O prêmio Nobel de Economia de 2018 foi concedido nesta segunda-feira (8) aos economistas americanos William Nordhaus e Paul Romer por estudos que unem inovação tecnológica e mudança climática para criar crescimento econômico sustentável.
“Os laureados ampliaram o escopo da análise econômica ao construir modelos que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e o clima”, afirmou a Academia Real Sueca de Ciências, no comunicado divulgado nesta manhã, em Estocolmo.
A tecnologia e o meio ambiente são, hoje, considerados temas essenciais para a compreensão do desenvolvimento econômico. Ao analisar as causas e as consequências da inovação e das mudanças climáticas, os dois economistas melhoraram a compreensão sobre políticas que podem contribuir para o crescimento sustentável.
Aos 77 anos, William Nordhaus, da Universidade de Yale, foi reconhecido por seu trabalho pioneiro na aplicação de análises econômicas às previsões de mudanças climáticas. Nordhaus é, por exemplo, um dos principais defensores da cobrança de um imposto sobre as emissões de carbono com o propósito de diminui-las. O modelo desenvolvido pelo pesquisador de Yale integrou resultados de diferentes áreas –como física e química– para compreender a evolução conjunta entre a economia e o clima.
Nascido em Albuquerque, no estado do Novo México, em 1941, Nordhaus fez seu trabalho de graduação em Yale e obteve seu doutorado em Economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, em 1967. Ele retornou a Yale para lecionar naquele ano e, desde então, esteve em New Haven, Connecticut, exceto por um mandato de dois anos como membro do Conselho de Assessores Econômicos do Presidente Jimmy Carter, de 1977 a 1979.
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Aos 62 anos, Paul Romer, da Stern School of Business, da Universidade de Nova York, é o criador da Teoria do Crescimento Endógeno, se destaca por levar em conta inovações tecnológicas em suas análises. A Academia Sueca destaca que sua pesquisa “mostra que é o acúmulo de ideias que sustenta o crescimento econômico de longo prazo”. Romer deixou o cargo de economista-chefe do Banco Mundial este ano.
Romer foi o primeiro a inverter uma linha clássica de investigação acadêmica. Pesquisadores em macroeconomia costumavam analisar o impacto da evolução tecnológica sobre o crescimento. O economista da NYU resolveu, então, focar no contrário, ou seja, em como o ambiente econômico determina as condições para a criação de novas tecnologias, contribuindo para o estudo de regulações que incentivam a inovação.
O trabalho mais influente de Romer, publicado em 1990, “gerou uma grande quantidade de novas pesquisas sobre os regulamentos e políticas que incentivam novas ideias e prosperidade a longo prazo”, disse a Academia. Romer defende que as mudanças que têm mais impacto para o progresso são as que acontecem nas cidades – e não as decorrentes das grandes decisões nacionais.
Seu modelo preferido é o das vizinhas Hong Kong e Shenzhen, metrópoles chinesas onde foram aplicadas políticas que aceleraram seu desenvolvimento e acabaram por transformar o país. O economista já propôs que a nova Cuba seja construída a partir de uma Guantánamo entregue ao Canadá.
O próprio Romer tentou implementar o que chama de “cidade-manual” em Honduras, projeto abandonado após problemas com o governo local.
Natural de Denver, no Colorado, Romer é é bacharel em matemática pela Universidade de Chicago. Depois de fazer pós-graduação no MIT e na Universidade de Queens, ele fez doutorado em economia pela Universidade de Chicago, em 1983.
Os laureados deste ano foram anunciados quando as Nações Unidas emitiram um alerta severo sobre a crescente ameaça das mudanças climáticas, acrescentando pressão aos políticos e líderes empresariais para que façam mais para enfrentar os riscos. A premiação também acontece pouco mais de um ano após o presidente dos EUA, Donald Trump, retirar a maior economia do mundo do acordo climático de Paris.
No ano passado, o prêmio foi atribuído ao americano Richard Thaler por seus estudos sobre a influência de certas características humanas, como a racionalidade limitada, as preferências sociais e a falta de autocontrole, nos comportamentos dos consumidores ou investidores.
O Nobel da Economia celebra este ano o 50.º aniversário. Criado em 1968 por ocasião do aniversário de 300 anos do Banco da Suécia, o Nobel é o prêmio mais importante para um pesquisador na área de Ciências Econômicas.
Nobel 2018
Quatro prêmios Nobel já foram anunciados neste ano.
A descoberta da imunoterapia contra o câncer recebeu o Nobel de Medicina. Trata-se de uma estratégia que remove o “disfarce” dos tumores para que o próprio organismo lute contra a doença.
Os pesquisadores Arthur Ashkin, Gérard Mourou e Donna Strickland receberam o Nobel de Física por seu trabalho para transformar lasers em ferramentas poderosas. Strickland é a primeira mulher a ganhar o prêmio de física desde 1963.
O Nobel de Química foi concedido a Frances Arnold, George Smith e Gregory Winter por utilizarem em suas pesquisas princípios básicos da evolução biológica por seleção natural para desenvolver novas moléculas e produtos in vitro.
O Nobel da Paz foi concedido à dupla que luta pelo fim da violência sexual em conflitos armados. O prêmio foi dado a Denis Mukwege, ginecologista congolês, e Nadia Murad, iraquiana que teve coragem de relatar o seu sofrimento e de outras mulheres nas mãos do Estado Islâmico.
O Nobel de Literatura de 2018 será anunciado somente em 2019, devido ao envolvimento da Academia Sueca, que concede o prêmio, em um escândalo de assédio sexual.
Quem recebeu o Nobel de Economia nos últimos 10 anos:
2017 - Richard H. Thaler (EUA), 72, por estudo do comportamento na tomada de decisões
2016 - Oliver Hart (Grã-Bretanha) e Bengt Holmström (Finlândia), 67, por estudos na área de contratos
2015 - Angus Deaton (EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social
2014 - Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas
2013 - Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos
2012 - Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda
2011 - Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia
2010 - Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las
2009 - Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente
2008 - Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica
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