Entrevista com Joel Malucelli, presidente do Grupo J. Malucelli
Apesar dos rumores que circulararam a partir da última terça-feira, a paranaense J. Malucelli Construtora não vai abandonar o consórcio Norte Energia, vencedor do leilão de concessão da hidrelétrica de Belo Monte. O que pode ocorrer é uma mudança provavelmente uma redução na participação societária da empresa, hoje de 9,98%, em razão da entrada de novos sócios no consórcio. As afirmações são do presidente da empreteira, Joel Malucelli, que concedeu entrevista à Gazeta do Povo no fim da tarde de sexta-feira. "Nossa permanência está consolidada. Uma alteração que pode ocorrer é nas participações societárias, algo que o próprio edital do leilão já contemplava, e que vamos discutir com nossos parceiros nos próximos dias", disse o empresário.
Malucelli contou que sua intenção era participar do leilão em sociedade com a Companhia Paranaense de Energia (Copel) a estatal sempre descartou participar do certame , mas que "não houve tempo suficiente" para a formação do consórcio. A entrada da empreiteira paranaense em Belo Monte, segundo ele, foi "acelerada" por uma oportunidade: a desistência das concorrentes Camargo Corrêa e Odebrecht. As duas companhias anunciaram sua retirada dias antes do leilão, fazendo com que o governo federal estimulasse a formação às pressas de um novo consórcio para concorrer com o Belo Monte Energia, tido como favorito.
"Azarão", o Norte Energia arrematou a concessão da hidrelétrica ao oferecer uma tarifa de R$ 77,97 por megawatt-hora (MWh), cerca de 6% inferior ao teto de R$ 83. Para muitos analistas, o lance vencedor é baixo demais para um empreendimento tão grande e repleto de desafios na área de engenharia. Joel Malucelli, no entanto, diz que o retorno permitido pela tarifa será satisfatório. "A realidade, hoje, é de buscar uma taxa interna de retorno ao redor de 10% ao ano. E é essa a taxa que Belo Monte vai proporcionar." Confira trechos da entrevista.
A J. Malucelli vai participar da construção de Belo Monte? A ideia é participar da usina como investidores e também como construtores. Temos know-how para isso, já construímos três barragens no Rio Grande do Sul, uma em Goiás, e estamos construindo outra em Goiás e mais a usina de Mauá [que fica na região dos Campos Gerais e será operada pela Copel]. Nossa permanência [em Belo Monte] está definida, está consolidada. Uma alteração que pode ocorrer é nas participações societárias, algo que o próprio edital do leilão já contemplava, e que vamos discutir com nossos parceiros nos próximos dias. A própria Chesf [Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, a líder do consórcio vencedor, com 49,98%] já admite a entrada da Eletronorte no consórcio. E existe também o interesse dos fundos de pensão, que ainda vão se pronunciar.
Como surgiu a ideia de disputar a usina?Nossa intenção era participar desse leilão junto com a Copel. Conversamos com a Copel sobre isso, mas não houve tempo suficiente para formar o consórcio. A partir do momento em que grandes construtoras se afastaram da disputa, surgiu a possibilidade de nos apresentarmos. Nossa entrada foi acelerada depois da desistência delas. Tivemos a sorte e também a competência de participar do consórcio que venceu o leilão. Temos que lembrar que nós ajudamos a Copel a vencer o leilão de Mauá, ao apresentarmos um preço melhor que o oferecido pela Andrade Gutierrez. Nosso preço permitiu à Copel oferecer uma tarifa menor e vencer o leilão. E hoje Mauá é uma obra exemplar, que nos credencia a construir Belo Monte.
O que representa participar de Belo Monte?Em primeiro lugar, é motivo de orgulho um grupo paranaense participar daquela que será a terceira maior hidrelétrica do mundo e que provavelmente será a maior obra em execução do mundo. Para nós, do Grupo J. Malucelli, é um passo à frente que estamos dando no sentido de nos consolidarmos entre as dez maiores construtoras de obras pesadas do país. Hoje estamos entre o 10.º e o 12.º lugar.
Mas o grupo tem fôlego suficiente para ajudar a tocar um empreendimento avaliado em R$ 19 bilhões? Temos, sim. O patrimônio do grupo hoje beira os R$ 2 bilhões, e só pudemos participar do leilão por termos comprovado nossa capacidade financeira.
Como foi o ano de 2009 para o Grupo J. Malucelli? O que se espera para 2010?No ano passado, faturamos perto de R$ 1,8 bilhão. O crescimento sobre 2008 ficou ao redor de 35%, graças às áreas de seguro, resseguro e construção, esta por causa de Mauá e também por vários contratos que temos dentro do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Para 2010, a previsão do nosso orçamento é de um crescimento de 15% [que levaria o faturamento anual a cerca de R$ 2 bilhões]. Mas, como muito disso virá de obras de infraestrutura, que dependem de licenças ambientais que podem sair mais cedo ou mais tarde do que prevemos, esse número pode mudar.