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Na crise, usados ganham terreno e montadoras esperam “milagre”

Em 12 meses, o preço do carro novo subiu 13%, em média, em Curitiba e região. A inflação do zero-quilômetro e a crise motivaram consumidores a migrar para os usados. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Em 12 meses, o preço do carro novo subiu 13%, em média, em Curitiba e região. A inflação do zero-quilômetro e a crise motivaram consumidores a migrar para os usados. (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)

A campanha publicitária da GM dá a dimensão do desespero das montadoras. No comercial de tevê, um coral canta que pediu com fé para São Caetano ajudar a economia; “ele atendeu e um milagre aconteceu”, com “descontos impossíveis”, parcelamentos com juro zero e coisas assim.

O preço do seminovo ficou estável, o do carro zero-quilômetro subiu. O consumidor está fazendo as contas e migrando de um para o outro.

Antônio Gilberto Deggerone, vice-presidente da Assovepar.

As redes de concessionárias de várias marcas anunciam promoções de todo tipo na tentativa de atenuar a retração do mercado. Mas, por trás das ofertas de ocasião, as montadoras continuam aumentando preços em meio a uma queda de 20% nas vendas. Com uma estratégia dessas, parecem mesmo estar à espera de um milagre.

Desde o início do ano, o preço médio do carro novo subiu 5% no Brasil, segundo a medição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em Curitiba e região, o aumento foi de quase 10%. No acumulado dos últimos 12 meses, as altas chegam a 6,8% na média nacional e 13,1% na capital paranaense.

Em entrevista coletiva na semana passada, o presidente da Anfavea (representante das montadoras), Luiz Moan, argumentou que os aumentos se devem à volta da alíquota cheia do IPI, aos reajustes nas faturas de água e energia elétrica e ao encarecimento de peças e componentes importados, decorrente da alta do dólar.

O repasse de custos, que faria sentido nos tempos em que o mercado avançava a passos largos, causa estranheza num momento em que a demanda regride aos níveis de oito anos atrás e os carros estocados nos pátios das fábricas equivalem a mais de 50 dias de vendas.

Esse comportamento pode estar dando fôlego extra ao mercado de carros usados. Depois de cinco anos de crescimento, as vendas de veículos de segunda mão perderam força em 2015, mas seu desempenho chama atenção em meio à recessão econômica e, principalmente, em comparação ao mercado de novos.

Nos cinco primeiros meses do ano, as revendedoras comercializaram perto de 4 milhões de veículos seminovos (com até três anos) e usados, quase 2% mais que no mesmo período de 2014, conforme as estatísticas de duas associações do setor, a Fenabrave e a Fenauto.

No Paraná, os dados da Assovepar (representante do varejo de usados) apontam leve retração de 2%. O resultado está abaixo do previsto em janeiro, quando se esperava uma alta de 5% ao longo do ano. Bem melhor, no entanto, que os números do comércio de novos, que registra queda de 22% no estado. “O preço do seminovo ficou estável, o do carro zero-quilômetro subiu. O consumidor está fazendo as contas e migrando de um para o outro”, diz Antônio Gilberto Deggerone, vice-presidente da associação.

As taxas de juros cobradas do seminovo costumam ser mais altas, em parte porque em muitos casos o crédito para o carro novo tem subsídio do banco da montadora. Mas, segundo Deggerone, as vendas à vista estão ganhando espaço. “Antigamente era 80% financiado e 20% à vista. Hoje é 55% a 45%”, conta.

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