Mesmo com o câmbio a favor, o Brasil deverá encolher sua participação no comércio internacional em 2014, fato que vem sendo registrado desde 2011. As exportações, apesar da ajuda do dólar mais caro, devem cair 1%, pressionadas pela piora dos preços das commodities e pela maior dificuldade para vender em alguns mercados, como Argentina e China, que vêm reduzindo um pouco o ritmo da sua economia. Enquanto isso, o comércio mundial deve crescer 2%.
A projeção é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que calcula que o país responderá por 1,25% do comércio global em 2014, ligeiramente inferior ao estimado para o ano passado, de 1,30%. Os cálculos são feitos pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A tão esperada recuperação das vendas de manufaturados, que sofreram bastante com o dólar mais fraco, não deve se concretizar tão cedo, segundo o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
O câmbio deixou de ser o principal problema do exportador, mas recuperar mercados perdidos e ampliar destinos para os produtos nacionais promete ser uma tarefa árdua. As vendas externas da indústria brasileira esbarram na baixa produtividade das fábricas, na má infraestrutura logística e na falta de uma postura mais ativa do governo em firmar acordos comerciais com outros países.
"Nada é rápido quando se fala em exportação da indústria. Os contratos são firmados em média por seis meses a dois anos. As empresas também precisam se sentir seguras que o câmbio não vai mudar. O que é complicado porque essa é uma variável sobre a qual não se tem controle", diz.
Perda de espaço
O mundo vem encolhendo para produtos fabricados no Brasil, que vem perdendo espaço no comércio mundial desde 2011, quando chegou a bater a marca de 1,41%. A participação brasileira nas importações dos EUA recuou de 1,45% para 1,24% no ano passado. O Brasil perdeu espaço até mesmo na China, principal compradora das commodities agrícolas brasileiras. No total importado pelos chineses, o Brasil viu sua participação cair de 2,92% para 2,81%. Vale lembrar que cada ponto porcentual perdido significa, na corrente de comércio, centenas de milhões de dólares.
Com o dólar mais caro, muitas empresas abandonaram as exportações nos últimos anos e se voltaram para o mercado interno, que na época era sustentado pelo aumento do consumo. Entre 2006 e 2012 o número de exportadoras no Brasil caiu de 24,6 mil para 18,6 mil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). No ano passado, houve uma ligeira melhora e esse número alcançou 18,7 mil, segundo estimativas.
Mas a concentração da pauta de exportação em produtos primários fez também com que as vendas externas ficassem cada vez mais concentradas nas mãos de poucas companhias. Cerca de mil empresas respondem hoje por 85% dos embarques brasileiros.
De exportadora para importadora
João Pedro Schonarth
O sobe e desce do mercado internacional pode fazer com que uma empresa exportadora se torne uma importadora para se adequar à nova realidade. É o caso da Novopiso, empresa de São José dos Pinhais que exportava pisos de madeiras a 15 países, em especial aos EUA, e que devido à crise financeira norte-americana viu suas exportações minguarem ano após ano, resultando no seu fechamento.
Até 2012 a empresa manteve o atendimento aos clientes no exterior, mas a ociosidade da produção tornou o negócio inviável. "Chegamos a ter 14 distribuidores e uma sede própria nos EUA, mas com a crise reduzimos para três distribuidores que continuaram a importar, mas em um volume reduzido. Aos poucos vimos nossos distribuidores fechando seus negócios", conta Marcos Siewert, à época gestor de comércio exterior da Novopiso. Hoje, o grupo mudou o foco da empresa e a Scandian, fruto da reestruturação da antiga exportadora, tem foco no mercado interno com a importação.
Segurando clientes
A unidade de usinagem do Grupo Hubner, em Araucária, viu sua margem reduzir ao ponto de ficar no zero a zero com a valorização do real nos últimos anos. A estratégia da empresa, segundo Nelson Roberto Hubner, presidente da companhia, foi permanecer com as exportações, mesmo sem lucro. "A intenção era não perder clientes, para não ter que reconquistá-los no futuro. Leva-se ao menos um ano para conquistar um cliente no exterior, mas para voltar mais tarde é preciso baixar preço para concorrer com o atual fornecedor. É o pior dos mundos", analisa.