e da firmeza do governo na implementação. Existe o risco de que as propostas sejam desidratadas durante as negociações legislativas, o que poderia gerar mais pressão sobre o mercado financeiro.
Outra avaliação é de que o mercado buscará sinais claros de comprometimento do governo com o ajuste fiscal. Medidas como a proibição de ampliação de benefícios tributários em caso de déficit primário foram vistas como positivas, mas não suficientes para recuperar a credibilidade de forma ampla.
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