Rio Nada mais errado do que dizer que, quando uma tecnologia surge, sua antecessora coloca o pé na cova. Há equipamentos que desmentem a teoria e se recusam a morrer. É o caso do videocassete. Mesmo com a obsolescência anunciada do DVD que será substituído em alguns anos pelo Blu-Ray ou pelo HD-DVD , os aparelhos que gravam e reproduzem VHS continuam à venda. E ainda têm um público que, não disposto a perder as velhas fitas de guerra, faz questão de adquirir modelos usados e até novos.
O mesmo acontece com os monitores CRT, que resistem bravamente mesmo com a queda dos preços das telas LCD. E as impressoras inkjet, será que perderam terreno com a chegada em massa dos multifuncionais, cada vez mais baratos? E o CD, por que ainda há quem o prefira já que ele guarda 700 MB e num DVD cabem 4,7 GB?
Também há corajosos que se aventuram a, em plena era do MP3, levar para casa um discman. Outros preferem o vinil e não se deixam seduzir pelos aparelhos de som que tocam MP3 e diversos outros formatos. "Há quantos anos o CD está jurado de morte? Na minha conta, uns sete. Muitos compram aparelhos para estar em sintonia com um futuro que não vai chegar tão cedo. É importante se perguntar o que vou comprar é realmente útil ou estou cedendo ao canto da sereia tecnológica?", diz Aroaldo Veneu, especialista em música digital.
Vale a pena comprar um disquete ou um zipdrive, só para lembrarmos de mais uma "relíquia"? Sobre o disquete, Aroaldo diz: "Ora, moderno o troço não é. Por outro lado, apesar de jurado de morte há mais de década, ainda há muita informação armazenada neles e muita gente usando. Logo, comprar não é uma questão de estar em dia com modernidade, mas de estar apto a trocar informações com micreiros co-irmãos. Quanto ao zipdrive, se você trabalha com a parte gráfica, ter o azulzinho por perto é uma hipótese a considerar", diz.
O designer Marco Antonio Arcoverde Cals é um exemplo de saudosista assumido. Comprou um videocassete, disposto a aumentar o tempo de vida de suas fitas VHS. Se está feliz? "Todo mundo tem fita e quer assistir. Gosto de gravar programas de TV, mas ainda não temos no Brasil um sistema como o TiVo. Estou esperando um DVD de mesa que grave TV e leia todos os sistemas de cor. Enquanto isso, fico com o o videocassete."
Fitas cassete
Se comprar videocassete em plena era de substituição do DVD parece uma insanidade, que tal alguém que ainda dá preferência às fitas cassete quando já há à disposição gravadores digitais capazes de armazenar muito mais tempo e sem necessidade de trocar de lado A para lado B? A estudante Talita de Siqueira Marçal, de 22 anos, estava precisando de um gravador para aulas e entrevistas. Seu modelo analógico (o menor, de fitas de secretária eletrônica) tinha quebrado. Apesar de conhecer os novos modelos digitais, ela preferiu um analógico, de fita cassete. Por quê?
"Aí entra meu lado demodé: ver a fita rodando e o marcador se alterando me deixa mais tranqüila, porque tenho a certeza de que realmente está gravando. Sei que é puramente psicológico, mas não consigo ter a mesma confiança com os gravadores digitais. Ganhei o gravador analógico do meu pai de presente de aniversário", diz Talita, fazendo questão de frisar que a escolha não foi uma atitude retrógrada.