A Califórnia quer ter cinco milhões de carros livres de emissões rodando pelas suas estradas até 2030. A China, com uma população muito maior, quer ter sete milhões de veículos elétricos até 2025. A Califórnia tem um programa que limita as emissões de usinas, fábricas e fornecedores de combustíveis. A China está lançando um sistema similar para reduzir o consumo de combustível e a dependência das importações de petróleo.
Embora as políticas liberal e autoritária da Califórnia e da China formem um estudo de contrastes, ambos os lugares estão adotando uma abordagem de cima para baixo no combate ao aquecimento global forçando uma mudança em energia e transporte. A China, de fato, modelou sua política de carros elétricos seguindo o programa da Califórnia, após anos de colaboração entre autoridades dos dois lados do Pacífico.
“A China referenciou e aprendeu com a Califórnia”, disse Yunshi Wang, diretor do Centro de Energia e Transporte da China, na Universidade da Califórnia, em Davis.
O governador da Califórnia, Jerry Brown, se reuniu na China no ano passado com o presidente Xi Jinping. As conversas se concentraram em estratégias para combater o aquecimento global e aconteceram pouco depois que o presidente Donald Trump disse que os Estados Unidos sairiam do acordo climático de Paris. Os laços entre líderes políticos na China e na Califórnia são ainda mais notáveis em uma época em que Washington e Pequim estão à beira de uma guerra comercial.
A abordagem de Brown para a política energética pode, em breve, entrar na mira do governo Trump, que está considerando revogar a capacidade da Califórnia de estabelecer seus próprios padrões de emissões para automóveis. As montadoras norte-americanas estão tentando mediar um acordo entre Califórnia e Washington, preocupadas que potenciais batalhas judiciais possam levar a anos de incerteza em relação às políticas de controle da poluição. A Califórnia, como o maior mercado automobilístico, tende a moldar a política nacional; Nova York e vários outros estados que respondem por um terço das vendas de veículos dos EUA adotaram os padrões da Califórnia.
A China e a Califórnia, juntas, podem exercer uma influência semelhante na adoção de veículos elétricos. A China ultrapassou os EUA em 2015 para se tornar o maior mercado mundial de carros elétricos, com vendas de veículos baseados em novas fontes de energia — categoria que inclui carros movidos a bateria, híbridos e de célula de combustível — possivelmente superando um milhão este ano, segundo Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. A Califórnia também representa cerca de metade do mercado de carros elétricos dos EUA e agora tem mais de 375 mil híbridos nas estradas.
Enquanto carros movidos a bateria forem mais caros do que os equivalentes a gasolina, os subsídios e políticas públicas usados pela China, Califórnia e outros governos para incentivar a adoção continuarão sendo vitais. Os carros elétricos representaram menos de 2% das vendas mundiais de carros novos em 2017, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance. Defensores da energia limpa apontam para o exemplo da energia solar e eólica, para o qual políticas públicas ajudaram a impulsionar a demanda que, eventualmente, reduziu os custos a um ponto onde a energia renovável pode competir em preço com usinas de combustível fóssil.
“A esperança é que essas políticas e incentivos ajudem a criar novos conhecimentos que reduzirão os custos e melhorarão a qualidade e, ao fazê-lo, tornarão o custo competitivo com o motor de combustão interna”, disse Severin Borenstein, especialista em energia e professor de administração da Universidade da Califórnia em Berkeley. “É um trecho real, porque o motor de combustão interna é realmente competitivo em termos de custo.”
Aqui está uma olhada nas políticas que a Califórnia e a China estão usando para inaugurar a era do carro elétrico:
1. Políticas para montadoras
A Califórnia exige que as montadoras que fazem negócios no estado vendam um número determinado de carros elétricos por meio de seu programa de veículos de emissão zero. Existem duas maneiras de atender à exigência: vender carros não poluentes ou comprar créditos excedentes ganhos pelos concorrentes.
Embora o programa tenha forçado as montadoras a oferecerem mais opções de carros elétricos — mais de 20 modelos híbridos e elétricos já estão disponíveis, em comparação a apenas uns poucos, alguns anos atrás —, há indícios de que ele também precisa ser ajustado. A Tesla já vendeu mais de US$ 1,2 bilhão em créditos e algumas montadoras estocaram o suficiente em créditos para não precisarem vender carros elétricos por anos.
A China está adotando um programa similar. Fabricantes de automóveis na China devem ganhar créditos de veículos de novas fontes de energia produzindo carros elétricos, parte da gradual eliminação de outros subsídios do país. As montadoras precisarão que pelo menos 10% dos veículos vendidos em 2019 se qualifiquem para os créditos. As empresas que não cumprem o requisito podem pagar multas ou comprar créditos de rivais.
Steve Man, analista da Bloomberg Intelligence em Hong Kong, disse que “esses subsídios generosos estão quase acabando e os controles de emissões estão ficando mais rigorosos”.
2. Incentivos para os consumidores
Os consumidores que querem comprar um veículo elétrico na Califórnia podem aproveitar um desconto de US$ 2.500. O estado gastou cerca de meio bilhão de dólares em descontos para carros movidos a bateria, híbridos e a célula de combustível, de acordo com dados do estado, e o governador Brown propôs estender subsídios como parte de uma iniciativa de carros elétricos de US$ 2,5 bilhões, proposta em janeiro. Combinados com um crédito fiscal de US$ 7.500 e descontos para as fabricantes, os californianos podem reduzir seus pagamentos mensais efetivos de aluguel de carros limpos para quase zero, disse a Aliança dos Fabricantes de Automóveis ao estado no ano passado.
A China tem aumentado os subsídios para recompensar veículos elétricos que podem viajar longas distâncias com uma única carga. Em um plano anunciado no mês passado, o incentivo do governo central para carros elétricos que têm um alcance de 400 quilômetros ou mais foi elevado para US$ 8.000 (50.000 yuan); até então, era de 44.000 yuan. Ao mesmo tempo, os veículos precisam ter capacidade de percorrer pelo menos 150 quilômetros com uma única carga para poderem receber incentivos, aumento em relação aos 100 quilômetros anteriores.
3. Investimento na recarga de carros
Um dos principais gargalos à adoção generalizada de carros elétricos é o acesso a estações de recarga públicas. “Você tem um monte de veículos saindo, mas nem todos os consumidores têm acesso à recarga”, disse Simon Mui, diretor de um programa focado na política de transporte da Califórnia no Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
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Embora a Califórnia tem o maior número de estações de recarga de carros nos EUA, tem uma das menores proporções de veículos públicos para carros elétricos no país, de acordo com uma análise da Beacon Economics fornecida pelo Next 10, um grupo de políticas e meio ambiente. O mais recente plano do governador Brown também pede US$ 900 milhões gastos, em parte, na instalação de 250 mil estações de recarga, ante as cerca de 14 mil já em funcionamento.
O governo da China também tem pressionado a construção de instalações de recarga em todo o país. Os EUA planejam adicionar 600 mil estações este ano, de acordo com planos de trabalho da Administração Nacional de Energia. No mês passado, o governo central pediu aos governos locais que mudassem gradualmente os subsídios para ajudar os motoristas a comprarem veículos que não são a gasolina e para a construção de instalações de recarga.
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