Curitiba A indústria paranaense acaba de entrar no período de encomendas para o fim de ano. Até meados de outubro, as fábricas saberão que volumes terão de produzir para atender à procura sempre reforçada de dezembro por presentes e alimentos. Muitos empresários se perguntam agora se o Natal será capaz de salvar o último trimestre do ano. Sinais de pesquisas conjunturais mostram que o ciclo de crescimento da indústria iniciado em 2003 pode ficar enfraquecido mesmo na melhor época do ano para as vendas internas.
Segundo o departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o cenário formado durante os primeiros sete meses do ano leva a uma projeção de queda de 2,5% nas vendas industriais até o fim deste ano. "A força da economia, demonstrada no desempenho acelerado até o terceiro trimestre de 2004, mostrou não ser duradoura", diz o economista Maurílio Schmitt, da Fiep.
O sentimento de que o fim de 2005 não deixará saudade está presente em diversas áreas industriais. Ele se baseia no fato de as taxas de juros estarem mais altas neste momento do que há um ano. A elevação da Selic só começou em setembro de 2004 não tendo grande influência, portanto, sobre os resultados do último trimestre do ano passado. A situação agora é a inversa. Foi na semana passada que o Comitê de Política Monetária (Copom) começou a reduzir a Selic (hoje em 19,5%). Da mesma forma, o efeito da decisão demorará para chegar.
No Paraná, a quebra na safra agrícola trouxe mais dúvidas sobre a chance de crescimento industrial no segundo semestre. O comércio do interior do estado sofre mais. Neste ano não se repetiu o pagamento das "sobras" da produção nos níveis de 2003 e 2004. Outra variável que anuvia o horizonte empresarial é a queda na confiança do consumidor. Ela está ligada a outra preocupação, o desenrolar da crise política, que também fez com que investimentos fossem segurados na área produtiva.
O setor de móveis é um dos que vêem poucas chances de crescimento nas vendas internas no Natal. "Se repetirmos o resultado de 2004 estará de bom tamanho", diz Édson Luiz Marochi, diretor da Móveis Campo Largo, uma rede varejista com 14 lojas no Paraná. Essa percepção é parecida com a da Simbal, uma fabricante de móveis de Arapongas que tem presença forte em grandes redes de varejo. "As vendas estão estáveis", confirma o diretor comercial Osmar Milani. "Não teremos um estouro ou alguma surpresa no fim de ano. Nosso planejamento é manter a média do ano."
Fabricantes de roupas também estão contendo o otimismo para as vendas de dezembro. As encomendas, segundo o presidente da Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário (Vestpar), Valdir Scalon, ainda estão abaixo do registrado em 2004. Neste setor, os pedidos precisam ser feitos com antecedência de 30 a 45 dias, ou seja, devem ser fechados até o fim de outubro para chegarem nas lojas em dezembro. "O varejo teve problemas nas vendas de inverno porque fez muito calor. Acho que as lojas estão atrasando os pedidos para não ficar com estoques muito altos em janeiro", analisa Scalon.