A Adobe anunciou que o Flash, um plugin para navegadores que habilita conteúdo rico como animações na web, será descontinuado em 2020. Embora ainda falte três anos para o fim oficial, na prática o Flash “morreu” já tem algum tempo – especificamente, quando o iPhone foi lançado.
O comunicado da Adobe diz que o amadurecimento de padrões abertos e dos próprios navegadores web, que incorporaram algumas das funcionalidades mais importantes que plugins como o Flash levaram à web, reduziu a importância do Flash.
O plugin, que já foi usado para rodar os vídeos do YouTube, na construção de sites inteiros e para criar aqueles joguinhos casuais de navegador, há muito deixou de ter protagonismo na web. Segundo o Google, há três anos 80% dos usuários do Chrome visitavam sites com Flash diariamente. Hoje, esse número é de apenas 17%. A Kongregate, que desenvolve jogos para a web, aponta que os seus feitos em HTML já são maioria; até outubro de 2010, todos eram em Flash.
O prazo dilatado para o encerramento de atualizações e distribuição do Flash se deve ao uso da tecnologia em indústrias específicas, como a de jogos, educação e sites de vídeos. Nesse período de três anos, a Adobe continuará liberando correções de eventuais bugs, garantirá a compatibilidade com os principais sistemas e navegadores, e até adicionará novas funções quando estritamente necessário.
A Adobe trabalha com alguns parceiros de peso no planejamento do fim do Flash: Apple, Facebook, Google, Microsoft e Mozilla. A empresa alerta que, em alguns mercados onde “versões desatualizadas e não autorizadas do Flash Player são distribuídas”, agirá mais agressivamente para forçar o fim da tecnologia.
O início do fim
O Flash tapou um buraco grande na web dos anos 2000, quando tecnologias multimídia nativas ainda não estavam bem desenvolvidas. Embora pesado, instável e com falhas de segurança frequentes, o plugin era bastante popular e necessário para rodar jogos no navegador, acessar sites de vídeo como o YouTube e, em alguns casos extremos, até mesmo para acessar sites inteiros.
Os defeitos do Flash dificultaram sua adaptação para dispositivos móveis na virada da década. O Android, do Google, chegou a ter suporte ao Flash, mas no final de 2011 a própria Adobe encerrou o desenvolvimento da versão.
Mas foi a ausência no iOS, sistema do iPhone que jamais suportou o Flash, que determinou o enterro da tecnologia. Em abril de 2010, Steve Jobs, então CEO da Apple, publicou um texto no site da empresa justificando a decisão de não suportar o Flash no iOS.
O executivo listou seis motivos que pesaram na decisão, de ser um software proprietário (embora a Apple também trabalhe com isso, suas tecnologias web, como o WebKit, motor do navegador Safari, são abertas), alto consumo de bateria e baixo desempenho.
Na conclusão, ele escreveu:
“O Flash foi criado durante a era do PC – para PCs e mouse. O Flash é um negócio de sucesso para a Adobe e entendemos por que eles querem levá-lo para além do PC. Mas a era móvel tem a ver com dispositivos econômicos, interfaces de toques e padrões web abertos – todas essas áreas em que o Flash falha.”
Ele estava com a razão, afinal. Toda a indústria se movimentou para que a web dependesse menos do Flash. Hoje, mesmo navegadores de computadores já oferecem versões simplificadas do Flash, desativa ele por padrão ou limita a sua execução.
Na prática, a Adobe está apenas oficializando o fim de uma tecnologia que se arrasta, e com um bom prazo de antecedência a fim de permitir que sites e serviços legados tenham tempo de se adaptarem à nova realidade.