Pela negociação ou pelo sobrenatural, ontem foi dia de tentar ajustar as finanças. No Centro de Curitiba, consumidores enfrentaram fila para consultar o nome e renegociar suas dívidas no segundo dia do mutirão "Acertando as Contas", promovido pela Associação Comercial do Paraná (ACP), em parceria com a Boa Vista serviços, administradora do Serviço Central Proteção ao Crédito (SCPC). Na Cidade Industrial, um grupo de fiéis recorreu a Santa Edwiges, venerada pelos católicos como a protetora dos endividados, cujo dia foi comemorado ontem.
Para realmente intervir em cada um dos casos, a santa teria bastante trabalho. De acordo com o último levantamento da Federação do Comércio do Paraná (Fecomercio-PR), referente a agosto, 24,3% dos curitibanos estão com dívidas atrasadas e 8,7% não terão condições de pagá-las.
A negociação é o primeiro passo para limpar o nome e todos os consumidores com dívidas podem procurar o mutirão. Após quitar a dívida ou renegociar por meio de um parcelamento, o nome deve ser retirado dos serviços de proteção ao crédito. Porém, não são raros os casos em que, mesmo após o pagamento, o consumidor continua com restrições. O consumidor deve ficar atento a isso. Além do nome negativo no SCPC, os consumidores também podem ter pendências no Serasa, já que são dois órgãos distintos, explica Simone Scuissatto, supervisora de serviços da ACP. A recomendação é para que os consumidores busquem informações também no Serasa.
Na fila da ACP, boa parte das pessoas que aguardavam uma senha para o atendimento já atrasou o pagamento de dívidas e queria apenas confirmar se o nome consta ou não no serviço de proteção ao crédito. O mutirão começou na segunda-feira e vai até o dia 30 de outubro.
Além da oportunidade de limpar o nome, muitos consumidores com dívidas devem procurar o mutirão em busca de descontos e abatimentos no saldo devedor. Segundo a auxiliar de cobrança da rede Multiloja, Josieli Barbosa, o desconto mínimo é de 30% sobre os juros da dívida, mas pode aumentar dependendo do tamanho do débito e da situação financeira do cliente. "Viemos para o mutirão com a disposição de oferecer boas condições para quitar dívidas. As pessoas podem até parcelar, mas devem estar cientes que há incidência juros sobre o parcelamento".
Na missa
Quando a situação aperta e a dívida cresce, muitas pessoas acabam recorrendo à fé. "Muita gente que veio para a missa no dia da santa nos anos anteriores teve seus problemas solucionados, espero que continue assim", garante o padre da paróquia curitibana, Raimundo Alves Ferreira.
O casal João e Lindalva Henriques acompanhou a missa em homenagem à santa ontem para ver se conseguem se livrar do rotativo do cartão de crédito. Já a professora Luciana Nakagima voltou ontem à igreja para agradecer, crendo que o pedido feito no ano passado foi solucionado. "Eu estava com o condomínio atrasado há seis meses e não sabia mais o que fazer", conta. Dois meses depois, a aposentada ganhou na justiça o direito a uma pensão da previdência, que aliviou seu orçamento. "Já tinha desistido desta ação e ela apareceu do nada. Hoje, estou com a dívida zerada", comemora a professora.