O ano começa com demissões na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Desde a sexta-feira (2), cerca de 800 trabalhadores receberam cartas solicitando o comparecimento, nesta terça-feira (6), data em que a maioria dos funcionários retorna das férias coletivas, ao departamento pessoal.
A fábrica Anchieta, como é conhecida a mais antiga unidade da Volkswagen no Brasil, emprega quase 13 mil trabalhadores.
A decisão fez empregados da unidade, que produz os veículos Gol e Saveiro, aprovarem convocar greve por tempo indeterminado, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
As negociações do sindicato com a empresa estavam suspensas desde o início de dezembro, quando os trabalhadores rejeitaram proposta feita pela Volks que incluía, entre outros itens, a abertura de um programa de demissão voluntária (PDV) para aproximadamente 2,1 mil trabalhadores considerados excedentes e suspensão de reajustes salariais neste ano e em 2016, substituídos por abonos.
"Adequação"
Em nota, a Volkswagen indicou que novos cortes poderão ocorrer adiante pelo mau momento do setor automotivo.
Segundo a montadora, as demissões representam a "primeira etapa de adequação de efetivo" e "continua urgente a necessidade de adequação de efetivo e otimização de custos para melhorar as condições" da Unidade Anchieta.
A companhia relata o cenário de retração da indústria automobilística brasileira, cujas vendas caíram 7,1% em 2014 na comparação com 2013, enquanto as exportações recuaram cerca de 40%. O resultado foi uma retração de aproximadamente 15% na produção do setor.
A montadora também disse em nota que medidas paliativas adotadas desde 2013, como férias coletivas e suspensão temporária dos contratos de trabalho, não foram suficientes diante das expectativas para a indústria automotiva.
Vendas em queda
A Volkswagen reduziu suas vendas em 13,5%, para 576.670 unidades no ano passado, caindo para o terceiro lugar no ranking entre as fabricantes, atrás de General Motors, que registrou queda de 10,9% nas vendas, e da líder Fiat, com queda de 8,4%.
Além da baixa demanda interna, a companhia foi obrigada a deixar de produzir a Kombi e o popular Gol G4 em 2014 diante de nova legislação de segurança que entrou em vigor e obrigou os veículos do país a terem itens como airbag e freios ABS.
O Sindicato dos Metalúrgicos alega que a empresa tem um acordo com os trabalhadores, feito em 2012, que previa estabilidade de empregos até 2016. A Volkswagen, por sua vez, afirma que o acerto foi feito num momento em que o mercado crescia e precisou revê-lo diante da nova situação de retração.
A nova proposta também previa garantia de emprego até 2017 para quem continuasse na fábrica. A Volks também tem fábricas de carros em Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR).
Mercedes
Outra montadora do ABC que afirma ter trabalhadores ociosos é a fabricante de caminhões e ônibus Mercedes-Benz. Segundo o sindicato, a empresa renovou com um grupo de trabalhadores novo período de lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho) por cinco meses, mas deixou de fora 244 funcionários de um total de 1,2 mil que participou do programa até novembro.
Parte desse pessoal pode ter aderido a um PDV, mas os números do programa, aberto no fim de 2014, ainda não foram divulgados. Nenhum representante da empresa foi localizado para falar do assunto.
No ano passado, até novembro, as montadoras de veículos e tratores eliminaram 10,8 mil postos de trabalho e empregavam, até aquela data, 146,2 mil pessoas.
Os números de dezembro serão divulgados na quinta-feira (8), pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
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