Exportação só terá retomada no ano que vem
Os exportadores vêm, nos últimos meses, retomando aos poucos o interesse pelo mercado exterior. Mas uma recuperação mais forte só deve ocorrer em 2015, segundo Gustavo Machado, sócio diretor da GT Internacional, consultoria de Curitiba que assessora operações de comércio exterior. "Passamos os últimos dois anos sem nenhuma procura por parte de empresas exportadoras. Nos últimos meses, começamos a detectar um interesse, mas, pelo menos até agora, são empresas que trabalham com commodities", diz.
Para ele, o processo de retomada das exportações ainda vai demorar. "Para deixar um mercado é um estalar de dedos. Mas para recuperar é um tempo bem maior", analisa.
A Germer Porcelanas Finas, de Campo Largo, por exemplo, viu a participação da exportação em seu faturamento despencar de 10% a 1%. O motivo: a valorização do real frente ao dólar e a concorrência com peças muito mais baratas vindas da China. "Hoje ainda está inviável exportar. O dólar melhorou, mas os clientes desapareceram. A volta é muito difícil, é um processo lento e moroso. Para 2014 as expectativas são um pouco melhores, mas nada alentador", lamenta Antonio Jurandir Girard, presidente da empresa.
Mas se por um lado o Brasil tem tido dificuldade em exportar, por outro as empresas chinesas, americanas e europeias aumentaram significativamente suas vendas para o país. Em dez anos, as importações brasileiras dos Estados Unidos e da Europa mais que triplicaram. As importações da China aumentaram dez vezes.
Acordo comercial
O fraco desempenho do país em costurar acordos de comércio exterior nos últimos anos é apontado também como uma das causas para a deterioração do saldo da balança comercial (diferença entre exportações e importações). Em 2013, o país registrou o pior saldo dos últimos treze anos, de US$ 2,6 bilhões.
Mesmo com o câmbio a favor, o Brasil deverá encolher sua participação no comércio internacional em 2014, fato que vem sendo registrado desde 2011. As exportações, apesar da ajuda do dólar mais caro, devem cair 1%, pressionadas pela piora dos preços das commodities e pela maior dificuldade para vender em alguns mercados, como Argentina e China, que vêm reduzindo um pouco o ritmo da sua economia. Enquanto isso, o comércio mundial deve crescer 2%.
INFOGRÁFICO: Veja a situação brasileira no comércio mundial
A projeção é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que calcula que o país responderá por 1,25% do comércio global em 2014, ligeiramente inferior ao estimado para o ano passado, de 1,30%. Os cálculos são feitos pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A tão esperada recuperação das vendas de manufaturados, que sofreram bastante com o dólar mais fraco, não deve se concretizar tão cedo, segundo o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
O câmbio deixou de ser o principal problema do exportador, mas recuperar mercados perdidos e ampliar destinos para os produtos nacionais promete ser uma tarefa árdua. As vendas externas da indústria brasileira esbarram na baixa produtividade das fábricas, na má infraestrutura logística e na falta de uma postura mais ativa do governo em firmar acordos comerciais com outros países.
"Nada é rápido quando se fala em exportação da indústria. Os contratos são firmados em média por seis meses a dois anos. As empresas também precisam se sentir seguras que o câmbio não vai mudar. O que é complicado porque essa é uma variável sobre a qual não se tem controle", diz.
Perda de espaço
O mundo vem encolhendo para produtos fabricados no Brasil, que vem perdendo espaço no comércio mundial desde 2011, quando chegou a bater a marca de 1,41%. A participação brasileira nas importações dos EUA recuou de 1,45% para 1,24% no ano passado. O Brasil perdeu espaço até mesmo na China, principal compradora das commodities agrícolas brasileiras. No total importado pelos chineses, o Brasil viu sua participação cair de 2,92% para 2,81%. Vale lembrar que cada ponto porcentual perdido significa, na corrente de comércio, centenas de milhões de dólares.
Com o dólar mais caro, muitas empresas abandonaram as exportações nos últimos anos e se voltaram para o mercado interno, que na época era sustentado pelo aumento do consumo. Entre 2006 e 2012 o número de exportadoras no Brasil caiu de 24,6 mil para 18,6 mil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). No ano passado, houve uma ligeira melhora e esse número alcançou 18,7 mil, segundo estimativas.
Mas a concentração da pauta de exportação em produtos primários fez também com que as vendas externas ficassem cada vez mais concentradas nas mãos de poucas companhias. Cerca de mil empresas respondem hoje por 85% dos embarques brasileiros.
De exportadora para importadora
João Pedro Schonarth
O sobe e desce do mercado internacional pode fazer com que uma empresa exportadora se torne uma importadora para se adequar à nova realidade. É o caso da Novopiso, empresa de São José dos Pinhais que exportava pisos de madeiras a 15 países, em especial aos EUA, e que devido à crise financeira norte-americana viu suas exportações minguarem ano após ano, resultando no seu fechamento.
Até 2012 a empresa manteve o atendimento aos clientes no exterior, mas a ociosidade da produção tornou o negócio inviável. "Chegamos a ter 14 distribuidores e uma sede própria nos EUA, mas com a crise reduzimos para três distribuidores que continuaram a importar, mas em um volume reduzido. Aos poucos vimos nossos distribuidores fechando seus negócios", conta Marcos Siewert, à época gestor de comércio exterior da Novopiso. Hoje, o grupo mudou o foco da empresa e a Scandian, fruto da reestruturação da antiga exportadora, tem foco no mercado interno com a importação.
Segurando clientes
A unidade de usinagem do Grupo Hubner, em Araucária, viu sua margem reduzir ao ponto de ficar no zero a zero com a valorização do real nos últimos anos. A estratégia da empresa, segundo Nelson Roberto Hubner, presidente da companhia, foi permanecer com as exportações, mesmo sem lucro. "A intenção era não perder clientes, para não ter que reconquistá-los no futuro. Leva-se ao menos um ano para conquistar um cliente no exterior, mas para voltar mais tarde é preciso baixar preço para concorrer com o atual fornecedor. É o pior dos mundos", analisa.
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