Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
é privatização?

Muito barulho para poucas medidas

As iniciativas anunciadas ontem parecem distantes do real atendimento das necessidades do modal de transportes do país, em razão da combinação entre restrições de natureza técnica e motivacional.

Na órbita técnica, emerge a pequenez do montante de recursos a ser aportado, representando 0,4% do PIB a.a. em um quinquênio, e 0,1% do PIB a.a., em quase três décadas, o que é indiscutivelmente insuficiente para impulsionar o PIB. Em contrapartida, estimativas recentes, disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), a partir de simulações comparativas entre investimentos realizados na área de cinco países (Chile, China, Filipinas, Tailândia e Vietnã), apontam requerimentos de inversões de R$ 125 bilhões por ano, em cinco exercícios, para a recomposição do poder de competição da área de transportes no Brasil. Tal esforço equivaleria a 3% a.a. do PIB, contra pouco mais de 0,6% a.a. do PIB entre 2006 e 2011, para a superação dos estrangulamentos e a expansão e melhoria da eficiência da malha de rodovias e ferrovias e dos aparelhos portuários e dos aeroportos. A manutenção da eficiência setorial e a intensificação da integração entre os diferentes componentes da matriz de cargas absorveria cerca de 2% do PIB a.a. por mais dez anos.

Pelo ângulo das barreiras erguidas pelas expectativas, principalmente dos empresários, se sobressai o maravilhoso fracasso das frações rodoviárias licitadas e transferidas para grupos privados em 2007, perfazendo R$ 1,2 bilhão em obras, com prazo de término estipulado até o final de 2012 e começo de 2013. Menos de 10% dos haveres previstos foram aplicados (incluindo a duplicação de 30 quilômetros da Régis Bittencourt).

As taxas de retorno implícitas situam-se entre 6% e 6,5% a.a., as menores da história para empreendimentos de grande porte, amparadas na redução do custo do financiamento, na segurança jurídica e na escassez de negócios nas paragens externas, em consequência da instabilidade capitaneada pela eurozona. Contudo, considerando os níveis das taxas Selic de 8% a.a. e os índices de inflação superiores a 5% a.a. no Brasil; os vultosos recursos fiscais e monetários despejados nos mercados pelas nações avançadas no afã de contenção da crise; e o papel anticíclico assumido por alguns emergentes, como China e Índia, reforçado pela auspiciosa performance acionária do MIST (grupo de nações formado por México, Indonésia, Coréia do Sul e Turquia); parece prematura a aposta das autoridades federais na ausência de projetos com maiores taxas mínimas de atratividade nas mesas ou nos balcões de transações da microeconomia.

Gilmar Mendes Lourenço, economista e diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.