Com academias modernas e baratas e um modelo de negócio similar ao das startups, a Smart Fit não para de crescer no Brasil e no exterior. A companhia tem 450 academias em nove países diferentes e planeja chegar a 1 mil unidades até 2021, tendo 45% da sua base de estabelecimentos no exterior. Antes disso, já no próximo ano, deve registrar seu primeiro lucro, após dez anos queimando caixa para crescer exponencialmente.
A Smart Fit nasceu da rede de academias premium Bio Ritmo, fundada pelo empresário Edgard Corona, em São Paulo. “Eu tinha a Bio Ritmo e existia uma lacuna no mercado de academias acessíveis. O pessoal me cobrava para montar uma academia mais barata. Eles tinham o desejo de ter uma Bio Ritmo com peço mais barato”, conta o fundador. “Assim nasceu a Smart Fit, com a proposta de democratizar a academia premium a um preço popular que atende desde o porteiro do prédio ao dono da cobertura.”
A fórmula da Smart Fit
A proposta da Smart Fit inclui oferecer academias grandes, normalmente de 1,2 mil metros quadrados, com aparelhos modernos e muita tecnologia ao alcance dos clientes. Os professores estão mais para orientar e tirar as dúvidas dos alunos, que têm alto grau de autonomia para fazer seus treinos. E o preço é o grande diferencial: atualmente, a mensalidade custa a partir de R$ 39,90, nos primeiros meses, e vai até R$ 89,90, o valor mais caro cobrado e que permite usar qualquer academia da rede no país ou no exterior.
A empresa consegue oferecer academia moderna a preços baixos adotando uma estratégia de negócio similar ao das startups: ganhar escala rapidamente até que a sua base de usuários seja grande o suficiente para lhe tornar lucrativa. Desde quando começou, a Smart Fit mantém um plano agressivo de lojas. Em oito anos, ela chegou a 450 unidades e mais de 1 milhão de alunos. No ano passado, bateu recorde ao inaugurar 116 lojas em um mesmo ano. Em 2018, vai investir quase R$ 500 milhões para abrir 140 lojas no Brasil e exterior, sendo 110 próprias.
Das 450 atuais unidades, a maioria (380) é loja própria. O investimento para abrir uma unidade é de, em média, R$ 4,5 milhões e as lojas levam meses para dar retorno financeiro, o que afeta bastante o caixa da rede. Já as demais unidades são franquias, normalmente abertas em áreas não prioritárias para o grupo, mas que há demanda e interessados em ser franqueados, ou academias adquiridas, como é o caso da rede chilena Inversiones O Dos, que tinha 15 unidades e vendeu toda a operação para a Smart Fit.
E para ganhar escala, a Smart Fit conta com o apoio financeiro de investidores, assim como operam as startups. A rede já recebeu dois grandes aportes, um de R$ 70 milhões do banco Pátria e quase R$ 200 milhões liderado pelo fundo soberano de Cingapura. Com esses aportes e outras formas de captação de recursos, como emissão de debêntures, além do dinheiro que entra das mensalidades, a rede consegue o valor necessário para financiar sua expansão.
Do vermelhor para o azul em 2019
Nesse modelo, que combina redução de margens, uso intenso de tecnologia para diminuir custos, preços baixos para atrair milhares de clientes e abertura de centenas de lojas para ganhar escala e conquistar o mercado rapidamente, a Smart Fit quer chegar ao seu primeiro lucro. Até então, até mesmo para financiar sua expansão, a rede tem operado no vermelho.
O primeiro resultado financeiro positivo, afirma Corona, deve ser alcançado já em 2019, dez anos após a fundação da rede e quando a empresa deve computar 590 lojas em mais de dez países latino-americanos, sendo líder de setor na maioria deles. “Chega um momento que apesar do investimento e das novas lojas que estão sendo abertas, a partir de 2019 esse número [financeiro] vai para o azul e vai para o azul forte. Porque vamos ter muita loja madura dando resultado.”
Percalços no caminho ao lucro
Mas a jornada da Smart Fit rumo ao lucro tem, também, seus percalços. Um deles foi a recente adaptação no formato das academias. Projetada para oferecer somente a área de musculação e de esteiras e bicicletas, a rede teve que se render à moda das aulas em grupo. Ela passou a oferecer aulas funcionais, com circuito e aulas de ginástica, para atender o cliente que não quer só correr na esteira e puxar peso. A tecnologia, porém, não ficou de fora, e muitas das aulas acontecem via televisão.
Outro contratempo é a sua forma de ganhar dinheiro. A Smart Fit tem como principal fonte de receita a mensalidade das academias, por isso depende tanto de escala para conseguir cobrir seus próprios custos. E, não à toa, precisa recorrer a investidores para financiar sua expansão. No ano passado, protocolou um pedido para poder negociar ações no Bovespa Mais – Nível 2, segmento que permite que pequenas e médias empresas negociem ações na Bolsa de Valores do Brasil. Uma primeira oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês), garante Corona, está entre as possibilidades para a empresa captar novos recursos no futuro, mas algo que será feito só se a companhia precisar de mais dinheiro.