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Montadoras apostam em 2010 como o melhor ano da indústria automobilística

A expectativa da indústria automobilística nacional para o início de 2010 nada se parece com o que foi visto durante os três primeiros meses de 2009.

Sem a ameaça de demissões, previsão de PDVs (Programa de Demissão Voluntária) para reajuste de produção ou suspensão de trabalhadores, as fabricantes de veículos estão em ritmo acelerado para atender à forte demanda de carros esperada para o próximo ano.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 2010 será o melhor ano da história do setor no país, com crescimento de 9,3% nas vendas, o que corresponde ao volume de 3,4 milhões de unidades. A dimensão do mercado é representada pelo grau dos investimentos anunciados nos últimos meses, que somam R$ 16,2 bilhões — montante que subirá com o novo ciclo de investimentos que será anunciado pela Fiat no ano que vem.

A maior parte dos investimentos vem da Volkswagen, R$ 6,2 bilhões. A montadora quer atingir a liderança do mercado brasileiro, título mantido consecutivamente pela Fiat desde 2005. A vantagem que a Volkswagen leva está no trabalho feito em 2009. A montadora cresceu em participação de mercado, porque, quando a crise econômica atingiu o setor, decidiu não colocar o pé no freio. Pelo contrário, chegou até a fazer contratações entre janeiro e fevereiro. Quando o mercado retomou, a Volks tinha produtos à disposição dos clientes e isso fez com que suas vendas subissem.

Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), até novembro a Volkswagen tinha 22,94% do mercado de automóveis e comerciais leves (picapes, utilitários etc).

Já a Fiat lidera com 24,56%. Porém, a Volks encabeça o segmento de automóveis, com 25,46% do mercado, contra 25,05% da italiana. Como a Fiat ainda mantém a liderança pelo volume que vende no segmento de comerciais leves, a marca alemã passou a investir mais em picapes e lançou a nova Saveiro. Para janeiro de 2010, a montadora reserva a nova picape média da marca, a Amarok. Com a investida, a briga ficará mais acirrada.

O presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini, reconhece que a disputa ficará cada vez mais forte neste segmento. "É natural que cada companhia procure investir no segmento onde possa ter mais oportunidades e nós acreditamos que o mercado de comerciais leves tende a crescer bastante no Brasil", disse Belini em recente entrevista ao G1.

A primeira resposta da Fiat nessa disputa foi o lançamento da picape Strada Cabine Dupla. Os emplacamentos de todas as versões do modelo somaram até novembro 80,9 mil unidades, o triplo da Saveiro, com 26,4 mil unidades.

O presidente da Fiat afirma que se não fosse a redução da produção no início do ano, as vendas teriam sido maiores. No entanto, ele ressalta que ninguém imaginava um mercado tão forte para 2009. Em janeiro deste ano, a Fiat chegou a demitir 503 funcionários e deu férias coletivas a 800 trabalhadores. Agora, após período de contratações, a montadora pede aos fornecedores que aumentem a produção para atender o mercado de mais de 3 milhões de veículos no próximo ano. A Fiat reserva a maior parte dos R$ 1,8 bilhão que restam do último ciclo de investimentos no país para o lançamento de 20 produtos.

Outra montadora prejudicada pelo recuo diante da crise foi a General Motors. Ela fechará o ano com o maior volume já vendido em toda sua história no país, mas o resultado poderia estar acima das 541,7 mil unidades registradas até novembro. A montadora usou do recurso das férias coletivas para diminuir o ritmo produtivo e não renovou o contrato de mais de 1,6 mil funcionários temporários. Além disso, chegou a colocar licença remunerada para 900 trabalhadores e desativou o terceiro turno da fábrica de São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Passado o susto da crise, a montadora reajustou a produção e se prepara para atingir a marca de 1 milhão de carros vendidos em 2012, segundo o presidente da montadora para o Brasil e Mercosul, Jaime Ardila. Até lá, a empresa investirá R$ 5 bilhões e renovará toda a linha de produtos, sendo que muitos dos lançamentos serão apresentados no ano que vem. A GM tem 19,83% de fatia do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves.

A Ford aderiu ao PDV e às férias coletivas para conseguir diminuir a produção, especialmente pela queda de volume das exportações. Entre os dias 19 de fevereiro e 16 de março, a montadora chegou a dar férias para 800 empregados de São Bernardo do Campo. Mesmo assim, a Ford conseguiu reajustar rapidamente a produção quando o mercado reagiu e viu as vendas subirem 14% até novembro. Dessa forma, ganhou meio ponto percentual de market share e chegou à participação de mercado de 10,07%.

"Ganhar meio ponto de market share na indústria automobilística é muito difícil, é uma briga dura", comemora o presidente da Ford do Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira. A partir de 2010, a montadora reserva um megaplano de lançamentos, o que justifica o anúncio de R$ 4 bilhões em investimentos.

Ao contrário da Ford, a Renault perdeu participação de mercado por causa dos reajustes de produção no início do ano. A montadora francesa cedeu a quinta colocação para a Honda, mas acredita que com a volta do ritmo produtivo a posição será reconquistada. No início do ano, a companhia chegou a suspender 1 mil funcionários, que frequentaram cursos de requalificação. Dessa forma, ela evitou demissões.

"Durante os primeiros três meses faltou produto. Mas na segunda parte do ano, tudo voltou ao normal e tivemos forte crescimento. Então, por causa do início do ano perdemos participação de mercado", explicou ao G1 o presidente da Renault do Brasil e Mercosul, Jean-Michel Jalinier. O objetivo da Renault para 2010 é atingir 5% de participação de mercado, sendo que a atual é de 3,9%.

Também em janeiro, a PSA Peugeot Citroën deu férias coletivas para 2,6 mil funcionários no complexo de Porto Real (RJ). O presidente do grupo PSA no Brasil e na América Latina, Vincent Rambaud, reconheceu que o grupo perdeu participação de mercado devido ao descompasso entre produção e demanda. Segundo ele, a matriz não esperava que o governo brasileiro agisse de forma tão rápida com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e que o mercado superasse o patamar de vendas observado de janeiro a setembro de 2008 (período pré-crise).

Em julho, a produção recuperou o fôlego e o grupo PSA inaugurou a fábrica de usinagem de motores em Porto Real. A unidade tem capacidade para produzir 100 mil blocos de ferro e 80 mil cabeçotes de alumínio por ano para motores 1,6 litros bicombustível e a gasolina.

O investimento foca o ano que vem. "2010 será muito forte em lançamentos para o grupo no Brasil e na Argentina", disse Rambaud, durante a cerimônia de inauguração da fábrica. No país, os esforços da PSA vão se concentrar, principalmente, no fortalecimento da marca Peugeot. Atualmente, a Peugeot tem 2,74% de participação de mercado e a Citroën, 2,31%.

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