Recentemente, a Apple deu mais um exemplo da sua capacidade de transformar tecnologias promissoras em produtos atraentes e úteis para as pessoas. A empresa apareceu durante a última edição da Worldwide Developers Conference (WWDC), seu evento anual para desenvolvedores, com um novo kit de realidade aumentada que, por sua simplicidade e dispensa de hardware novo ou diferente, chamou a atenção tanto do público quanto de quem cria essas aplicações.
Intitulado ARKit, a tecnologia põe de lado soluções mais complexas baseadas em câmeras, sensores e chips especiais. Em vez disso, o ARKit lança mão apenas das funcionalidades do vindouro iOS 11 e das configurações de um iPhone padrão, oferecendo, como resultado, uma leitura bem calibrada e um posicionamento consistente de objetos virtuais no mundo real.
A realidade aumentada consiste em colocar em ambientes reais, através de interfaces como câmeras e capacetes especiais, elementos virtuais. Esta versão do jogo Minecraft adaptada para o iPhone através do ARKit dá uma boa ideia da tecnologia:
Como resultado, a Apple conseguiu um atalho para ter, literalmente do dia para a noite (quando o iOS 11 for liberado, entre setembro e outubro), a maior plataforma de realidade aumentada do planeta. Afinal, mesmo que a tecnologia de rivais como o Google seja igualmente efetiva em dispor mobílias e animais domésticos virtuais pelos arredores com alta qualidade, ela é exclusiva de dispositivos mais poderosos e caros.
A tecnologia Tango, do Google, no momento está disponível apenas no celular Phab 2 Pro, da Lenovo, que não é vendido no Brasil. O aparelho, de dimensões robustas e quase desajeitadas, necessita de três câmeras e um sensor infravermelho para localizá-lo adequadamente no espaço. Isso, além da necessidade de processador Snapdragon 652 desenvolvido exclusivamente para o celular. Já o ARKit estará disponível para qualquer iPhone capaz de rodar o iOS 11 – todos a partir do iPhone 5s, de 2013.
“Chave de Fenda Sônica” da Apple
Além da vantagem de possuir um dispositivo de AR sem qualquer hardware ou custo extra, o kit de realidade aumentada da Apple também ganha destaque nas soluções que já se vê saídas das mentes dos desenvolvedores da plataforma. Além de vender seu peixe com jogos, pets virtuais e conceitos arquitetônicos de Minecraft, o ARKit tem se mostrado uma ferramenta igualmente útil e polivalente, com potencial de se tornar necessária tanto para jogadores casuais quanto para empreiteiros de fim de semana. Quase como a “Chave de Fenda Sônica”, do Dr. Who.
Um bom exemplo disso é a função de fita métrica, uma das primeiras feitas com base no ARKit a ganhar destaque. A realidade aumentada oferece uma solução intuitiva, com direito a uma fita métrica projetada sobre as superfícies direto na tela do iPhone. A boa percepção tridimensional do iPhone/iPad, otimizada pelo ARKit, garante um nível de precisão bem aceitável, como se vê pelo vídeo acima.
Já quem tem um lado artístico, pode sair distribuindo rabiscos tridimensionais pela casa. Como ferramenta educacional, ainda, há demonstrações do pouso na Lua realizado pela Apollo 11 em 1969 e um sistema solar que, mesmo pecando pela falta de escala dos planetas, ainda pode abrir caminho para novas alternativas didáticas.
Enxurrada de aplicativos no horizonte
Verdade seja dita: nenhuma das funcionalidades ou aplicações mostradas até o momento fazem do ARKit uma plataforma de realidade aumentada particularmente original. Afinal, as apostas em AR estão por aí há pelo menos oito anos. Todos já vimos coisa semelhante em algum momento.
O diferencial da Apple é facilitar a criação de aplicações em realidade aumentada e oferecer a esses desenvolvedores uma base de algumas centenas de milhões de pessoas, que poderão baixar seus apps e jogos e experimentá-los de imediato, sem qualquer custo ou hardware extra.
Afinal, enquanto a proposta descomplicada parece capaz de provocar uma popularização sem precedentes do que é hoje, em muitos círculos, apenas uma curiosidade tecnológica, a adoção em massa daí resultante pode facilmente atrair um fluxo grande de investimentos em aplicações variadas.
E o potencial é bastante explicito. São dezenas de soluções, curiosidades e games exibidos por experimentadores da tecnologia ao redor do mundo – e isso faltando ainda três meses para o lançamento tanto do novo iPhone quanto da versão final do iOS 11. O blog Made With ARKit reúne vários desses bons exemplos iniciais. Ao que parece, coube novamente à Apple a tarefa de transformar uma tecnologia já instalada, mas de nicho, em um produto atraente e de apelo amplo.
