Logo da Uber na sede da empresa, em São Francisco.| Foto: JOSH EDELSON/AFP

Após o primeiro dia no tribunal, Waymo (subsidiária da Alphabet, holding do Google) e uber parecem concordar em apenas uma coisa: a empresa que controlar o mercado de veículos autônomos controlará o futuro do transporte.

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Aos olhos da história, o segundo lugar é o mesmo que perder.

Essa mensagem foi dada em alto e bom som na segunda-feira (5) em um tribunal federal no centro de São Francisco, onde uma casa cheia — incluindo nove advogados de cada lado — ouviu as declarações iniciais.

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William Alsup, o juiz federal que conduz o julgamento, disse que nunca viu tantos advogados no tribunal.

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Dando início ao julgamento com uma fala de quase uma hora, Charles Verhoeven, advogado-chefe da Waymo, disse que o ex-CEO da Uber, Travis Kalanick, percebeu que não conseguiria acompanhar a Waymo e estava disposto a fazer o que fosse necessário para chegar em primeiro lugar na corrida para supremacia autônoma — mesmo que isso significasse infringir a lei.

“As provas mostrarão que o Sr. Kalanick, CEO da época, tomou a decisão de que ganhar era mais importante do que obedecer a lei”, afirmou. “Ele tomou a decisão de trapacear. Porque, para ele, ganhar a todo custo, não importava às custas de quê, era a sua cultura e era o que ele iria fazer”.

“As provas mostrarão que ele se fixou e contratou um dos seus principais engenheiros que estiveram com Chauffeur — esse é o nome do programa — desde a sua criação”, acrescentou Verhoeven.

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Citando e-mails e mensagens internos, Verhoeven argumentou que Kalanick acreditava que ficar para trás na disputa com a Waymo no desenvolvimento de carros autônomos representava uma ameaça existencial à sua empresa. Ganhar Anthony Levandowski — um lendário engenheiro com uma reputação até então brilhante — das fileiras da Waymo, argumentou, não era apenas uma maneira de dar um impulso à tecnologia autônoma da Uber, mas também uma maneira de contrabandear a propriedade intelectual da Waymo para dentro da sua empresa.

Levandowski foi acusado de baixar 14.000 arquivos confidenciais da holding do Google, a Alphabet, onde trabalhou como engenheiro sênior na unidade de carros sem motorista da empresa.

Verhoeven acusou Levandowski de baixar alguns desses arquivos no mesmo dia em que ele se encontrou com funcionários da Uber para discutir sua transição para a empresa.

“Eu só vejo isso como uma corrida e precisamos ganhar; o segundo lugar é o primeiro a perder”, Anthony Levandowski escreveu a Kalanick em um e-mail revelado no tribunal.

Verhoeven comparou a estratégia de Kalanick a confiar em uma “cheat” de videogame.

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“Eu não sabia o que eram ‘cheats’ porque eu sou velho, não jogo videogames”, disse ele ao júri. “Um ‘cheat’ é algo que permite que você passe para a próxima fase”.

O lado da Uber

Minutos depois, William Carmody, um advogado que representa a Uber, parecia estar quase se divertindo quando disse ao jurado que o relato da disputa da Waymo era “uma história e tanto”.

“Eu quero dizer logo de cara — isso não aconteceu”, disse ele. “Não há conspiração”.

“A Waymo quer que você acredite que Anthony Levandowski se juntou à Uber como uma grande conspiração para trapacear”, acrescentou Carmody. “Mas, como a maioria das teorias de conspiração, isso não faz sentido depois de ouvir toda a história”.

A história toda, como Carmody disse ao júri, é que a Uber nunca recebeu um único fragmento de informações proprietárias da Waymo. Carmody destacou o relacionamento da Uber com a Universidade Carnegie Melon, que possui um instituto de robótica altamente conceituado, como evidência de que as ideias da empresa vieram de “pessoas da Uber” e “engenheiros reais” que trouxeram seus “talentos” para a empresa.

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Carmody disse que planeja mostrar com mais detalhes que os supostos segredos comerciais roubados não são, de fato, segredos comerciais.

Horas depois que o tribunal foi esvaziado, a Waymo divulgou uma declaração contradizendo o argumento de Carmody:

“Os documentos internos da Uber mostram que eles recrutaram Levandowski e o fizeram chefe do programa ATG da Uber precisamente para obter os segredos comerciais da Waymo e outras propriedades intelectuais”, disse o comunicado. “As inspeções de dispositivos, os documentos da Uber, o testemunho do engenheiro e outras evidências mostram que a tecnologia da Uber usa os segredos comerciais e a tecnologia da Waymo até o micron”.

Carmody também usou seu tempo para distanciar a Uber do comportamento e associação de Levandowski com a Uber.

“Enquanto estamos aqui hoje, e sabendo tudo o que sabemos, a Uber se arrepende de ter contratado Anthony Levandowski”, admitiu Carmody. “Por todo o seu tempo na Uber, tudo que a Uber tem para mostrar de Anthony Levandowski é este processo. E é isso”.

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Levandowski foi demitido da Uber no ano passado por se recusar a cooperar com investigadores do caso. Espera-se que ele invoque seu direito da Quinta Emenda contra a auto-incriminação, caso tome uma posição durante o julgamento.

Espera-se que o julgamento da Uber-Waymo provoque um debate sobre como os empregadores definem a propriedade intelectual e quem é o dono dela no Vale do Silício, onde o ritmo da inovação e rotatividade nas empresas é alto. Carmody usou seu discurso de abertura para esclarecer a posição de Uber sobre o assunto, dizendo que a Waymo não possui todas as ideias inerentes a algumas de suas tecnologias — o que ele chamou de “conceitos de engenharia”.

“É por isso que, no final deste caso, o mais importante para todos vocês será determinar se os conceitos de engenharia sobre os quais vamos falar mais”, disse ele. “O que é o cerne deste caso, se há segredos comerciais ou não. A Waymo tem o ônus de estabelecer que todos e cada um desses segredos comerciais são segredos comerciais de fato”.

Quando os engenheiros mudam de emprego, ele acrescentou, “não recebem uma lobotomia”.