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Comportamento

Motivação diminui índice de faltas

Dois fantasmas rondam os departamentos de recursos humanos das empresas. O primeiro é a falta de comprometimento de funcionários de cargos de nível básico. Alguns esperam apenas completar seis meses na função para provocar uma demissão e desfrutar do seguro-desemprego. O outro são os atestados médicos falsos. Os dois problemas envolvem perda de produtividade devido a faltas, na opinião do gerente geral do hotel Bristol Brasil 500, Danton Lima.

Quando entrou para a rede, há um ano e meio, ele encontrou um quadro em que a cada dia faltava um funcionário. Hoje, Lima quase zerou o índice de absenteísmo, mas foi preciso ir longe – a ponto de substituir praticamente todo o quadro de 35 empregados. "Percebi o tamanho do problema quando ouvi comentários do tipo 'dá para faltar porque não acontece nada'", lembra.

Num ramo em que o cliente pode pedir um sanduíche no quarto a qualquer momento do dia ou da noite, ter uma pessoa a menos no quadro de funcionários é uma dificuldade. O problema era mais grave entre as camareiras, a maioria com filhos. "A pessoa ia a uma consulta de duas horas e faltava o resto do dia."

Foi preciso endurecer o tratamento e chamar uma psicóloga, que trabalhou a auto-estima do quadro funcional. "Hoje existe a política de reciprocidade. Eles se comprometem totalmente e eu tenho a sensibilidade para saber a hora de liberar alguém que está caindo de gripe", diz Lima. "Se precisar demitir, ninguém vai embora sem conversar muito sobre o problema antes."

A governanta do hotel, Elisete de Paula, que coordena um grupo de 12 camareiras, confirma. "A empresa passou a nos valorizar. Agora temos coquetel uma vez por mês", conta. Se antes era comum ter uma falta por dia, hoje o índice é de uma por quinzena.

Foco do problema

A gerente de assessoria em RH da KPMG, Andréa Barcellos Gauté, concorda que são os cargos básicos que geram mais faltas – razão pela qual os maiores problemas estão nas centrais de telemarketing e no chamado "chão de fábrica". "No nível operacional estão pessoas jovens em seu primeiro emprego, nem sempre comprometidas", justifica.

Para garantir o empenho integral do funcionário, a América Latina Logística (ALL), que tem sede em Curitiba, trabalha com metas de produtividade e remuneração variável de acordo com o mérito. No fim do ano, o funcionário que registrou faltas não recebe o mesmo do que aquele que se apresentou todos os dias. A coordenadora de relações de trabalho da empresa, Michele de Macedo, conta que o resultado é um baixo índice de absenteísmo entre os 5 mil colaboradores. "Por outro lado, existe uma grande flexibilidade de horários. A pessoa pode ir ao médico e chegar mais tarde ao trabalho, ou sair mais cedo."

Essa lição a ex-colaboradora da ALL, Cintia Ferreira, aprendeu bem e levou para o grupo Manuli Fitasa, fabricante de filme adesivo do qual é coordenadora de Recursos Humanos. Após detectar altos índices de absenteísmo relacionados à falta de motivação, a empresa decidiu buscar um maior comprometimento entre os funcionários. "Queremos aprimorar a comunicação de forma a levar o colaborador a compartilhar os objetivos da empresa e se sentir dono do seu trabalho", diz. Mas, como esse é um longo caminho, foi necessário primeiro apagar o incêndio para baixar o índice de faltas.

A solução paliativa foi aumentar o rigor no momento de apresentação de atestados médicos. "Simplesmente aplicamos aquilo que a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] estabelece: o médico da empresa analisa o atestado para verificar se ele traz o código internacional da doença e o registro do profissional", diz. "Para evitar faltas em massa no inverno, vacinamos todo mundo e organizamos palestras sobre saúde", acrescenta.

Na ALL, foram incluídas também outras iniciativas, como o investimento em saúde ocupacional dentro das unidades, o check-up de executivos, exames periódicos e acompanhamento quando os atestados se tornam freqüentes. "Nesse caso o funcionário é chamado, mas não para checar a veracidade dos atestados, e sim para acompanhar sua saúde", explica Michele, coordenadora de RH.

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