Sergio Marchionne, ex-presidente da Fiat Chrysler e o arquiteto da reviravolta dramática da montadora em meados dos anos 2000, morreu. Ele tinha 66 anos.
Sua morte foi confirmada na quarta-feira pela Exor, holding da família Agnelli, fundadora da Fiat, poucos dias depois de Marchionne ser substituído como CEO. Seu estado de saúde piorou subitamente após complicações de uma cirurgia no ombro.
Escolhido como CEO da Fiat SpA em junho de 2004, Marchionne levou a fabricante italiano da beira da falência à Bolsa de Valores de Nova York, onde tocou o sino em 13 de outubro de 2014 para marcar a estreia da Fiat Chrysler Automobiles, a empresa londrina criada quando a Fiat comprou a montadora de Detroit.
Marchionne, que se descrevia como um empreendedor corporativo, foi o quinto CEO da Fiat em menos de dois anos quando assumiu o cargo. Ele substituiu Giuseppe Morchio, que pediu demissão depois que a bilionária família Agnelli se recusou a lhe dar o cargo de presidente e CEO quando o então presidente, Umberto Agnelli, morreu de câncer.
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Marchionne recebeu uma montadora que perdeu mais de € 6 bilhões (R$ 26 bilhões) em 2003. Em 2005, ele devolveu a empresa ao lucro graças a US$ 2 bilhões de uma aliança com a General Motors, a demissão de milhares de trabalhadores, introdução de novos modelos e a redução do tempo necessário para colocar um novo carro no mercado para apenas 18 meses — antes, levava quatro anos.
Em 2009, o governo Obama anunciou que a Fiat assumiria o controle da Chrysler, resgatando a empresa americana da falência.
“Eu não me importo com o quão difícil ele é para trabalhar. Ele salvou nossa empresa”, disse Cass Burch, um revendedor da Chrysler e da Jeep na Geórgia. “Ele merece uma estátua de bronze.”
O acordo deu a Marchionne “um enorme senso de responsabilidade”, disse ele em uma entrevista em 2011. Seu escritório, no quarto andar da sede da Fiat em Turim, era adornado com um pôster em preto-e-branco da palavra “competição” e uma estampa de Picasso com o lema “Todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição”.
Durante seu mandato na Fiat, Marchionne aumentou o valor da empresa em mais de 10 vezes, reestruturando o negócio de automóveis e separando ativos. Entre os maiores spinoffs está a listagem fabricante de supercarros Ferrari em 2005, onde Marchionne também atuou como CEO e presidente.
A maneira direta de Marchionne e o comportamento desalinhado — ele raramente era visto usando qualquer coisa além de jeans e um pulôver preto — o faziam se destacar em uma Itália formal. Ele sabia como se mover rápido e gostava de dirigir sua meia dúzia de Ferraris. “Quando você está chateado, não há nada melhor do que isso”, disse ele, pisando no acelerador da sua Ferrari Enzo preta na pista de testes da empresa, em 2014, levando o carro de confortáveis 193 km/h para algo acima dos 320 km/h.
Movido por uma dúzia de espressos por dia e maços de cigarro Muratti, ele entrou na Fiat e demitiu a maior parte da alta gerência; depois, fez o mesmo na Chrysler em 2009, colocando uma dúzia de recém-chegados em seu segundo dia. Ele também sabia que a velocidade pode ser perigosa. Em 2007, Marchionne destruiu uma Ferrari de US$ 350 mil em uma rodovia na Suíça. “No negócio de carros, às vezes você bate”, disse ele. Mesmo assim, ao receber críticas de políticos e sindicatos por reduzir o número de empregos e cortar custos, Marchionne argumentou que mudanças lentas poderiam ser ainda mais arriscadas. Quando ele assumiu a Fiat e a Chrysler, sempre sustentou, as empresas precisavam de mudanças radicais para sobreviver.
O acordo com a Chrysler foi parte de uma longa campanha que Marchionne havia empreendido para estimular a consolidação na indústria automobilística, que ele afirmava ter espaço suficiente para todos os players sobreviverem. Para esse fim, ele fez campanhas públicas para uma fusão com a General Motors em 2015, mas foi rejeitado pela montadora norte-americana.
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Marchionne tinha planejado deixar a Fiat em 2019, mas com sua saúde se deteriorando, em 21 de julho ele foi substituído como CEO da Fiat Chrysler por Mike Manley, chefe das marcas Jeep e Ram. Louis C. Camilleri assumiu a Ferrari, e Suzanne Heywood sucedeu Marchionne como presidente da fabricante de caminhões e equipamentos agrícolas CNH Industrial.
Marchionne nasceu em 17 de junho de 1952, em Chieti, uma cidade no topo de uma colina perto do mar Adriático, na área central da Itália. Seu pai era policial e, quando Marchionne tinha 14 anos, a família se mudou para Toronto. Contador e advogado com dupla cidadania canadense e italiana, Marchionne iniciou sua carreira no Canadá na Deloitte & Touche, passando depois para a fabricante de embalagens Lawson Group. Em 1994, Marchionne se juntou ao Alusuisse Lonza Group depois que a empresa química e farmacêutica suíça adquiriu a Lawson.
Três anos depois, como CEO da Alusuisse, ele desmembrou o negócio de medicamentos para criar o Lonza Group, onde triplicou o lucro em três anos. Mais tarde, ele consolidou sua reputação como especialista em recuperação na SGS, uma empresa de testes de produtos com sede em Genebra, na época controlada pela família Agnelli.
Marchionne e sua ex-esposa, Orlandina, tiveram dois filhos, Alessio e Jonathan. Sua atual parceira, Manuela Battezzato, trabalha na assessoria de imprensa da Fiat Chrysler.