Com 34 mil unidades, o Brasil é o segundo país no mundo em número de academias, atrás apenas dos Estados Unidos, que contabiliza 39 mil endereços para malhação. Diferente dos americanos, os brasileiros gozam de mais espaço para treinar, não enfrentam fila para usar os equipamentos e recebem maior atenção dos treinadores.
Pelo menos é o que parece, a julgar pelos números. No Brasil são 9,6 milhões de clientes, o que representam 4,6% da população; nos Estados Unidos são 62 milhões de clientes (20,8% da população) e na Suécia - que lidera o ranking - a taxa atinge 21,6%.
Ou seja, no Brasil há muitas academias para poucos clientes, na comparação com os outros países. Enquanto uma academia brasileira atende em média 300 pessoas, uma "gym" americana é frequentada em média por 1600 clientes. Para cada brasileiro inscritos numa academia há cinco americanos.
Os dados são da IHRSA (International Health Raquet and Sportsclub Association), associação americana que todo ano faz o mapeamento mundial do setor, e se referem ao ano passado.
Entre os fatores para o baixo índice de praticantes na população brasileira estão a baixa renda média, o fato de 45 milhões de pessoas serem desbancarizadas – o que dificulta a contratação de planos mensais ou anuais - e um aspecto cultural que prefere o treino ao ar livre no estilo "faça você mesmo", ou seja, sem supervisão de um especialista.
Embora as redes sociais passem a imagem de uma sociedade cada vez mais preocupada com a aparência e o bem-estar físico, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que desde 2002, a taxa de sedentarismo no Brasil cresceu mais de 15% . Atualmente 47% dos brasileiros não se exercitam o suficiente.
Apesar desse contexto, Edgard Corona, fundador e presidente da Smart Fit, a maior academia do Brasil, calcula que há espaço para expansão. “Acreditamos que podemos elevar isso [índice de praticantes] para algo em torno de 6% a 7%”, afirma.
“A estratégia da Smart Fit é continuar crescendo em regiões ainda não atendidas, servindo mais clientes que não têm condição de frequentar uma academia de qualidade”, explica o executivo.
O mercado brasileiro vale hoje US$ 2,1 bilhões e apesar de ter dobrado de tamanho em menos de uma década, a diferença com os Estados Unidos é enorme: por lá as "gyms" faturam anualmente US$ 32 bilhões, 15 vezes mais.
Em nível global, o mercado fitness movimentou US$ 94 bilhões em 2018 e atendeu 183 milhões de pessoas em 210 mil academias e clubes de treino.
Pequenas ameaçadas
“Em termos macro o cenário é de crescimento, mas o mercado brasileiro ainda está se consolidando”, avalia Luis Amoroso, consultor especializado no setor fitness. Entre os avanços da última década, ele aponta para a profissionalização do serviço.
O crescimento foi liderado por grandes redes que apostaram em infraestrutura de boa qualidade, volume de clientes e preço baixo. As opções low cost entraram em competição com as pequenas e médias academias que, apesar da crise, continuam sendo a maioria esmagadora.
“As grandes redes tiveram uma multiplicação muita rápida. Estão capitalizadas, têm aporte e crescem saudáveis e fortes”, diz Amoroso. Já as academias pequenas e médias, que têm até 500 alunos, mensalidades na faixa de R$ 80 e representam 60% do setor, são as que mais sofrem por não conseguirem competir nos quesitos preço e qualidade do equipamento.
Líder no Brasil, a Smart Fit é exemplo de rede em forte expansão. A marca, que conta com 707 academias em dez países, se tornou em 2019 a terceira rede no mundo por número de unidades próprias (509). A empresa aposta no setor low cost com mensalidades que começam em R$ 69,90.
Em 2018, a rede – que é detentora também das bandeiras Bio Ritmo, O2, Race Bootcamp, NÓS, Torq, Vidya e Jab House - atendeu dois milhões de clientes (5º lugar no mundo) e teve faturamento de U$ 406 milhões (11ª posição mundial).
“O mercado está tendo uma bifurcação: de um lado as academias low cost, do outro as academias premium”, avalia Eduardo Netto, diretor técnico da Bodytech. A rede carioca - que atende o público AB+ e é dona também da marca Fórmula, voltada para as classes B e C - é a que mais cresceu em número de unidades de 2012 a 2017.
Em 2018, a empresa faturou R$ 485 milhões e a previsão para esse ano é de R$ 490 milhões. A rede conta com 101 unidades, sendo 62 Bodytech e 39 Fórmula. Recentemente a empresa iniciou um processo que permite aos franqueados Fórmula converter as unidades em academias Bodytech.
“É uma repaginação feita aos poucos. A Fórmula não vai deixar de existir, mas decidimos não crescer mais com essa marca”, explica Netto. Sete unidades já fizeram a transição.
Tendência é diversificação
“A maior tendência é a diversidade, a segmentação. São academias com propostas para diferentes perfis”, explica Luis Amoroso, que discorda que o mercado caminhe para uma polarização entre academias low cost e premium.
“O mercado intermediário não vai morrer, mas precisa de ajuste, não pode continuar sendo o que sempre era”, avalia Amoroso. Segundo ele, uma saída para as academias tradicionais [nem low cost, nem premium] sobreviverem é reduzir a grade de aulas e apostar num serviço “bem feito”.
As chamadas academias “boutiques”, que funcionam em espaços reduzidos, têm poucos clientes e expertise em determinadas atividades como yoga, cross fit ou treino funcional, vão perdurar só se apostarem num posicionamento claro e numa proposta consistente, segundo o especialista.
Mercado latinoamericano
Embora a América Latina tenha o maior número de academias no mundo (68 mil) – a Europa, que é a segunda colocada, tem 64 mil – a região tem faturamento bem abaixo de outros continentes. Foram US$ 5 bilhões em 2018.
America do Norte, Europa e Ásia-Pacífico faturaram respectivamente US$ 35 bilhões, US$ 32 bilhões e US$ 16,8 bilhões.
O número de clientes também é menor. São 21 milhões de pessoas que frequentam academias na América Latina, contra 68 milhões na América do Norte, 64 milhões na Europa e 22 milhões na Ásia-Pacífico.