Uma década atrás, quando cinco serrarias fechadas e uma taxa de desemprego de 20% definiam o Condado de Crook, no Oregon, ninguém imaginaria que o caminho para a recuperação estaria ligado ao Facebook e à Apple.
No entanto, no pico rochoso de onde se avista esta cidade, a sede da prefeitura e as casas dos dez mil habitantes, o Facebook está preparando as fundações para o primeiro de dois grandes centros de dados que juntos vão custar US$ 1 bilhão quando estiverem prontos em 2021. Os prédios imensos vão se juntar aos quatro centros de dados já existentes que o Facebook construiu aqui desde 2010 a um custo de US$ 1,1 bilhão. Eles estão entre os 11 centros que a empresa construiu nos Estados Unidos e no exterior.
Aqui perto, a Apple ergueu seu próprio centro de dados, um gigante de US$ 988 milhões, que a empresa deve expandir em breve. É um dos sete construídos pela Apple nos Estados Unidos. Outro está sendo feito em Iowa e mais três estão planejados para a China, a Dinamarca e a Irlanda, segundo um porta-voz da empresa.
Os projetos do Facebook e da Apple aqui são parte de uma onda de construção e desenvolvimento de centros de dados globais, um mercado avaliado em US$ 88 bilhões no ano passado, segundo a empresa de pesquisa de mercado Synergy Research Group, de Reno, em Nevada.
Não há muita novidade arquitetônica em um centro de dados. Mas os prédios sem janelas em formato de caixote formam o sistema nervoso central climatizado do comércio e da comunicação online. Eles são tão essenciais para a infraestrutura básica da economia do século XXI como o minério de ferro e as fábricas de automóveis foram para o século XX.
O que os distingue é o tamanho. Os centros do Facebook e da Apple em Prineville estão entre os 386 centros de dados em “escala gigante” em todo o mundo, construídos e operados pelas 24 maiores companhias de internet e tecnologia, entre elas Alibaba, Alphabet (holding do Google), Amazon, eBay, Microsoft e Yahoo. Um estudo deste ano feito pela Cisco, empresa de soluções para redes interligadas do Vale do Silício, projetou que o número de centros gigantes vai crescer para 628 até 2021. Esses centros poderiam comandar mais da metade de todo o tráfego dos centros de dados da internet. Nos Estados Unidos estão mais da metade das construções, segundo a Cisco, seguidos pela Ásia, a Europa Ocidental e a América Latina.
Um estudo feito em 2017 pela CBRE Research descobriu que algumas regiões metropolitanas — Detroit, Nova Jersey, Nova York, o norte de Virginia e o Vale do Silício – são as áreas mais ativas para a construção de centros de dados nos Estados Unidos.
Como os grandes projetos industriais dos séculos anteriores, os investimentos que o Facebook, a Apple e seus competidores fizeram em terrenos, nos prédios e nos equipamentos são consideráveis, em geral gastando mais de US$1 bilhão em cada. Os centros consomem quantidades imensas de eletricidade e água, como as fábricas. A diferença são as pequenas equipes.
O Facebook emprega cerca de 200 pessoas aqui para administrar os prédios. Lá dentro, há corredores e mais corredores de servidores em rede para receber, armazenar, transmitir e retransmitir a enxurrada de bytes que orientam a vida diária de mais de dois bilhões de pessoas.
“O mercado é muito grande porque a demanda é imensa”, explica Rob Johnson, CEO da Vertiv, empresa de tecnologia global de US$ 4 bilhões de Columbus, em Ohio, que projeta, constrói e fornece equipamentos para centros de dados. “Eles oferecem o que é necessário para celulares, serviços de transmissão ao vivo, vídeos em alta-definição e novos aplicativos, como os veículos autônomos. A tecnologia está gerando quantidades imensas de dados e de tráfego.”
Os incentivos fiscais lucrativos são a rara área de desenvolvimento dos centros de dados que foi criticada.
“As grandes empresas de tecnologia estão conseguindo descontos imensos nos impostos para construir coisas que fariam de qualquer maneira. O custo para os contribuintes é gigante para trazer centros de dados que criam pouquíssimos empregos permanentes”, afirma Greg LeRoy, diretor executivo do Good Jobs First, empresa de pesquisa de Washington.
O pacote de incentivos do Oregon permite que as duas empresas evitem impostos sobre a propriedade por 15 anos, o que vai fazer com que o Facebook e a Apple economizem mais ou menos US$ 45 milhões cada durante esse período. As leis estaduais também têm um atrativo para as cidades. As empresas que recebem os descontos nos impostos precisam pagar aos funcionários 150 por cento da média regional de salário. Os trabalhadores dos centros de dados de Prineville ganham pelo menos US$ 60 mil por ano.
