A forte estiagem que atinge grande parte do país neste verão de 2014 já faz com que os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estejam nos níveis mais baixos desde 2001, ano do racionamento. Dados divulgados ontem pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que o volume de água armazenado nas duas regiões no dia 9 deste mês, último dado disponível, representava só 37,6% da capacidade total, patamar considerado extremamente baixo para esta época de ano.
Além do menor nível desde 2001, os reservatórios nas duas regiões, consideradas por especialistas como a "caixa dágua" do setor elétrico por concentrarem 70% da capacidade de armazenamento do Brasil, estão em trajetória de queda. De sábado passado para domingo, o esvaziamento foi de 0,2 ponto porcentual. Já no acumulado do mês de fevereiro, a redução no armazenamento já soma 2,7 pontos porcentuais.
"Em vez de estarem enchendo, os reservatórios estão esvaziando em pleno período de chuvas", explicou o presidente da comercializadora Comerc, Cristopher Vlavianos. Para reverter a tendência de queda e, ao mesmo tempo, compensar a seca de janeiro e fevereiro, o executivo afirmou que teria que chover o dobro da média histórica em março. "Só que ninguém sabe qual será o comportamento das chuvas", ponderou.
Outras regiões
Situação menos desconfortável vive os reservatórios do Nordeste, que no domingo passado estavam com 42,8% da capacidade total. Na mesma data em 2013, o volume armazenado era de 37,1%. A região que tem o cenário mais confortável hoje é o Norte, com nível de 69,3%. No Sul, os reservatórios estão acima de 2013 (48,7% contra 39,6%), mas apresentam acelerada taxa de declínio (8,7 pontos porcentuais no acumulado deste mês).
Com a hidrelétrica de Tucuruí (PA), da Eletronorte, operando com nível de armazenamento de 82,93%, o ONS tem exportado o máximo possível de energia do Norte para o resto do país. No domingo, o volume de energia enviado do Norte para o Nordeste foi de 1,725 mil megawatts (MW) médios e para o Sudeste, de 3,044 mil MW médios. O Sudeste reenviou 2,850 mil MW médios para a Região Sul.
O cenário delicado trouxe dúvidas entre especialistas do setor elétrico sobre a capacidade do sistema em atender adequadamente a demanda do país, sentimento agravado após a falha no sistema de transmissão que deixou 6 milhões de pessoas em 13 estados sem luz na terça-feira passada.
Para administrar o curto prazo, o ONS acionou praticamente todas as térmicas do sistema, conforme indicação dos modelos computacionais, os quais já também sinalizam que hoje é mais racional economicamente racionar energia do que atender a demanda com geração.