A escolha de Edmund Phelps para o Prêmio Nobel de Economia, anunciada na semana passada, reforça as teses seguidas nos últimos anos pelo Banco Central brasileiro. A adoção de metas de inflação e a política de juros altos combina com as teorias de Phelps, que foi reconhecido pela Real Academia Sueca de Ciências pelo seu trabalho sobre as relações entre a inflação e o desemprego.
Os estudos que valeram o Nobel para Phelps foram publicados pela primeira vez há 40 anos. Na época, a teoria vigente rezava que desemprego e inflação têm relação inversa ou seja, que um aumento de inflação resulta em queda do desemprego, ou vice-versa. Mas o economista americano concluiu que esse mecanismo só funcionava dessa maneira no curto prazo. Com o passar do tempo, as expectativas dos agentes econômicos anulam os efeitos do aumento de preços sobre o emprego.
Funciona assim: empresas e dos trabalhadores assalariados passam a negociar salários mais altos, antecipando uma alta de preços que viria somente mais tarde. Esse movimento alimenta mais a inflação, o consumo cai e as empresas deixam de contratar. "Na atividade econômica, em termos reais (descontada a inflação), nada se altera", diz o economista Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Segundo Gonçalves, na década 70 já passou a ser visível na economia mundial que as conclusões de Phelps estavam corretas.
Para Gonçalves, o prêmio de Phelps, de uma certa forma, também leva a um reconhecimento das idéias dominantes na atuação do BC. As metas de inflação, que o Brasil adotou em 2001, seguem a mesma lógica de que um controle restrito dos índices de preços não limita o crescimento econômico. "Esse pensamento é algo bem incorporado no Banco Central brasileiro", diz. Assim, a lista dos agraciados com o Nobel pode ser um argumento a mais para o governo ignorar pressões de empresários e economistas que defendem a tese de que um pouco de inflação não faria mal, porque mais crescimento e empregos seriam gerados.
Da mesma maneira, o consumidor que vai às lojas e encontra os produtos sempre com os mesmos preços, mas paga o dobro se optar pelo crediário, pode culpar Phelps indiretamente pelo que está acontecendo. A taxa básica de juros (a Selic, que o BC discute esta semana e que pode ser reduzida para 13,75% ao ano) é usada na política monetária como uma maneira de regular a quantidade de moeda no mercado. Explicando: taxas mais altas levam os pessoas e empresas a poupar mais e gastar menos, deixando menos dinheiro em circulação; assim como juros baixos estimulariam as compras porque o desembolso, contadas todas as parcelas, seria menor.
Se, como Phelps diz, permitir o aumento da inflação não altera o crescimento econômico, é possível deduzir que baixar os juros não provocaria o aquecimento. "Pensando assim, nosso Banco Central acredita que a taxa de juros controla apenas a inflação, e não afetaria o crescimento nem o nível de emprego no longo prazo. Para os dirigentes do BC, o aumento da quantidade de moeda em circulação só representaria um aumento nos preços", explica o professor de Macroeconomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado.
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