Fábrica da Tesla nos Estados Unidos| Foto: Jasper Juinen/Bloomberg

A Tesla, fabricante de carros elétricos luxuosos, ainda não teve lucro. Só no ano passado, perdeu centenas de milhões de dólares. Mas, na segunda-feira (10), a queridinha do Vale do Silício se tornou a empresa automobilística mais valiosa dos Estados Unidos, superando a General Motors, veterana de Detroit com US$ 10 bilhões em vendas de cerca de 10 milhões de veículos.

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As ações da Tesla, empresa comandada pelo badalado CEO Elon Musk, elevaram o valor da empresa a US$ 51,5 bilhões, acima dos US$ 50,2 bilhões da GM. A Tesla já havia atropelado a Ford (US$ 44,6 bilhões) na semana anterior.

A empresa de Musk produziu apenas 84 mil carros em 2016, com preço inicial de US$ 68 mil.

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A história da ascensão da Tesla diz muito sobre a o estado da economia americana em 2017. Os créditos fiscais do governo para empresas com preocupação ambiental, uma explosão de crédito e a promessa de inovações futuristas transformaram a Tesla em um sinal de status para motoristas que podem bancar seus preços elevados.

Ao mesmo tempo, a Tesla, com sua longa lista de problemas de produção, ainda não chegou perto de cumprir sua ambição de entrar no mercado de massa. Além de vender menos carros do que as rivais de Detroit, suas fábricas automatizadas empregam uma fração da força de trabalho das fábricas da GM.

O modelo da Tesla

A ascensão da Tesla fez de Musk uma das pessoas mais ricas do Estados Unidos e lhe deu uma grande influência, incluindo outra reunião com o presidente Donal Trump na terça-feira. Mas mesmo os críticos, que dizem que a Tesla pode representar uma bolha tecnológica no mercado de ações, reconhecem que o sucesso da empresa aponta para uma nova realidade na indústria automotiva, uma que vai redefinir a experiência de conduzir um veículo para a maioria dos norte-americanos.

“Esta é a bolha definitiva, condenada a estourar”, disse o ex-vice-presidente da GM Bob Lutz. “Os carros da Tesla são bons, mas o modelo de negócio, não”, comentou, referindo-se ao alto custo de produção que não é recuperado no preço de venda. Mas, acrescentou, “todas as montadoras mais antigas em breve terão uma variedade” de veículos elétricos similares.

A Tesla tem dois modelos à venda e um terceiro esperado para este ano. O Model S começa em US$ 68 mil e vai até US$ 134 mil, dependendo da potência. Já o Model X, seu SUV, começa em US$ 85 mil.

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Seu passaporte para o mercado intermediário, o aguardado Tesla Model 3, deve ser lançado no segundo semestre de 2017 e ter um preço em torno de US$ 35 mil. Nesse patamar, o Model 3 competirá com o Bolt da GM e o Focus da Ford, ambos também totalmente elétricos.

Ivan Feinseth, diretor de investimentos da Tigress Financial Partners, disse que a Tesla atua em um mercado rarefeito: “São carros luxuosos e de alto desempenho que calharam de ter motores elétricos”, disse Feinseth. “Ela compete com BMW, Mercedes e Lexus.”

A subida estratosférica do preço das ações da Tesla, de US$ 40 em 2013 para mais de US$ 312 na última segunda-feira (10), levou o valor da empresa a atingir um novo recorde.

A recomendação de um analista de ações para comprar ações da Tesla é “uma das mais absurdas que eu já vi em muito tempo”, disse Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington, uma firma de investimentos de Washington. Ele observou que a previsão é de que a empresa perca dinheiro em 2018, mas que o preço das ações deve subir para US$ 368 por ação.

“Os investidores foram convidados a empregar uma metodologia ‘criativa’ de avaliação. Acho que isso significa que quando os números não fazem sentido algum, deve-se ignorá-los e concentrar-se em outras coisas”, disse Farr. “É como se alguém pedisse para ignorar as chamas saindo do avião e disse ‘tenho certeza que a viagem será tranquila’.”

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Feinseth disse que quando você olha para o potencial de crescimento da Tesla, a sua rede de revendas, a cadeia de suprimentos e a qualidade dos carros, o valor faz mais sentido. “Não é incomum valorizar o crescimento das empresas até a um ponto de ser considerado um pouco maluco”, disse.

Além dos carros

A reputação da Tesla como uma empresa que pensa além do carro – recentemente ela absorveu outra empresa de Musk, a Solar City, por US$ 5 bilhões – grudou no imaginário do pessoal de tecnologia e, aparentemente, dos investidores da Califórnia. A empresa vem desenvolvendo baterias capazes de armazenar energia a partir de painéis solares instalados em telhados, expandindo sua missão para ser uma empresa de energia renovável. A Tesla também está explorando a tecnologia para carros autônomos.

O acesso de Musk a Trump e a ênfase do novo governo na indústria doméstica estão trabalhando a favor da Tesla, ajudando a impulsionar ainda mais as ações desde as eleições, novembro. Só entre janeiro e abril, elas subiram 40%.

“O mercado está disposto a dizer ‘vou avaliá-lo com base no que acho do seu potencial futuro’ e isso extrapola o que você acredita que eles faturarão vendendo carros, em baterias, com energia solar ou o que podem gerar de receita sendo uma empresa de mobilidade “, disse Matthew Stover, analista da Susquehanna Financial Group. “Tudo está na mesa e é tudo especulação.”

Musk, de 45 anos, é um magnata dos negócios nascido na África do Sul e com nacionalidades americana e canadense . Seu patrimônio é estimado em US$ 14,8 bilhões, de acordo com as últimas estimativas da revista Forbes. Ele fez sua fortuna vendendo o serviço de transferência de dinheiro PayPal para o eBay, em 2002, por US$ 1,5 bilhão.

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A exemplo do fundador da Amazon (e dono do Washington Post) Jeffrey Bezos, Musk é conhecido pelas atividades que transcendem seu negócio principal. Bezos, com a Blue Origin, e Musk, com a SpaceX, lançaram empresas privadas voltadas às viagens espaciais tripuladas.

Os desafios da Tesla

Apesar da dominação da GM nas vendas de veículos (sua participação no mercado norte-americano é de 17,3%, comparada a apenas 0,2% da Tesla), analistas admiram o que Musk criou.

“Montar carros é um negócio difícil”, Feinseth disse, “e juntar em tão pouco tempo uma fábrica de última geração com revendedoras, showrooms, uma rede de assistência técnica e centros de serviços e pontos de recarga, isso é muito difícil.”

Apesar da história envolvente, o destino da Tesla ainda está em aberto.

Um desafio é o medo dos motoristas de ficar sem energia no meio da estrada, uma espécie de ansiedade derivada da autonomia dos veículos. Os modelos da Tesla têm autonomia, em média, de 400 km.

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De acordo com o site da Tesla, seus clientes, como todos os donos de veículos elétricos, podem reivindicar nos Estados Unidos um crédito para impostos federais de US$ 7.500. Vários estados oferecem incentivos adicionais, muitas vezes sob a forma de um abatimento.

Há alguma possibilidade de que um Congresso e administração republicanos possam acabar com esses incentivos, embora o receio dos investidores tenha recuado graças ao aumento expressivo do valor das ações.

Stover disse que a Tesla ainda precisa provar ser capaz de fazer dinheiro. Sua ascensão, comenta, “diz muito mais do mercado de ações do que da indústria automobilística.”