Curitiba – A corrida contra o relógio ecológico envolve diversos setores da economia, principalmente o de energia elétrica. Discussões sobre os limites entre a necessidade de estrutura para o crescimento econômico e os benefícios da preservação ambiental têm ficado mais comuns, envolvendo obras importantes e lugares com ecossistemas únicos. No Paraná, a área de infra-estrutura tem diversos exemplos da dificuldade para se conciliar essas duas frentes, já que há idéias para se construir hidrelétricas, ferrovias e estradas em locais considerados de delicado equilíbrio ambiental.

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O desempenho do setor de energia elétrica nos próximos anos, por exemplo, depende da licença para construção de novas hidrelétricas. O Ministério de Minas e Energia (MME) conta com a entrada em operação de 17 usinas entre 2009 e 2010, mas a demora para que saiam as licenças ambientais deve impedir que a oferta cresça como o planejado. A intenção do governo federal era licitar os projetos até o fim deste ano para que ficassem prontos antes do fim da década. No mercado, porém, há receio de que haverá esvaziamento ou cancelamento do leilão.

Se o MME mantiver de pé a licitação dos projetos, é provável que só ofereça entre sete ou oito usinas, metade do previsto. Com isso, aumenta o risco de um novo apagão no país em 2009. Em seu planejamento energético, o Operador Nacional do Sistema (ONS) observa que a probabilidade de uma demanda maior que a oferta nas regiões Norte e Nordeste é maior do que a margem aceita pelo órgão, que é responsável pela organização da distribuição de eletricidade no Brasil. Sem as usinas em fase de licenciamento, este cenário deve se agravar.

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Das 17 hidrelétricas dentro dos planos federais, quatro estão no Paraná. Uma delas, a de Telêmaco Borba, foi descartada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) porque inundaria uma área indígena à beira do Rio Tibagi. A usina de Mauá, também no Tibagi, tem sofrido muitas críticas de organizações ligadas à preservação do rio, que faz parte de um dos ecossistemas mais preservados do estado. Outro projeto, o do Baixo Iguaçu, também pede licença para alterar uma área complexa, o Rio Iguaçu, perto do Parque Nacional do Iguaçu. A quarta hidrelétrica, no Rio Chopim, é a que tem menor potencial de geração de energia e maior probabilidade de ser liberada.

Outras obras polêmicas estão na área de transportes. Dois projetos de ferrovias mexem com regiões protegidas. O mais adiantado é o do contorno ferroviário de Curitiba, pensado para desviar o tráfego de trens que hoje passam por bairros populosos da capital. Os trilhos passariam sobre a bacia do Rio Passaúna, de onde vem parte da água consumida na região metropolitana de Curitiba (RMC). O estudo de impacto ambiental precisa ser reapresentado e as discussões públicas sobre as obras ainda terão de ocorrer.

O segundo projeto, que não foi oficialmente apresentado, é a duplicação da ferrovia Curitiba-Paranaguá. Os trilhos atuais são antigos, com capacidade de carga abaixo do ideal. Como mexe com um trecho da Serra do Mar, a obra deve passar por um processo de licenciamento bastante difícil.

Todos esses planos ilustram como o desenvolvimento interfere no meio ambiente. A sociedade terá de decidir caso a caso se o custo ambiental será compensado pelo ganho econômico. "O ser humano sempre extraiu o sustento da exploração do planeta. Só que isso tem que ser feito dentro de um equilíbrio", resume o empresário Ardisson Akel, vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).