Parafraseando o ditado popular, “lugar de mulher é onde ela quiser”. E na tecnologia, ela esteve desde o século 18, quando Augusta Ada King, a Condessa de Lovelace, criou os primeiros algoritmos da história e tornou-se a fundadora da computação científica. Hoje em dia, contudo, existem poucas estudantes matriculadas nos cursos de engenharia e computação e as que se formam sofrem preconceito no mercado de trabalho e ganham menos que os homens.
De acordo com a ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, as mulheres têm apenas 18% dos títulos de graduação em ciências da computação e representam apenas 25% da força de trabalho da indústria digital. “Apenas 30% das pesquisadoras do mundo são mulheres”, alerta Adriana Carvalho, gerente dos Princípios de Empoderamento Econômico da instituição.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) são ainda mais preocupantes: apesar de as mulheres serem mais qualificadas que os homens em TI, elas ganham 34% menos que eles.
Para estimular a liderança e o engajamento feminino em tecnologia, o Cubo Itaú, maior hub de empreendedorismo da América Latina, organiza há cinco anos eventos mensais para o público externo (Women in Tech e Diversity in Tech) e para as empreendedoras e funcionárias das startups (Mulheres ao Cubo) residentes. Desde janeiro, as ações foram reforçadas. “Nosso objetivo é mostrar que existem posições para elas no mercado, e que juntas somos mais fortes”, afirmou Renata Zanuto, cohead do Cubo.
Segundo Renata, houve necessidade de reforçar o debate sobre o empoderamento feminino pela escassez de mulheres em empresas de tecnologia e em startups — o que prejudica o próprio ecossistema de inovação do país. “Hoje, só 9% das investidoras-anjo são mulheres e 2% das fundadoras de empresas recebem investimentos”, alerta a executiva, que deseja aumentar a diversidade de gênero dentro do Cubo.
Preconceito no mercado de trabalho
Entre as barreiras que as mulheres enfrentam no setor de tecnologia, o preconceito provavelmente é o que mais as prejudica. Pesquisa realizada pela Catho, em parceria com a Upwit, entidade de estímulo ao protagonismo feminino, e a Revelo, de recrutamento e seleção, aponta que 51% das profissionais de TI já sofreram discriminação no ambiente de trabalho. Entre os homens, esse índice é de 22%.
“A evolução tecnológica tem feito com que cientistas sejam cada vez mais necessários. As mulheres estão ocupando mais este espaço, mas ainda carecem de oportunidades para desenvolver suas carreiras”, admite Daniela Giugliano, gerente de produtos da Catho.
Com tantos obstáculos, muitas profissionais se sentem desencorajadas a lutar pelo espaço que realmente merecem no mercado — em uma espécie de auto sabotagem, avalia Renata. “Elas sentem dificuldades para pedir aumento de salário e chegar a cargos de liderança porque não acreditam que vão conseguir. As mulheres precisam de outras mulheres para se espelhar”, retrata a executiva, sobre os encontros que organiza no Cubo.