Prineville conta com 400 empregos permanentes nos centros de dados, que influenciam sua cultura de cidade pequena, enchem o tesouro municipal e transformam a paisagem rural.
Prefeita de Prineville, Betty Rope
A prefeita Betty Roppe observou que o Facebook e a Apple forneceram à Prineville a renda de outras contas municipais. A cidade, por exemplo, recebe uma taxa de “franquia” de cinco por centro sobre toda a eletricidade vendida em sua jurisdição. Como os centros do Facebook e da Apple consomem quase US$ 40 milhões em eletricidade todos os anos, as taxas de franquia totais no ano passado chegaram a US$ 2,2 milhões, sendo que o valor em 2010 foi de US$ 340 mil.
Quando os abatimentos acabarem no meio da década de 2020, o valor das propriedades que poderão ser taxadas em Prineville vai aumentar para cerca de US$ 2 bilhões, mais do que dobrando o total de US$ 1,5 bilhão em impostos sobre propriedade que a cidade avalia receber hoje. A projeção é que a receita chegue a US$ 9 milhões anuais, sendo que hoje ela é de US$ 4 milhões.
“Somos uma cidade de vaqueiros e de madeira”, explica Steve Forrester, administrador da cidade e ex-executivo de uma serraria. “Fomos de ‘Tenho que alimentar minhas vacas’ para ver as companhias mais avançadas tecnicamente no mundo construindo seus centros de dados em nossa pequena cidade. Isso assustou algumas pessoas.”
Prineville, que antes lutava pela sobrevivência, tornou-se um fator na transformação da região central do Oregon em uma área dinâmica de transição demográfica e econômica.
Os centros de dados também estão mudando o mercado de energia elétrica da região. A Avangrid Renewables acabou de abrir na periferia de Prineville uma das maiores estações de energia solar do Oregon, com poder de 56 megawatts, a um custo de US$ 120 milhões, para fornecer energia limpa para a Apple. Funcionários do Condado de Crook afirmam que receberam pedidos para a construção de mais quatro usinas solares de tamanhos parecidos com a recém-inaugurada para suprir a necessidade dos centros de dados.
Em 2009, quando Roppe era membro da Câmara Municipal, convocou reuniões de planejamento com executivos da cidade para salvar Prineville do fechamento das serrarias e de uma profunda recessão. Seus objetivos econômicos eram claros: diversificar a economia e procurar empresas que quisessem pagar salários dignos.
Quando sete advogados chegaram à cidade para procurar terras para uma companhia chamada Vitesse, ela aprendeu o quão competitiva Prineville era para os desenvolvedores dos centros de dados. A cidade e a região preenchem todos os requerimentos básicos — terrenos disponíveis, grande quantidade de energia, acesso à água, proximidade dos mercados e isenções de impostos generosas. Outra vantagem eram os verões frescos — o Facebook esfria seus centros de dados com ar fresco.
Roppe e seus assessores logo foram informados de que a Vitesse era um disfarce para o Facebook. A empresa comprou 51 hectares perto do aeroporto por US$ 2,7 milhões e se revelou publicamente em uma cerimônia de início das obras em janeiro de 2010.
Um ano depois, os representantes da Apple chegaram como agentes de uma empresa de fachada chamada Pillar. “Sempre temos que adivinhar com quem estamos lidando”, conta Roppe. Em 2012, depois de comprar 65 hectares por US$ 3,6 milhões, a Apple começou a construir seu grande centro de dados.
No início, a presença de duas grandes empresas do Vale do Silício deixou Prineville nervosa. Embora a maioria dos funcionários dos centros seja do Condado de Crook, jovens usando capuz e dirigindo carros elétricos híbridos de último tipo eram uma presença nova nos bares e nas ruas onde os chapéus de vaqueiro e as caminhonetes antes dominavam.
“Havia uma ansiedade. O pessoal das serrarias andava por aí dizendo: ‘Não queremos esse povo estilo Mark Zuckerberg. Eles vão arruinar nossa cidade’”, conta Forrester.
A ansiedade com os recém-chegados foi substituída pelo alívio dos negócios locais gerados pelos centros de dados e pelo novo estresse com o custo da moradia. As taxas de vacância de casas e escritórios estão em menos de cinco por cento.
“O Facebook e a Apple trouxeram muito para essa comunidade. Eles são grandes, mas apoiam os pequenos negócios”, afirmou Erika Vaughan, dona da barbearia Cougar Cuts.