Em meio à abundante chuva de dólares que alimenta generosamente os altíssimos preços do petróleo, Moscou se transformou na cidade dos sonhos para a maioria dos russos e em um susto para os residentes estrangeiros, por ostentar a triste posição de cidade mais cara do mundo.
- Para os moscovitas isso pode ser surpreendente, mas devem levar em conta que nós analisamos as despesas mínimas de um estrangeiro - afirmou Anna Krotova, analista da Mercer Human Resource Consulting, que acaba de considerar Moscou a cidade mais cara do mundo, à frente de metrópoles como Londres ou Tóquio.
A consultoria avalia periodicamente o custo de vida em 144 cidades do mundo, serviço oferecido para empresas internacionais calcularem as remunerações e os reembolsos dos funcionários que vivem fora.
A Mercer inclui mais de 200 itens considerados imprescindíveis no cotidiano de pessoas assim, como uma xícara de café (US$ 5,62 na capital russa) e um jornal estrangeiro (US$ 10 a US$ 12), entre outros itens pouco usuais no consumo de um russo.
No entanto, a principal diferença entre o custo de vida em Moscou para um moscovita e um estrangeiro está no preço de uma casa.
"Alugo apartamento de dois quartos a estrangeiros por US$ 6 mil ao mês", diz um anúncio típico em um jornal moscovita.
O valor do aluguel pode aumentar até cinco vezes se o apartamento tiver mais de cem metros e mais de dois dormitórios, ou se estiver situado no centro da cidade.
Vários moscovitas podem desfrutar de uma vida folgada, inclusive em outros países, apenas com o aluguel dos seus imóveis em Moscou.
Os aluguéis disparam ainda mais com a alta dos preços das habitações, que oscilam entre os US$ 5 mil e US$ 35 mil por metro quadrado.
Apenas nos últimos quatro meses, houve um aumento de 70%, mesmo com o crescimento do mercado imobiliário na cidade, que teve mais de três milhões de metros quadrados residenciais construídos entre 2005 e 2006.
Os principais compradores, segundo os moscovitas, são os siberianos, que chegam a Moscou impregnados de gás e petróleo, mas com os bolsos cheios de dinheiro em busca de uma casa para passar a velhice.
- Não há na Rússia uma pessoa que não queira viver em Moscou. Enquanto for assim, a capital sempre será cara - disse um funcionário da Prefeitura, que considera a qualidade de serviços da metrópole bastante superior ao restante do país.
No entanto, nesse quesito, a Mercer coloca Moscou no 173º lugar do mundo em qualidade de vida, e, de acordo com um estudo recente da Reader's Digest, a capital russa divide com Bucareste (Romênia) o título de "cidade mais hostil" ao estrangeiros.
Mas, segundo o mesmo funcionário municipal, os altos preços da moradia são "a única barreira possível perante uma avalanche de imigrantes".
"O glamour de Nova York com luxo oriental", com sua impressionante vida noturna, seus deslumbrantes restaurantes e lojas, entre outros atrativos, encanta todo o resto do país.
E esse fascínio ocorre principalmente em lugares onde a vida, apesar da passagem dos anos, lembra mais a extinta URSS que o dia-a-dia frenético de sua dourada capital, onde, para um russo do interior, é um lugar de "milionários".
Em Moscou, efetivamente, não faltam milionários, que são mais de 250 mil segundo algumas fontes, 25 mil deles com fortunas de nove zeros em dólares.
- O dinheiro se concentra nas mãos de poucos, e os preços se ajustam ao poder aquisitivo de 5% da população - disse Mikhail Deliaguin, diretor do Instituto para os Problemas da Globalização.
Em Moscou, mesmo o trabalhador médio ganha 19 mil rublos (US$ 700) por mês, quase 10 vezes a mais que a média nacional, o que atrai milhares de pessoas de todas as partes da Rússia e de outras antigas repúblicas soviéticas.
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