As modalidades de aluguel para moradia foram atualizadas. No vácuo do Airbnb — especializado na oferta de estadia por diária — surgem alternativas para quem procura estadias descomplicadas mas de maior duração. Caso de quem vai morar em uma cidade em uma curta temporada, para estudar ou trabalhar. Ou apenas quer fazer uma locação sem ficar preso por 12 meses àquele contrato. A britânica RoomGo e a ShortStay, focada no mercado de Curitiba, são exemplos de plataformas que buscam novos modelos de locação.
A principal diferença é que o Airbnb costuma ser pensado para estadias curtas, normalmente turísticas. Já o que as duas empresas oferecem é, de fato, que as pessoas morem nestes espaços. As empresas também eliminam a necessidade de uma extensa lista de documentos, fiador ou seguro-fiança.
Apartamentos completos com serviços inclusos
A ShortStay Curitiba se considera “um mix entre uma imobiliária tradicional e AirBNB”, comenta a empresária Fernanda Feres. Os contratos da ShortStay têm, geralmente, duração mínima de 30 dias, e podem ser estendidos, numa espécie de aluguel “por recorrência” (modelo de cobrança como o da Netflix). Os imóveis seguem um padrão: os apartamentos devem ser completamente mobiliados, incluindo eletrodomésticos – 80% deles são estúdios de um dormitório –, estar com a luz ligada, além de se localizar na região central ou próxima a ela, num raio de 1km a 2km de distância.
A empresa fornece um enxoval com pratos, copos e talheres, serviço de limpeza semanal e também administra as contas do imóvel, como condomínio, IPTU e conta de luz. “A ideia é que o cliente encontre um apartamento pronto para morar. As contas vêm juntas em um só boleto, que inclui a tarifa de aluguel e mais os serviços extras que oferecemos”, explica Feres.
Segundo Feres, 60% do seu público é relacionado ao mundo dos negócios. Geralmente, pessoas que foram transferidas para Curitiba e precisam de uma solução rápida de moradia. A ShortStay fechou, inclusive, um contrato mais robusto com a empresa T-Systems, que possui um projeto desenvolvido em Curitiba e buscou uma solução para acomodar seus colaboradores de forma mais confortável e econômica.
Aluguel corporativo
Fabio Elton, gerente que represente os projetos da T-Systems na capital paranaense, conta que a empresa trazia, toda semana, uma equipe de São Paulo, que ficava hospedada em hotel. “Levando as pessoas para os apartamentos, conseguimos proporcionar maior conforto aos nossos funcionários e reduzimos custos. Além dos apartamentos completos, o prédio onde eles ficam é próximo a um shopping, possui piscina, academia, salão para confraternizações”, relata.
Ele conta que o projeto desenvolvido em Curitiba é bastante complexo, e que a mudança na acomodação ajudou a manter os funcionários motivados. “Quando chega o final de semana, alguns deles nem querem retornar a São Paulo”, conta. A T-Systems alugou dez apartamentos em um prédio próximo ao Shopping Estação e cada funcionário mora sozinho em um imóvel. “Vamos iniciar um segundo projeto em Curitiba e devemos seguir o mesmo formato”, revela.
Mais de 400 imóveis
Atualmente, a ShortStay possui 420 imóveis cadastrados com exclusividade em seu site e a taxa de ocupação é de 90%. Segundo Feres, os números mostram como o negócio é também interessante para os proprietários, uma vez que a agilidade de locação é maior e o imóvel costuma ficar 80% do tempo ocupado. “Fechamos contratos muito mais rapidamente, justamente porque tem giro maior”, aponta.
Com tícket-médio variando entre R$ 1.800 e R$ 2.000 (já com os serviços extras inclusos), a empresa recebe uma porcentagem do valor do aluguel. Com a receita bruta só da fatia que fica para ela, a ShortStay Curitiba tem renda bruta de R$ 60 mil ao mês.
Fernanda e seu marido, Marcelo, idealizaram a empresa após morarem por cinco anos na Inglaterra. Lá perceberam como existiam diferentes arranjos de aluguel temporário. Quando voltaram ao Brasil, Fernanda foi trabalhar na construtora de um tio, e ali teve um contato ainda mais próximo com o mundo imobiliário. “Percebemos que muitos apartamentos eram vendidos para investidores que compravam o imóvel para locação (...) e também que o público para quem as imobiliárias atuavam era sempre o mesmo”, aponta.
