Maltratado, irrelevante e esquecido nos últimos. Dezenove anos depois de uma estreia estarrecedora nos fliperamas, a série Mortal Kombat volta à velha forma buscando reafirmar sua participação fundamental nas histórias dos jogos eletrônicos. A série foi a principal concorrente da unanimidade da época, Street Fighter 2, que impôs por anos as regras de sucesso para games de luta. A diferença mais visível eram os personagens digitalizados (fotos de atores), enquanto os concorrentes eram desenhados.
Quem frequentava os fliperamas nos idos de 1992 provavelmente sentiu o choque quando a máquina da Midway apareceu. Além dos personagens quase reais, a violência era paradigmática. Cabeças eram arrancadas, arpões perfuravam corpos e o sangue jorrava em todos os cantos da tela. Havia também um clima de perversidade. Pela primeira vez os jogadores poderiam terminar as lutas com golpes especialmente desenvolvidos para aniquilar brutalmente o inimigo, eram os "fatalities", até hoje um dos "memes" mais usados na cultura pop. Após um nocaute, os jogadores era instigados a fazer uma série de comandos para que o personagem vencedor destruísse com o que restava do derrotado. Em um dos falatities" mais conhecidos, a vítima era queimada e tinha a pele removida, expondo os ossos carbonizados. Os outros não eram menos cruéis, como arrancar a cabeça do corpo com as próprias mãos.
Os gráficos mais realistas, que lembravam o não tão bem-sucedido, ainda assim divertidíssimo, Pit-Fighter (quem lembra?), amplificavam a sensação de violência. Foi o suficiente para cair no gosto da garotada. Ganhou versões para os videogames um ano depois. Fez mais sucesso ainda, ao ponto de virar o ponto central sobre a criação de um sistema de classificação por faixa etária no mercado americano. Mortal Kombat não poderia ser vendido para qualquer um, definitivamente. Teve bons momentos na década de 90. A entrada no mundo em terceira dimensão, no final da década, levou a série a enfrentar um período prolongado de falta de inspiração. Isso até abril de 2011, quando chegou às lojas Mortal Kombat, simples assim, disponível para Playstation 3 e Xbox 360.
A indústria mudou completamente desde a primeira versão. Os desenvolvedores acharam por bem ir buscar nas origens a inspiração para retomar o sucesso. O principal concorrente, Street Fighter, também se recriou e está mais popular como nunca. Destacar-se no mercado acabou tornando uma das tarefas mais difíceis.
Com o desenvolvimento tecnológico, o patamar de gráfico ficou muito alto. E todos esperam, no mínimo, um bom acabamento com texturas em alta resolução.
O pessoal da Netherrealm Studios fez o trabalho de casa e usou a popular Unreal Engine para ir um pouco mais longe, com detalhes que enobrecem o título, como roupas que rasgam, danos físicos nos personagens e cenários super detalhados. Apesar de ser modelado em 3D, o estilo voltou à boa e velha movimentação bidimensional. O melhor, entretanto, está na escalação dos lutadores: Scorpion, Raiden, Kano e Sub-zero voltam à ativa. Para quem comprar a versão para PS3 levará um personagem bônus, o semi deus Kratos, protagonista da God of War.
A jogabilidade não ousa, o que é bom. De diferente das versões anteriores, houve a inclusão de uma segunda barra de energia que permite melhorar os golpes culminando no raio-X, que permite ver por dentro a destruição causada nos adversários. Foi acrescentado também a possibilidade de lutar em duplas, alternando os personagens durante uma partida, ideia emprestada de Marvel vs. Capcom. Mortal Kombat agora permite disputas on-line. Destaca-se da concorrência nesta área por trazer o sistema King of the Hill, que permite que os jogadores assistam outras partidas enquanto esperar sua vez. A possibilidade de jogar com óculos 3D, em televisões compatíveis, fica como brinde.
Mortal Kombat era o título necessário para mostrar a franquia para a atual geração de jogadores. Ficou um pouco menos explícito ao abandonar os "sprites" digitalizados para usar modelos virtuais. De qualquer forma, há ainda muito sangue jorrando na tela e finalizações brutais, o suficiente para ser classificado como inapropriado para menores de 17 anos.
Classificação justa, em todos os sentidos.