A Nissan culpou a prisão do ex-presidente Carlos Ghosn por manchar sua marca e contribuir para o declínio no lucro da companhia para o menor nível desde o ano que terminou em março de 2010.
A montadora japonesa previu que terá em 2019 o menor lucro em quase uma década, devido também à fraqueza nos Estados Unidos.
O lucro operacional esperado para o ano encerrado em março deve cair 45% contra um ano antes, a 318 bilhões de ienes (US$ 2,84 bilhões ou R$ 11,3 bilhões), ante previsão anterior de 450 bilhões de ienes, devido a despesas ligadas à concessão de garantias de veículos nos EUA, seu maior mercado.
Este é o segundo corte na previsão de lucro operacional da montadora em dois meses, e adiciona pressão sobre o presidente-executivo, Hiroto Saikawa, que trabalha para revisar a governança da empresa e busca uma posição mais igualitária com a Renault, maior acionista da Nissan.
Analistas alertaram que os problemas da Nissan podem enfraquecer sua relação com a Renault, que vem pressionando por uma fusão mais próxima, proposta que muitos da Nissan se opõem.
"Para manter sua postura contra os laços mais estreitos com a Renault, a Nissan precisa melhorar seu desempenho financeiro", disse Satoru Takada, diretor administrativo da empresa de pesquisa de valores mobiliários TIW.
As ações da Nissan caíram 4% após o aviso do corte de lucro, enquanto as ações da Renault perderam 5,5%.
Ghosn e Nissan
Carlos Ghosn chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado presidente-executivo dois anos depois.
Com cerca de US$ 20 bilhões em dívidas, a montadora japonesa precisou de um tratamento de choque na época. Houve demissões, encerramento de parcerias e fechamento de linhas de produção pouco produtivas.
Apelidado de "cost killer" ("cortador de gastos"), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase EUR 100 bilhões. Isso lhe valeu grande admiração no Japão.
Após o plano de recuperação, a companhia registrou lucros recordes.
Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultaneamente.
Em 2008, Ghosn passou a acumular também a liderança do conselho de administração da montadora japonesa.
Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.
No mesmo ano, a empresa havia investido na Mitsubishi, após a companhia ser afetada por escândalo sobre falsificação de dados sobre emissão de poluentes.
A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias.
A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast