A direção da Mundial se diz surpresa com a expressiva volatilidade de suas ações e está "à disposição" da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para esclarecimentos, disse nesta sexta-feira o presidente da companhia à Reuters.
A fabricante de produtos de consumo é o pivô de um dos movimentos mais abruptos na Bovespa neste ano. A ação ordinária da companhia disparou 1.600 por cento entre 26 de maio e 11 de julho, de 0,47 a 7,99 reais, e desde então despencou quase 90 por cento, para 0,94 real.
"Tentaram transformar os boatos com a Mundial num verdadeiro cassino", disse o presidente da companhia, Michael Ceitlin, em entrevista por telefone.
Questionado se estava surpreso com a movimentação, Ceitlin disse "evidentemente que sim", mas ponderou ter "por hábito e por dever não comentar os preços dos ativos da companhia".
"Estamos sendo vitimados por um assalto especulativo, que desconheço de quem partiu e por que partiu, que infelizmente vai manchar temporariamente a companhia, e que eu espero que passe com a mesma velocidade que veio."
Diante da forte variação das ações, a CVM tem acompanhado a empresa desde abril e já iniciou investigação.
Em nota, a autarquia disse que se for encontrada alguma irregularidade e ato ilícito contra o mercado de capitais, poderá haver "acusação e aplicação de penalidades administrativas a todos os responsáveis, sem prejuízo de eventuais repercussões dos fatos também nos campos civil e criminal".
Ceitlin disse estar à disposição da CVM para esclarecimentos, se necessário.
Mundial nega negociar venda
O presidente da Mundial assegurou que mantém os planos de ingresso da companhia no Novo Mercado da Bovespa e a consequente conversão das ações preferenciais em ordinárias. O plano será analisado em assembleia na próxima quarta-feira (27).
Ceitlin também garantiu a continuidade do contrato de subscrição de 50 milhões de dólares em ações ao longo de dois anos pelo fundo norte-americano YA Global Investments BR, operação anunciada na última segunda-feira.
"Acabo de receber um e-mail do fundo se colocando à disposição para confirmar a transação, e está totalmente apoiando e atônito com o que está acontecendo. (O fundo) está 100 por cento apoiando a companhia e está convicto de que isso vai se esclarecer e a transação segue normalmente."
Nunca houve também qualquer tratativa com a Hypermarcas ou a Tramontina por uma venda da Mundial, garantiu Ceitlin, atribuindo a essa expectativa parte da valorização das ações da empresa.
O presidente da Mundial rechaçou ainda qualquer envolvimento em um suposto uso de informações privilegiadas, conforme circulou entre operadores de mercado em documento ao qual a Reuters teve acesso.
"Eu acho um absurdo circular esse tipo de documento de forma apócrifa, fazendo acusações absolutamente levianas", disse Ceitlin. "Isso é uma maluquice."
A ação preferencial da Mundial fechou a 0,69 real nesta sexta-feira, em baixa de 63,6 por cento.
A ação da Hércules, também presidida por Ceitlin, despencou 32,8 por cento, a 1 real.