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Política econômica

Nelson Barbosa chega aos 100 dias no cargo como coadjuvante na Fazenda

O ministro Nelson Barbosa deu três entrevistas coletivas na última semana, mas não mexeu com o mercado. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro Nelson Barbosa deu três entrevistas coletivas na última semana, mas não mexeu com o mercado. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, chega na próxima semana à marca de 100 dias no cargo como um coadjuvante da cena política em Brasília. Hiperativo, ele vem anunciando medidas para tirar a economia do buraco desde o fim de janeiro, sem com isso conseguir mais do que o ceticismo no mercado.

A indiferença com as medidas de Barbosa pode ser medida por seu último anúncio. No fim da tarde de quarta-feira, ele divulgou que o governo pediria ao Congresso uma autorização para descontar gastos da meta de superávit. Na prática, o que era para ser um saldo positivo de R$ 24 bilhões no fim do ano foi transformado em um buraco de quase R$ 100 bilhões.

É um movimento contrário ao consenso entre analistas de mercado, que pedem mais rigor fiscal. Mesmo assim, a cotação do dólar e a bolsa nem se mexeram na quinta-feira – dia em que faltaram fatos bombásticos para mover as cotações.

“Na prática, o ministro não tem condições de promover muitas mudanças por causa dos problemas políticos no Congresso”, diz o economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências. “O cenário com que trabalhamos é de mudança de governo até o meio do ano”, completa.

A indiferença com que as medidas vêm sendo recebidas também refletem o fato de Barbosa estar apenas confirmando o que se esperava quando tomou posse em dezembro do ano passado. Na época, apesar de seu discurso colocar a questão fiscal como principal prioridade, a expectativa de analistas era de que a meta de superávit seria rapidamente abandonada.

Além de chutar para longe a meta fiscal, Barbosa costurou um acordo com governadores para reduzir a dívida dos estados (algo que vai custar R$ 9,6 bilhões para o governo só neste ano) e propôs mudar a forma como o Banco Central retira a liquidez do mercado, o que pode reduzir a dívida pública bruta com uma “canetada”.

“A medida para o BC pode ser boa, mas o momento é ruim”, diz o economista Julio Hegedus, da consultoria Lopes Filho. “São medidas que indicam uma interferência política grande sobre a Fazenda. E o mercado simplesmente ignorou”, completa.

Confiança

O foco da gestão Barbosa tem sido mostrar comprometimento com o crescimento econômico. Seu primeiro grande momento público foi a apresentação do pacote de R$ 83 bilhões em crédito que tinha como objetivo acelerar a economia. Depois, veio a ideia de se fazer logo a reforma da Previdência (engavetada, diz-se, a pedido do ex-presidente Lula) e o plano de reforma fiscal (convenientemente acompanhado do acordo com os estados).

O problema está nos detalhes. O pacotão de crédito trazia, por exemplo, dinheiro que já está à disposição do mercado, como R$ 22 bilhões do FGTS para infraestrutura. Havia também R$ 15 bilhões para a renegociação da compra de máquinas e R$ 10 bilhões para o consignado com o FGTS como garantia, que tem grande possibilidade de só substituir crédito caro por uma linha mais barata.

Na reforma fiscal, o projeto cria critérios para lidar com gastos acima do programado, mas institucionaliza a política “anticíclica”, que impede cortes em momentos de receita menor. “É positivo pensar em uma reforma para conter o gasto no logo prazo”, opina o economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB). “Só que a receita não vai vir agora. O governo precisa estancar a hemorragia no orçamento.”

A boa vontade para recuperar a economia, com seus erros e acertos, não mexeu com o que analistas consideram o pilar para uma retomada: a recuperação da confiança. “Estamos no pior dos mundos em termos de confiança e as medidas são só paliativos. O que interessa mesmo é a crise política”, resume Hegedus, da Lopes Filho.

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