A Netflix Inc. chocou os investidores ao reportar uma queda no número de clientes nos EUA e um crescimento muito mais lento no exterior, aumentando temores de que a gigante do streaming estivesse perdendo força assim que os concorrentes se preparassem para atacar.
As ações caíram 12%, para US $ 320,30 em Nova York, a pior queda de um dia em três anos, depois que a empresa anunciou uma perda de 130 mil assinantes nos EUA. A Netflix culpou preços mais altos e uma fraca lista de programas de TV. Além disso, no período, a empresa obteve 2,8 milhões de assinantes internacionalmente, metade das previsões da empresa.
"A Netflix tem um caminho difícil pela frente, com a concorrência iminente e a remoção de conteúdo popular", disse Eric Haggstrom, analista da EMarketer Inc. Mas, uma linha mais forte de novos conteúdos no atual trimestre pode ajudar a atrair ex-assinantes, disse ele
O trimestre representa o maior "olho roxo" para a Netflix desde 2011, quando a empresa separou seu negócio de DVD-por-correio do streaming. Aquela medida elevou os preços para os clientes e resultou na perda de mais de 800.000 assinantes nos EUA. A empresa planejava chamar o serviço de DVD Qwikster, mas recuou depois que investidores e clientes zombaram da ideia.
Sobre o desempenho mais recente, a Netflix disse que o problema é pontual e não uma questão de longo prazo. O segundo trimestre tem sido tipicamente a época mais fraca do ano: a empresa ficou aquém da sua previsão durante o período em três dos últimos quatro anos. A Netflix pretende angariar 7 milhões de assinantes no trimestre atual, em parte graças ao retorno dos principais programas "Stranger Things" e "Orange is the New Black". "Nossa posição é excelente", disse o presidente-executivo da empresa, Reed Hastings, durante uma teleconferência nesta quarta-feira (17). "Estamos construindo uma incrível capacidade de conteúdo. Nosso produto nunca esteve em melhor forma", destacou.
Análise de desempenho
Vários analistas concordaram que a decepção do segundo trimestre deve ser apenas um escorregão para a Netflix, mas, por enquanto, o déficit do segundo trimestre está renovando a preocupação de investidores com os altos gastos de programação e a baixa rentabilidade da empresa. A Netflix distribuiu mais de US$ 3 bilhões para conteúdo no trimestre e outros US$ 600 milhões para comercializar seus shows. A empresa gastou US$ 594 milhões a mais do que arrecadou e precisará fazer mais dinheiro para financiar a programação.
Os investidores vinham perdoando os gastos e a dívida - desde que o número de clientes crescesse a taxas recordes. Mas, a perda de assinantes nos EUA foi a primeira desde o desastre de Qwikster, e sugere que a Netflix pode estar encontrando resistência em decorrência dos preços ou a chegada nos limites do mercado doméstico. A empresa prevê que pode chegar a 90 milhões de clientes nos EUA, em comparação com 60,1 milhões atuais.
Os resultados internacionais também foram anunciados, com 2,8 milhões de assinantes, abaixo de sua previsão de 4,7 milhões de novos clientes. Europa, América Latina e Ásia foram os principais impulsionadores da carteira de clientes da Netflix nos últimos anos, e o crescimento deve ser sustentado se a empresa justificar sua alta avaliação. A companhia está lançando um pacote mais barato, somente para celulares na Índia, para atrair assinantes em um grande mercado altamente sensível a preços.
Expectativas: otimismo X concorrência
Analistas esperam que a companhia tenha um segundo semestre de grande sucesso devido ao pesado cronograma de lançamentos que inclui uma nova temporada de "The Crown" e filmes dos diretores Martin Scorsese e Michael Bay. Mesmo após a desaceleração no último trimestre, a Netflix ainda acredita que pode ter seu melhor ano de crescimento em 2019, mas a concorrência está chegando.
A Walt Disney e a Apple planejam lançar serviços de streaming este ano, enquanto as ofertas da Comcast e da AT&T chegam em 2020. Esses serviços podem não roubar usuários da Netflix, mas dificultarão o crescimento futuro, de acordo com Michael. Pachter, analista da Wedbush Securities. "Vimos uma prévia do próximo ano com este trimestre", disse Pachter em entrevista à Bloomberg Television, "no próximo ano, eles perderão assinantes em alguns locais".
Outro desafio: os concorrentes estão recuperando direitos de programas populares na Netflix, incluindo "Friends" e "The Office", para ofertar em seus próprios serviços. Isso obrigará a Netflix a confiar ainda mais em produções originais, esforços que já são parcialmente bem-sucedidos. Seus shows acabaram de receber 117 indicações para os prêmios Emmy de 2019, mas as reprises ainda constituem a maioria das exibições.
Essa desaceleração nos usuários ofuscou os resultados financeiros trimestrais da empresa. Os lucros do segundo trimestre caíram para 60 centavos por ação, mas superaram as estimativas dos analistas de 56 centavos. As vendas cresceram 26%, para US$ 4,92 bilhões, em comparação com projeções de US$ 4,93 bilhões.
As ações subiram 35% no ano no fechamento do pregão regular, quase o dobro do ganho do S&P 500. O declínio se espalhou para ações relacionadas, como a Roku Inc., que fabrica set-top boxes que fornecem o serviço de streaming. Suas ações caíram até 2,5%.
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