Nem o Banco Central Europeu (BCE) nem o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem ajudar a Espanha com o resgate bilionário necessário para salvar o Bankia, quarta maior instituição bancária do país.
Segundo o chefe do BCE, Mario Draghi, o que a Europa precisa é criar uma "união bancária" da zona do euro para evitar que se repita um caso como o do Bankia, que abalou todo o setor financeiro espanhol. Draghi disse ainda que se nega a permitir que a instituição preencha "o vazio da falta de ação dos governos".
"Esta não é nossa obrigação", afirmou Draghi nesta quinta-feira. "Devemos formar uma união bancária, um regime de garantias (...) e uma maior centralização e supervisão bancária", propôs o líder italiano ante o Parlamento Europeu em Bruxelas nesta quinta-feira (31).
As declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE) acontecem em plena agitação financeira na Espanha. A reativação da tensão nos mercados, provocada pelo anúncio do resgate público do Bankia por 23,5 bilhões de euros, desatou o pânico e a taxa de risco, que mede a confiança na solvência de um país, obteve recorde de baixa, para 542 pontos.
Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que não está trabalhando em nenhum plano de ajuda financeira a Espanha, conforme declarou seu porta-voz, Gerry Rice. "A Espanha não pediu ajuda financeira ao FMI", afirmou.
Segundo Rice, a Espanha aplicou reformas financeiras que vão amplamente na direção das recomendações do Fundo. Contudo, os problemas do quarto banco espanhol, Bankia, estão provocando uma nova onda de nervosismo na zona do euro, cujas bolsas têm sofrido fortes baixas esta semana, enquanto a moeda única recua frente ao dólar.
A vice-presidente espanhola, Soraya Sáenz de Santamaría, se encontra em Washington nesta quinta-feira para um encontro com a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, "para abordar recentes acontecimentos econômicos na Espanha e na Eurozona", confirmou o porta-voz.
Sáenz de Santamaria também se reunirá com o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, informou na quarta-feira o governo espanhol, segundo o qual a viagem estava planejada há duas semanas.
"Faz tempo que defendemos um fortalecimento dos instrumentos de gestão (financeira) na Eurozona e por uma visão clara", disse o porta-voz do FMI, para quem os problemas bancários espanhóis formam parte dessa ausência de critérios coletivos frente às crises.
"O FMI também é a favor de uma integração europeia mais completa", disse Nemat Shafik, diretora-geral adjunta da instituição com sede em Washington.
Segundo o Banco da Espanha, a saída de capitais da Espanha no primeiro trimestre do ano chegou a 97 bilhões de euros por conta da preocupação do mercado.
Em uma clara demonstração de cautela, o rendimento dos bônus da dívida da Alemanha a 10 anos registrou seu mínimo histórico nesta quinta-feira, devido a sua condição de valor de refúgio para investidores muito nervosos pela situação do setor bancário espanhol.
Pouco antes das 13 horas, (10h de Brasília), o rendimento do Bund alemão era de 1,234%.
Os temores se concentram neste momento na situação do setor bancário da Espanha, já que os mercados se perguntam como o país irá recapitalizar os bancos sem ajuda externa, uma vez que os preços pagos por sua dívida estão muito elevados.
"A evolução atual do rendimento alemão está claramente ditada pela busca de ativos de qualidade, independentemente do preço", explicam os especialistas em dívida do BNP Paribas.
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