Morreu na noite deste domingo (24), em São Paulo, aos 86 anos, o empresário e presidente de honra do Grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes. Em nota oficial, o Grupo Votorantim comunicou que ele faleceu em casa, por insuficiência cardíaca.
Antônio Ermírio era engenheiro metalúrgico formado pela Colorado School of Mines (EUA) e iniciou sua carreira no Grupo em 1949. Foi o responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, inaugurada em 1955. Deixa a esposa, Maria Regina Costa de Moraes, e nove filhos.
O corpo do empresário será velado a partir das 9 horas desta segunda-feira (25), no Salão Nobre do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e o cortejo sairá às 16h rumo ao Cemitério do Morumbi, onde o corpo será enterrado.
Império
Antônio Ermírio de Moraes, que morreu na noite deste domingo (24) aos 86 anos, construiu um dos maiores impérios econômicos do país e foi uma liderança empresarial ímpar em mais de 50 anos de história brasileira. Sem receio de gerar desafetos, criticou a ditadura militar e a atuação de multinacionais.
Na redemocratização, viu frustrada sua tentativa de governar São Paulo. Na privatização dos anos 1990, perdeu a disputa pela Vale do Rio Doce, porém se orgulhava em dizer que "saiu limpo" do processo. Investiu em saúde e virou dramaturgo.
Atacou os bancos, mas acabou se tornando banqueiro. Chegou a ser o homem mais rico da América Latina, contudo tinha ojeriza à ostentação. Vestia ternos simples e não se preocupava com o ajuste das gravatas. Passou quase toda a vida sem guarda-costas. Considerava a elite local muito egoísta.Foi em 1962 que Ermírio assumiu o controle do grupo Votorantim. A história empresarial da família tinha começado com o avô, um imigrante português que chegou ao Brasil com 13 anos tendo só feito alguns anos do ensino primário.
Carreira
Instalou uma banca de sapatos (depois teria uma fábrica de tecidos) em Sorocaba, no interior de São Paulo. Na região, no início do século 20, também nascia o império do imigrante Matarazzo, que chegou deter o maior complexo industrial da América do Sul. Ao contrário dos Matarazzo, os Ermírio de Moraes não sucumbiram às mudanças da economia.
O pai de Antônio, José, foi senador por Pernambuco e ministro da Agricultura do governo João Goulart em 1963. Formou-se em engenharia metalúrgica na Colorado Scholl of Mines, nos Estados Unidos.
Antônio foi fazer o mesmo curso lá. Vivia numa pensão e, para economizar, comia muitos sanduíches. Para comemorar a melhor nota da turma, tomou uísque pela primeira vez. Foi parar no hospital e ficou sabendo que tinha só um rim. Nunca mais bebeu.
À frente da companhia, percorreu o interior do país buscando jazidas de níquel e de cobre. Nessa toada, ficou uma semana nas entranhas do Piauí comendo exclusivamente frutas do agreste.
Quando o grupo já se estendia por 17 Estados pelas áreas de cimento, aço, tecidos e papel, Antônio Ermírio passou a se destacar como líder empresarial. Ao receber uma premiação em 1977, em plena ditadura, declarou não acreditar no "milagre econômico" e disse nunca ter lido os planos de desenvolvimento dos militares.
Num discurso para seus pares, conclamou os empresários a resistir contra o avanço do capital externo: "Estabeleçam-se, lutem com honestidade e não pensem na chamada economia de escala. E, quando alguma multinacional os procurar, resistam".Em entrevista no mesmo ano, Ermírio disse que as empresas estrangeiras não passavam de parasitas: "Se aproveitam de todas as facilidades que o governo brasileiro oferece, de mão de obra barata que encontram aqui, sugam o que podem e nada fica no Brasil. Acho que Kurt Mirow colocou muito bem a questão em seu livro 'A Ditadura dos Cartéis'".
Para Ermírio, o Brasil estava "entregando ouro aos bandidos". Criticava o aumento da dependência econômica e empresários que queriam ficar ricos e não se incomodavam em "serem usados pelas multinacionais".Naquela época, a ditadura começava a se ver pressionada. O Congresso tinha sido fechado, e os militares tentavam sufocar protestos. As fissuras no poder se tornavam mais claras.