Telêmaco Borba - Críticas ácidas à postura de vários setores da sociedade em relação à crise econômica mundial marcaram o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem em Telêmaco Borba. Durante uma solenidade para celebrar os 110 anos da fábrica de papel Klabin, Lula não poupou a imprensa, os especuladores, os países ricos e quem concentra as exportações apenas em grandes compradores. O presidente usou o discurso escrito apenas para ler o nome das autoridades presentes e depois dispensou o calhamaço de papel e falou de improviso por meia hora.
Prometendo pensar em uma política de desenvolvimento para o setor papeleiro, Lula destacou que há 60 milhões de hectares de terras degradadas que poderiam ser "arborizados". "É uma vergonha o Brasil não ser o maior produtor do mundo de papel e celulose", alfinetou, ressaltando que o tempo que uma árvore de corte leva para crescer no Brasil é, às vezes, até quatro vezes menor que em alguns países que disputam o mercado de papel. "Precisamos ser arrojados na questão do papel e celulose e vamos ver isso, não é Horácio [Lafer Piva, um dos acionistas da Klabin e ex-presidente da Fiesp]?", cobrou o presidente.
O presidente também pediu que os empresários exportadores dêem mais atenção a mercados alternativos, como o continente africano e a América Latina, que seriam mais interessantes que vários países europeus ou mesmo que os Estados Unidos e a China. Além disso, lamentou os números do risco Brasil. "Os Estados Unidos [estão] numa quebradeira danada e o risco é zero. E nós aqui com esse risco Brasil. Qual país do mundo que é um porto mais seguro que o Brasil?", indagou, acrescentando que as agências que elaboram os índices de classificação de risco são estrangeiras e, por isso, não mereceriam tanta confiança. "Vamos fazer uma avaliação nossa e mandar pra eles", propôs.
Sucesso na cabeça
Aproveitando o embalo do sucesso que fez na reunião dos países mais importantes do mundo, em Londres, há duas semanas, quando foi chamado de "o cara" pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Lula disse que "o Brasil vive o mais importante momento de respeitabilidade econômica e política no mundo". O presidente disse que pediu aos líderes do G-20 apenas que façam a lição de casa. "Se eles recuperarem a economia deles já está bom para nós", ressaltou.
Para o presidente, a impressão de que o problema econômico é maior tem prejudicado as tentativas de melhorar o cenário. "Às vezes eu chego a pensar que 50% do resultado da crise é um pouco de pânico que tomou conta da sociedade. Quando conversei com o Obama, eu disse que, se não houver movimento mundial para convencer o consumidor a acreditar no poder de consumo, comprar o que precisa sem se endividar, a economia para", enfatizou.
Lula afirmou ainda que a imprensa teria uma parcela significativa de culpa nessa "sensação de crise". "Quem não respeita o Brasil a não ser nós mesmos? Tem um tipo de gente que, se não tiver uma coisa ruim para falar, coisa boa ele não fala. Levanto de manhã e não leio nenhum jornal. Não me peçam pra ver, porque senão a azia explode. Tem determinados momentos em que você sai do Brasil e vai para a Espanha, e vai para Londres, e vai para Nova Iorque. Chega lá e lê a imprensa de lá falando sobre o Brasil. Não tem nada a ver uma com a outra. Uma está vendendo otimismo sobre o nosso país e a outra está vendendo pessimismo", discursou.
Essa foi a primeira visita oficial do presidente aos Campos Gerais. Ele esteve em Ponta Grossa, em 2002, quando ainda era pré-candidato à Presidência da República. Depois da solenidade no Paraná, Lula seguiu para uma feira de equipamentos bélicos no Rio de Janeiro.