40% foi a queda nas vendas para a Argentina de móveis fabricados no Rio Grande do Sul, de onde saem 30% dos móveis brasileiros exportados, segundo o presidente do Sindmóveis, Henrique Tecchio. Aos poucos, a indústria moveleira brasileira vem desistindo de exportar para a Argentina depois das medidas protecionistas tomadas pela presidente Cristina Kirchner. Desde então, as relações com países como Cuba, África do Sul e outras países sul-americanos, como Colômbia e Bolívia, tiveram de ser abertas ou estreitadas.
Fora a preocupação com o freio no consumo das famílias e a perda do mercado argentino, a indústria moveleira nacional também precisa aprender a lidar com a concorrência chinesa. De 2009 a 2013, a importação de móveis da China foi crescente. O valor aumentou 177% até chegar perto de US$ 56 milhões no ano passado. O dólar alto segurou as importações em 2013, mas não o suficiente para reverter a expansão dessa demanda nos últimos cinco anos.
Veja o crescimento de importações de móveis da China
Em quantidade, os chineses estão vendendo principalmente móveis de metal e de plástico para varejistas brasileiros. A soma das compras de móveis de madeira, porém, está cada ano mais agressiva. Em 2013, foi a segunda mais expressiva mais de US$ 6,5 milhões, sem contar peças para quarto e cozinha. As peças mais comuns são racks e pequenas estantes.
"O móvel brasileiro ganha em qualidade. Mas está começando a vir coisa boa de lá", reconhece Henrique Tecchio, presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), que representa o maior polo moveleiro do país. A entidade promove até sexta-feira, na serra gaúcha, uma feira de negócios com foco especial em parceiros internacionais, a Movelsul Brasil.
A competição com os chineses, já conhecida da indústria do Rio Grande do Sul, de vocação exportadora, deixa a paranaense de sobreaviso. Voltadas para o mercado doméstico, as fábricas paranaenses (com polo em Arapongas, o segundo do Brasil), tiraram as vendas do vermelho em 2013, após um baque no ano anterior os dados são da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Por outro lado, o governo federal ainda não decidiu se continuará a aumentar a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor a partir de julho. Alvo de redução desde 2011, como forma de incentivar o consumo, a alíquota voltou a subir em janeiro, de 3,5% para 4%.
Inovação
Segundo Emerson Langner, gerente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Paraná (Simov), a solução não é fácil. Isso porque medidas protecionistas precisam ser ponderadas em um setor que também carece de fornecedores de componentes como ferragens e acessórios. "É preciso evitar uma invasão estrangeira, mas qualquer restrição de importação pode fazer com que a indústria deixe de atender o mercado interno", diz. Para Roberto Zurcher, economista da Fiep, a indústria paranaense tem a vantagem de ter boa parte da cadeia produtiva no estado, o que diminui os gastos. Precisa, porém, melhorar a capacidade de produção e reduzir custos.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) deve entregar no segundo semestre a ampliação do centro de inovação tecnológica de madeira e mobiliário em Arapongas. O instituto é um dos sete que serão criados com um pacote de R$ 200 milhões em investimentos.
Planejados são alternativa para resistir à concorrência asiática
O nicho de móveis planejados tem se mostrado uma boa saída para a indústria brasileira enfrentar a da China. Dois fatores impedem que os chineses ameacem esse mercado específico: a logística e o modelo de negócio, em que a prestação de serviço (desenho e montagem) são o principal produto. Indústrias tradicionais, como as gaúchas Todeschini e Unicasa, já inauguraram empresas voltadas apenas para o segmento e têm buscado diversificar as linhas para atender especialmente a classe C.
No Paraná, o setor também cresce. A estimativa do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Paraná (Simov) é que, apenas na Região Metropolitana de Curitiba, cerca de 3 mil empresas ou marceneiros autônomos se dediquem a fazer móveis planejados, em especial depois do boom da construção civil dos últimos anos.
As indústrias paranaenses têm adotado a variação, ainda que de forma mais lenta. As empresas ainda avaliam formas de a diversificação não atrapalhar a gestão no todo. "O segmento de móveis planejados é muito diferente da indústria tradicional", diz Emerson Langner, do Simov, que representa 2,3 mil empresas.
Mudança fabril
Ele lembra que a venda de serviços agregada aos planejados pede maquinário, estoque e administração diferentes; em outras palavras, investimentos. "No Paraná existe principalmente a migração dos serviços de móveis sob medida para os planejados, mas o processo ainda está em transformação".
A repórter viajou a convite do Sindmóveis.
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