Após dois anos em gestação na Cidade de Deus – conjunto de edifícios que abriga a sede do Bradesco, em Osasco –, o projeto Next, um novo banco 100% digital, chegará ao mercado hoje (5), ao lançar seu aplicativo na App Store e Google Play.
O projeto é o mais recente movimento em um cenário agitado para o setor, marcado pela chegada de várias fintechs (startups da área financeira) e pela expansão das corretoras independentes, culminando na aquisição de 49,9% da XP pelo Itaú, em um negócio de R$ 5,7 bilhões, no mês passado.
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Em seu projeto, o Bradesco tentou garantir que a cultura do Next não fosse "contaminada" pelos vícios de um grande banco, ao criar uma estrutura independente para o novo negócio. O vice-presidente executivo da instituição, Maurício Minas, diz que os cem funcionários do Next – que funciona num andar de um dos edifícios da sede do Bradesco – têm um perfil diferente do geralmente encontrado em instituições financeiras.
Para colocar o projeto em pé, o Next muniu-se de uma equipe multidisciplinar que incluiu antropólogos, cientistas sociais e matemáticos. "Era importante que entendêssemos o comportamento das pessoas e pudéssemos gerar a inteligência para estabelecermos um diálogo com o público jovem e conectado", explica Minas. "O banco foi criado do zero, em dois anos."
Como o time do Next é relativamente pequeno, o banco digital usará a estrutura de apoio do Bradesco – pequenos times foram formados na instituição para dar suporte ao Next. Embora tenha operação independente e uma linha de comunicação própria com seus clientes, o banco digital vai ofertar produtos financeiros do Bradesco.
A instituição não revela o quanto investiu especificamente no Next, mas a reportagem apurou que foram cerca de R$ 120 milhões. O vice-presidente da instituição lembra, porém, que o projeto foi viabilizado graças a investimentos feitos no Bradesco, entre eles um aporte de US$ 1 bilhão no setor de tecnologia.
Concorrência com startups
Para fazer frente a startups financeiras que já viraram referência, como a Nubank, especializada em cartão de crédito, o Next aposta em um leque completo de serviços bancários oferecidos sem necessidade de o cliente comparecer a uma agência ou assinar qualquer documento.
O Next também incentivará o cliente a definir metas financeiras que pretende cumprir, como a aquisição de um determinado bem. O acompanhamento desses objetivos se dará por meio de uma ferramenta que fará a gestão automática dos gastos do usuário, de forma semelhante ao app Guia Bolso.
Apesar de ser um banco, o Next tentará se inserir na vida do cliente em outros momentos – assim, espera se tornar essencial ao cliente. A oferta de descontos é focada no público mais jovem, com parcerias já firmadas com Uber, iFood e Cinemark. Para ter acesso às vantagens, o usuário terá de acessar essas plataformas pelo Next.
Desafios
O diretor de inovação da Accenture, Guilherme Horn, afirmou que foi acertada a decisão do Bradesco de criar uma estrutura independente para tocar o projeto Next – desta forma, evitou-se a criação de uma "filial" da instituição.
Ao se apresentar como um banco completo, no entanto, o Next concorrerá tanto com serviços financeiros especializados – como corretoras e fintechs – quanto com líderes de mercado, incluindo o próprio Bradesco. "O Next cria um produto novo que pode canibalizar o Bradesco. E é assim que deve ser: se toda a empresa tiver medo de fazer isso, a inovação não vai acontecer nunca", diz Pedro Waengertner, presidente da aceleradora de startups Ace.
É no dia a dia da operação, no entanto, que o Next poderá ganhar ou perder o jogo. Uma fonte do setor financeiro, que pediu anonimato, afirma que estabelecer a relação próxima que startups como o Nubank têm com os consumidores é difícil.
Na opinião de Waengertner, resta saber se a execução do dia a dia do Next vai refletir, no fim das contas, o estilo matricial dos grandes bancos ou o pensamento "fora da caixa" típico das startups de sucesso
Relação com Bradesco
Embora o Next não mencione o Bradesco em nenhum momento do contato com o cliente – o nome do banco não aparece no app nem na comunicação do novo projeto –, o vice-presidente executivo do Bradesco, Maurício Minas, afirma que, em alguns momentos, o cliente Next vai cruzar com o Bradesco em seu caminho.
Além de todos os produtos financeiros serem do Bradesco – mas apresentados de forma diferente, e sob novos nomes –, o usuário do Next também terá acesso a alguns serviços, como o uso dos caixas eletrônicos para saques em dinheiro. No verso do cartão de crédito de cor verde do Next haverá uma pequena menção de que a emissão é de responsabilidade do Bradesco.
Segundo Minas, não há nenhuma intenção de "esconder" a conexão entre o Next e o Bradesco. Para o executivo, a relação é inevitável e pode ter efeitos positivos. "Em muitas startups, a pessoa não sabe quem exatamente está cuidando do dinheiro dela. No Next, há essa segurança do Bradesco."
Do ponto de vista comercial, o executivo afirma que o Next se posicionará como um serviço de valor – e, por isso, terá tarifas mensais. A mais barata custará R$ 19,95 e a mais cara, R$ 39,95. "Não haverá limites de transações. A diferença de preço se refere a vantagens como programas de pontuação." .
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