Nascido despretensiosamente, em 2009, a partir de uma necessidade pessoal da publicitária Ana Luiza McLaren, hoje o Enjoei lembra pouco o blog de oito anos atrás, feito para aquela situação específica. Maior e com operação internacional, o serviço, que oferece um marketplace com linguagem e estética bem próprios, segue crescendo mesmo em tempos de crise.
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Pode-se dizer que jeito de ser do Enjoei preserva a essência dos seus primeiros movimentos, de 2009. À época, McLaren precisava liberar espaço antes de se mudar para um novo apartamento. O alvo: seu guarda-roupas.
Entretanto, por considerar impessoal os sites normalmente utilizados para a venda de produtos usados, ela resolveu passar adiante seus excedentes em um blog desenvolvido em parceria com o marido, o executivo de marketing Tiê Lima.
Com fotos cuidadosamente tiradas de cada uma das peças – acompanhadas de descrições detalhadas –, o enxoval não apenas foi vendido rapidamente, como também não faltaram pessoas interessadas em veicular seus próprios anúncios de roupas, eletrônicos e objetos de decoração através site.
Ajuda, também, a apresentação do site, que é despojada e bastante pessoal. Aos visitantes, ele se apresenta como “um chuchizinho de website”; outras tiradas do tipo podem ser vistas em todo o site e, questão de estilo, letras maiúsculas não existem ali.
Com tudo isso, o interesse natural das pessoas surgiu e se manteve desde a fundação singela. Recentemente, os abalos na economia nacional elevou a aceitação do brasileiro pelos produtos usados, beneficiando o Enjoei – mas não só ele; outros sites do segmento também passam por fases de crescimento.
Até 50% mais barato, celular usado é opção em tempos de crise
“A crise com certeza ajudou na mudança de hábito [do brasileiro]”, afirma a diretora de planejamento estratégico da companhia, Juliana Perlingiere, reforçando o fortalecimento de uma cultura de reutilização no país. “As pessoas passaram a enxergar o reuso com outros olhos”, complementou.
Do blog às “lojinhas”
Mesmo com os aportes de fundos nacionais e internacionais desde 2012, o Enjoei se manteve focado na necessidade original identificada por McLaren em seu blog.
Ao concluir o cadastro e iniciar as vendas, cada vendedor tem à disposição um modelo igualmente simples e personalizado para desovar seus pertences – uma página pessoal convenientemente chamada de “Lojinha”.
A fim de garantir as características que projetaram o Enjoei, cada uma das Lojinhas tem seu conteúdo analisado. “A curadoria exista para garantir a qualidade e a harmonia do site e do aplicativo [do Enjoei]”, explica Perlingiere.
Além de vetar a inclusão de produtos ilícitos, a equipe do Enjoei também avalia a qualidade dos anúncios. Perlingiere reforça que as imagens precisam ser claras, de forma que o item a ser vendido fique bem visível. “Nós também olhamos o texto em busca de termos ofensivos”, explica.
700 mil vendedores “engajados”
A despeito do formato convidativo, os cerca de R$ 45 milhões injetados no negócio durante os últimos quatro anos foram cruciais. Conforme destaca Perlingiere, os aportes possibilitaram novas contratações e também uma expansão no leque de produtos atendidos pelo site (originalmente, mais rígido e exclusivo).
“Com o aporte, nós conseguimos mais gente e também pudemos lançar o aplicativo [para celular]”, conta a executiva, emendando que “foram os investidores que buscaram o Enjoei”. Como resultado, a empresa fechou 2016 com três milhões de usuários ativos, quase 20 milhões de acessos mensais, cinco milhões de itens cadastrados e uma média de 150 mil produtos vendidos por mês, provenientes de seus 700 mil vendedores cadastrados.
Para além do volume de investimentos, a startup atribui seu rápido crescimento ao “engajamento” promovido entre os usuários. “Tentamos criar comunidades cada vez mais sólidas. A pessoa realmente se torna dona do seu espaço no site”, diz Perlingiere. “Ali, você conta a sua própria história.”
A história de cada um também pode ganhar sucessivos capítulos dentro da própria plataforma. Por meio da função recentemente lançada do “crédito pelo vendedor”, é possível gastar o crédito decorrente das vendas dentro do próprio site. “Assim, o ciclo é fechado”, diz Perlingiere. A executiva afirma que, além da comodidade do processo, outras ideias inovadoras para manter os usuários enganados estão em estudo na empresa.
Grife digital
Se os investimentos e o modelo de negócio personalizado formaram a base operacional do Enjoei, foi a associação com celebridades e mídias variadas que formou a marca prontamente reconhecida do site, sobretudo nos setores de moda e decoração. Entre as parcerias, talvez a mais emblemática ainda seja a do programa de TV Desengaveta, da GNT.
Igualmente focado no processo identificado pelo neologismo “destralhar” (livrar o espaço pessoal de produtos acumulados), o conteúdo apresentado pela atriz Fernanda Paes Leme no programa “invade” os armários de famosos a fim de selecionar roupas que serão oferecidas no site (mais de 400 peças durante os oito primeiros episódios). Ao final, toda a receita levantada é revertida ao Instituto Nacional do Câncer.
“O Desengaveta é a própria representação do Enjoei. A parceria surgiu naturalmente”, disse Perlingiere. “A essência [de ambos] é muito parecida.” Entre as celebridades que endossam o site atualmente há, por exemplo, a apresentadora Astrid Fontanelle, a blogueira Julia Petit e a atriz e cantora Manu Gavassi.
Para a Argentina (e além)
Desde o ano passado, o Enjoei passou a oferecer seu modelo baseado em reuso e personalização de espaços também na Argentina. Inaugurado em dezembro, o site YaFue “tem sido muito bem aceito”, conta Juliana Perlingiere. Para a executiva, a internacionalização foi facilitada tanto por questões logísticas quanto pela universalidade da proposta. “Fizemos estudos de mercado e verificamos que a proximidade [entre os países] seria bastante positiva”, ela diz.
Por outro lado, a “essência positiva” do Enjoei também contribuiu para a expansão que ultrapassa fronteiras. “Crescemos 80% no ano passado e esperamos manter o ritmo para este ano.” Ritmo este que pode garantir novas incursões em territórios estrangeiros – sobretudo em países da América Latina. “Estamos estudando a ideia, levantando possibilidades”, diz a Perlingiere, “mas ainda não há nada definido.”
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