A empresa aérea chilena JetSmart está intensificando suas operações internacionais no Brasil. A partir de julho, o número de rotas operadas aumentará de sete para dez. Duas novas cidades serão incorporadas à malha: Curitiba e Porto Alegre. A empresa não esconde um desafio maior: até 2028, pretende operar voos domésticos no país, um mercado altamente concentrado, onde três empresas detêm 99,5% de participação, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“O Brasil é parte da estratégia para o futuro da JetSmart”, afirma Veronica Álvarez, gerente de mercados internacionais. Atualmente, a empresa opera voos domésticos na Argentina, Chile, Colômbia e Peru, além de voos internacionais na América do Sul.
A decisão de operar voos domésticos no Brasil dependerá do planejamento estratégico da empresa e da consolidação dos mercados em que atua. Em março, a empresa iniciou as operações domésticas na Colômbia, o segundo mercado mais importante na América do Sul. “Identificamos uma demanda reprimida lá, especialmente após a saída de algumas empresas do mercado no ano passado.”
A JetSmart tem algumas cartas na manga. Uma delas é a facilidade para expandir a frota, devido às encomendas que possui. Atualmente, a empresa opera com 35 aviões Airbus 320neo e 321neo. A expectativa é aumentar para 50 no próximo ano e chegar a cerca de 120 em 2028.
Especialistas consultados pela Gazeta do Povo apontam que um dos desafios para entrar em mercados continentais é a escala para iniciar as operações. “Quando entrarmos, será com força. Não é possível operar um mercado tão grande como o brasileiro com apenas três a cinco aviões”, diz a executiva da empresa chilena.
Outra vantagem da empresa chilena é estar vinculada a um grupo com forte expertise no mercado aéreo. A JetSmart pertence ao fundo americano Indigo Partners, que também possui companhias aéreas operando na Ásia (Cebu Pacific), Canadá (Lynx), Estados Unidos (Frontier), Europa (Wizz) e México (Volaris).
Atenção à solidez e à estabilidade da economia
As condições de mercado serão fundamentais para a JetSmart avançar nos planos para o Brasil. “Precisamos de uma economia sólida e de estabilidade para garantir os investimentos. O governo precisa assegurar uma concorrência saudável entre as empresas”, afirma Álvarez.
A insegurança jurídica tem se mostrado um obstáculo para a entrada de novas empresas aéreas no mercado brasileiro. “É um assunto que assusta os potenciais investidores”, disse Jurema Monteiro, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), em entrevista à Gazeta do Povo.
Apesar de o Brasil possuir um bom arcabouço jurídico para o setor, que permite a entrada de empresas com 100% de capital estrangeiro, Marcelo Guaranys, especialista em direito aeronáutico da Demarest Advogados e ex-presidente da Anac, diz que há frequentes tentativas de modificá-lo.
Uma das questões frequentemente discutidas é a cobrança de bagagens despachadas no porão das aeronaves. A prática foi autorizada pela Anac em 2016 e implementada em 2017, mas cinco anos depois, o Congresso tentou derrubá-la. A intenção foi vetada pelo então presidente, Jair Bolsonaro (PL). A justificativa foi que a medida levaria as companhias aéreas a revisarem o preço das passagens devido ao aumento dos custos operacionais.
Guaranys lembra que a cobrança de bagagens é uma questão fundamental para a operação de empresas de baixo custo e ultrabaixo custo, segmento do qual a JetSmart faz parte.
Segundo Álvarez, é importante que o passageiro possa viajar com as vantagens deste modelo, que é a redução no preço da passagem aérea. Na JetSmart, 30% dos passageiros viajam sem bagagem.
JetSmart quer ampliar operações internacionais a partir do Brasil
A executiva destacou que, até o início das operações domésticas, a empresa pretende ampliar as operações de voos internacionais a partir do Brasil. Atualmente, tem frequências a partir dos aeroportos de Florianópolis, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro (Tom Jobim/Galeão) e São Paulo (Guarulhos).
“Estamos consolidando, em um primeiro momento, as operações no Sul do país. Enxergamos grandes oportunidades no Nordeste”, diz Álvarez.
Outra possibilidade é transformar operações sazonais, como a de Curitiba a Santiago do Chile, em permanentes. “Vamos testar os mercados”, ressalta a executiva.
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