A economia brasileira está entrando em um período de transição, em que o seu crescimento não será puxado mais pelo aumento do consumo e a expansão física da produção das empresas. O mercado de consumo já demonstra sinais de saturação e não vai repetir o fenômeno visto nos últimos anos, mesmo com os incentivos concedidos pelo governo federal para reanimar a economia. A avaliação é do economista João Basílio Pereima, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
"A demanda não crescerá tanto. O Brasil terá de investir em produtividade e inovação para garantir seu crescimento", diz Pereima. Para ele, a capacidade de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também será menor: "É ilusão acreditar que é possível crescer 3%, 4% ao ano durante um longo período. É muita coisa". Os projetos de infraestrutura que começam a sair do papel serão provavelmente o último grande ciclo de investimentos do país, avalia Pereima. "Não teremos mais milagre econômico", afirma.
O Brasil registrou baixo crescimento econômico nos últimos dois anos. O país vai conseguir avançar em 2013?
Os resultados anteriores não recomendam muito otimismo. Embora possa ainda crescer um pouco, o crédito está em níveis recordes, com a relação crédito sobre o PIB em 53,5%. O endividamento das famílias está elevado. Não há, portanto, muito espaço de crescimento por estímulo à demanda via crédito. A única esperança é uma reação forte dos investimentos, cuja taxa teve uma contribuição negativa no ano passado para o PIB.
Se o consumo dá sinais de esgotamento, qual a capacidade de crescimento da economia brasileira nos próximos anos?
O Brasil está vivendo uma fase de transição entre um crescimento pautado pelo aumento da demanda e da expansão física das empresas, com mais produção, para um crescimento que terá de ser sustentado obrigatoriamente por aumento da produtividade e inovação. Isso tem relação com o menor crescimento demográfico, o fato de as pessoas terem mais acesso a bens de consumo, ao desenvolvimento econômico nos últimos anos. Nos últimos 500 anos, houve expansão das áreas agrícolas, das empresas, das cidades e dos grandes centros. Muito do que deveria ser feito já foi. Antes precisávamos ter mais vacas para termos mais leite. Agora teremos de fazer a mesma vaca gerar mais leite.
Esse é um movimento típico de países desenvolvidos.
Foi o que ocorreu com a Coreia do Sul no início da década de 1990. A diferença é que lá eles se prepararam, investindo em educação e inovação.
Mas o novo ciclo de investimentos em infraestrutura e no pré-sal não vai gerar um crescimento maior nos próximos anos?
Esse será provavelmente o último grande ciclo de investimentos. Em cinco anos, o crescimento acumulado pode ficar em 15%, 20%, mas depois disso o avanço será menor. É ilusão achar que o Brasil crescerá 3%, 4% ao ano por longo período de tempo. É um crescimento muito alto. Não teremos um novo milagre econômico, quando o PIB chegou a crescer 14% na década de 70. Naquela época, havia muito o que fazer. Agora a realidade é outra. O impacto da construção de uma usina como Itaipu, na sua época, foi comparativamente muito maior, em termos econômicos, do que Belo Monte hoje. Crescer 5% hoje em dia seria um milagre.
Isso quer dizer que o Brasil tem um PIB potencial menor do que se previa? A capacidade de o Brasil crescer foi superestimada?
Nem o governo e nem as empresas entenderam que o Brasil começa a entrar nessa nova fase. É muito difícil calcular qual seria esse PIB potencial hoje, mas ele não deve ser muito maior que 2%.
Os demais emergentes também enfrentarão taxas de crescimento menores nos próximos anos?
Sim, esse é um fenômeno que se verifica em todos os emergentes. A China não vai crescer por dez anos a taxas de 7% a 10% ao ano.
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