De longe, a Daslu lembra um recanto classicista em meio à contemporaneidade nervosa paulistana. Olhando mais de perto, o sonho ganha ares de realismo brutal. As colunas imponentes parecem ter sido talhadas às pressas para atender aos anseios consumistas, como num paraíso mal-acabado. Um monumento de plástico. Tão fake quanto as colunas e as estátuas que imitam aquelas do Velho Mundo. Até ponto de ônibus pára na porta. E de lá saltam as mocinhas que distribuem sorrisos e gentilezas numa das muitas alas da loja. Os outros vêm de importado. Ou de helicóptero.
Deixados para trás o mundo real e o paredão de seguranças, que deixa bem claro quem é que entra pela porta da frente e quem é que fica do lado de fora, o sonho se incrementa com os vestidos Chanel que parecem dançar sozinhos no manequim. Vestidos, aliás, que só convidam para a contra-dança quem tiver muito dinheiro. O mesmo acontece com os modelitos Armani, Dolce & Gabbana, Dior e outros tantos que pululam os desejos profundos da alma consumista.
Logo acima, o andar em que as mulheres podem andar até peladas à procura da roupa ideal todas separadas por cor em milhares de prateleiras, organizadas em salinhas distintas e seqüenciadas. Ali, homem não entra. Mas pode ficar na ante-sala, tomando um cafezinho ou experimentando alguma delícia de nome francês. Muito bem cobrados, aliás.
Se não quiserem ficar refestelados numa das chaise de pele de onça, eles podem enveredar pelos corredores cheios de cuecas Calvin Klein, ternos Ermenegildo Zegna, ou gravatas de todas as grifes imagináveis dispostas lado a lado. Ou dar uma olhada no setor de decoração, que traz roupas de cama em linho, cristais mil e velas esculpidas prometendo noites românticas. Quem sabe almoçar num restaurante de cardápio internacional?
Para quem sai de lá sem sacolas nas mãos, fica a lembrança do brasão impresso a cada centímetro de carpete e não se trata de nenhum brasão quatrocentão e o consolo de que é mais autêntico ver tudo isso numa vitrine de uma rua em Paris...
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