Roomgo foca no aluguel de quartos
Antiga EasyQuarto, a Roomgo chegou ao Brasil em 2006. A plataforma surgiu em 2000 em Londres, com a proposta de ser uma alternativa ao aluguel convencional na cidade, que à época estava com preços cada vez mais altos, de acordo com a empresa.
Diferente da ShortStay, a Roomgo reúne quartos (e não apartamentos) para moradia. “Nossa principal meta é conectar pessoas em busca de quartos para alugar com quem têm estes espaços para locar, não importa o tipo de imóvel ou quem está ofertando, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas”, explica Jack Martin, general manager da Roomgo.
A Roomgo faz o contato entre os proprietários e quem deseja alugar, mas não participa da negociação nem dos valores, nem do período de contrato. “Nosso foco são estadias de longa duração, uma vez que é claro para nossos usuários que oferecemos espaços para moradia. O trabalho que fazemos é para que o proprietário encontre o inquilino certo e vice-versa. Nos demais acordos, não interferimos”, esclarece o gerente.
Para cadastrar um imóvel ou quarto, basta acessar o site da Roomgo, responder a algumas perguntas sobre o espaço que quer disponibilizar e sobre si mesmo. A plataforma possui uma equipe de monitoramento, que confere as informações. “Caso haja algum problema, o anúncio nem chega a ser publicado. Além disso, a qualquer momento o usuário, seja inquilino ou locatário, pode denunciar outro membro e nós vamos verificar e chegar a autenticidade do perfil”, diz Martin. A equipe também checa todas as fotos imóveis manualmente.
Expansão para o Brasil
Após implementarem o serviço na Inglaterra e nos Estados Unidos, a empresa passou a operar em outros países também da Europa e, em 2006, com um mercado consolidado na região, perceberam a oportunidade de expandir para países fora do continente europeu, entre eles o Brasil. “A escolha de vir ao Brasil tem a ver com a sua extensão territorial e sua grande população, que faz com que o país tenha importantes centros urbanos”, explica Martin.
Desde que virou Roomgo, em abril de 2018, a empresa também desenvolveu um novo modelo de negócio no Brasil, na Argentina e no México, primeiros a adotarem o novo nome. Nestes países, a plataforma é 100% gratuita na operação (criar um perfil, realizar a busca, interagir com outros usuários para negociação de imóveis, etc). Neste modelo, a plataforma retira sua remuneração de anúncios pagos por usuários que desejam impulsionar e dar maior visibilidade para seu imóvel, independente dos filtros de buscas.
Nos demais países onde atua – ao todo são 25 –, a empresa atua com o sistema de contas básicas e premium. A inscrição e a busca, nestes casos, seguem gratuitas, mas se um usuário desejar conversar com outro, é preciso ter uma conta paga para enviar a mensagem. Neste modelo, o rendimento da empresa vem das mensalidades pagas. “O Brasil é responsável por metade das receitas que obtemos na América Latina. Nosso serviço aqui é muito bem aceito e sabemos que, apesar de já sermos o maior site de compartilhamento de quartos do país, ainda há espaço para crescermos muito mais”, diz Martin.
Foco em jovens
O público da Roomgo é variado, segundo o empresário, mas formado principalmente por jovens, uma vez que 60% dos usuários têm entre 18 e 34 anos. As mulheres representam 65% do total de usuários.
Os valores dos aluguéis variam de cidade para cidade e de bairro para bairro. Em São Paulo, por exemplo, é possível encontrar quartos por R$ 400 em alguns bairros e por R$ 2.500 em outros. Em Curitiba, a média de valor dos quartos é de R$ 618.
Atualmente, a Roomgo tem 5.764 quartos disponíveis para locação, em um universo de 2 milhões de usuários no Brasil. No Paraná, são 881 quartos para 127 mil usuários cadastrados. Curitiba responde por 75 mil usuários e 236 quartos ofertados no momento.
Aluguel sem imobiliária
Outra empresa que atua no segmento de locação é a brasileira Quinto Andar, que mantém a figura do corretor, mas elimina a imobiliária e a fiança. A startup encontra os locatários e age como uma garantidora (para quem comprovar um histórico de crédito confiável), eliminando intermediários, mais especificamente, as imobiliárias. Faz também algumas funções do proprietário, como consertar uma pia quebrada, o que faz com que os donos dos imóveis gastem menos tempo e dinheiro durante todo o processo.
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