Quase cinco anos após o fechamento da fábrica da Chrysler, a indústria automobilística volta a causar calafrios à economia de Campo Largo, município de 105 mil habitantes localizado na região metropolitana de Curitiba. Uma matéria publicada ontem no jornal The New York Times afirmou que a montadora chinesa Lifan está interessada em comprar a fábrica de motores Tritec Motors, instalada na cidade. O problema é que a idéia dos chineses não é investir na unidade para exportar. Eles querem empacotar as máquinas e equipamentos e transferi-los, peça a peça, para a cidade de Chongqing, no Oeste da China, onde fica a matriz da Lifan.
Se realmente ocorrer, essa viagem de 13 mil quilômetros deve custar o emprego, senão de todos, da maioria dos funcionários da Tritec são entre 460 e 500 trabalhadores, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (Simec). Seria o fim do projeto inaugurado em 1999, um dos principais da última onda de industrialização do Paraná.
A Tritec é uma joint-venture formada pelas montadoras DaimlerChrisler e BMW cada uma possui 50% do capital da empresa. Em nota, a companhia negou a possibilidade de transferência para a China. De acordo com o texto, as afirmações dos chineses são "inverídicas" e constituem um "posicionamento exclusivo, isolado e de total responsabilidade da empresa Lifan". A Tritec acrescentou que "não se pronunciará sobre manifestações de clientes ou terceiros que, supostamente interessados na empresa, pretendem causar turbulência ou agitação na mídia".
A Lifan é citada como cliente porque recentemente passou a equipar parte de seus veículos com os motores fabricados em Campo Largo. No ano passado, em visita à Tritec, os executivos chineses disseram ter a intenção de passar a produzir os motores na China. Isso irritou a administração da Tritec e instalou um clima de apreensão entre seus funcionários, de acordo com um deles, que pediu para não ser identificado.
Os chineses estão interessados nos motores 1.6 16 válvulas da Tritec porque, segundo o texto do The New York Times, eles estão entre os mais sofisticados e econômicos do mundo. Só que fabricar os equipamentos na própria China é mais barato do que importar, a começar pelo baixo custo da mão-de-obra no país asiático. "A indústria automobilística chinesa tem uma fome por tecnologia insaciável. Eles precisam de qualidade, de processos, de conhecimento", comenta Corrado Capellano, diretor da consultoria Roland Berger. "A fábrica da Tritec é extremamente moderna e competitiva, assim como seu produto. É natural o interesse dos chineses, mas há formas mais eficientes para eles terem acesso à tecnologia do que simplesmente comprar a planta."
Consultada pela reportagem, a DaimlerChrysler do Brasil informou que não comentaria o assunto. Por meio de sua assessoria de imprensa, a BMW informou que ela e a sócia estão analisando as várias opções que têm em relação ao futuro da fábrica, mas que ainda é muito cedo para qualquer definição.