Em abril, a Saraiva lançou a segunda versão do seu leitor de livros digitais, o Lev Neo. Ele compartilha algumas características importantes com o Kindle Paperwhite, principal concorrente da Amazon, e tenta se diferenciar com algumas únicas, como o PDF Reflow que promete ajustar automaticamente os populares documentos PDF para a telinha do aparelho. Gazeta do Povo conferiu de perto o Lev Neo.
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Mais caro dos dois Lev que a Saraiva vende no Brasil (o outro é o Lev Fit), o Lev Neo traz iluminação, tela com definição maior e mais espaço para guardar livros (8 GB contra 4 GB). A única desvantagem frente ao modelo mais barato é no peso – o Lev Neo é pesa 10 g a mais que o Lev Fit, que só tem 130 g.
Design e usabilidade
O Lev Neo conta com quatro botões: o liga/desliga, na borda inferior; um na parte frontal inferior que dá acesso ao menu principal e, segurado, serve de atalho para a iluminação; e dois laterais, que servem para avançar e voltar as páginas. Na parte de baixo, o dispositivo ainda conta com um slot para cartão microSD, usado para expandir a memória interna, e o conector micro-USB, usado para conectá-lo a computadores.
O uso é confortável. O Lev Neo pode ser segurado com apenas uma mão, sem cansaço, por períodos extensos. Ele pesa menos do que muitos celulares modernos – o Galaxy S8, por exemplo, pesa 155 g. E, por ter um volume maior, a distribuição do peso facilita o manuseio.
A iluminação da tela cumpre o seu papel, que vai além de ambientes escuros. Ela ajuda a melhorar o contraste em locais iluminados e, embora impacte a autonomia da bateria, é um sacrifício que se justifica. A boa definição da tela, que entrega letras praticamente sem serrilhados, contribui positivamente para a experiência. A sensibilidade da tela, porém, poderia ser maior.
A experiência de uso do Lev Neo seria ótima não fosse a lentidão do software. Leitores de livros digitais não precisam ser tão rápidos quanto tablets e outros dispositivos de uso geral, nem a principal ação, passar páginas, tem que ser imediata – o atraso visto no Lev Neo e em alguns modelos Kindle é perfeitamente compreensível e nada incômodo.
O que atrapalha são as ações feitas nos livros. Selecionar trechos, o primeiro passo para descobrir o significa de uma palavra e fazer marcações ou anotações, é mais lento do que alguém esperaria e, com frequência, uma ação imprecisa. A seleção se dá com o dedo, tocando e arrastando ele na tela, e há um atraso significativo entre o arrastar do dedo e a seleção que surge (ou deveria surgir) sobre o texto.
Trata-se de um problema significativo porque ele afeta uma das grandes vantagens do livro digital frente ao de papel: a facilidade de tomar notas, fazer marcações e retomá-las posteriormente. Esse entrave desestimula o leitor a usar tais recursos, reduzindo a utilidade do produto.
PDFs transformados
Um dos grandes pontos de venda do Lev Neo é um recurso chamado “PDF Reflow”. Leitores de livros digitais lidam com formatos especiais de arquivos, que permitem ao usuário mexerem na formatação do texto (alterar fontes, tamanho e largura da margem) e registrar marcações e anotações.
Já o PDF tem por principal vantagem a garantia de que, independentemente do dispositivo utilizado para abri-lo, ele sempre terá a mesma aparência. Em um leitor de livros digitais com tela de 6 polegadas, essa vantagem vira um problemão.
O PDF Reflow tenta amenizar esse impasse. Ele analisa e reformata documentos em PDF de modo a melhorar a apresentação deles no Lev. Um documento em duas colunas, por exemplo, com o Reflow ativado é convertido em apenas uma coluna.
Fizemos alguns testes na redação e os resultados foram medianos. Na situação relatada acima, do documento em duas colunas (este paper), o PDF Reflow fez um trabalho exemplar: ajustou corretamente o texto e melhorou consideravelmente, viabilizando a leitura que, de outra forma, seria quase impossível.
Com um texto mais simples, de uma coluna (este relatório), o que a princípio se pensou que seria uma vitória fácil do PDF Reflow sofreu uma reviravolta na prática. Com o recurso ativado, os controles de zoom e ajustes de largura e altura são desabilitados. Nesse caso, foi melhor desativar o PDF Reflow e pedir um ajuste à largura da página – o texto ficou maior e, portanto, mais fácil de se ler.
Testamos, ainda, um documento com algumas fórmulas matemáticas (este), área sempre espinhosa para visualizadores de documentos, editado em formato paisagem. Aqui, o Lev Neo com o PDF Reflow ativado conseguiu reproduzir as fórmulas, mas se desentendeu severamente com o português mesmo, trocando acentos e quebrando as linhas em locais estranhos. Novamente, a melhor saída foi desativar o recurso e virar a tela de lado.
Sem esperança de que fosse surtir efeito, também tentamos aplicar o PDF Reflow em um livro escaneado – essa solução ainda é relativamente comum em algumas universidades e no consumo pirata de livros pela Internet. A suspeita se confirmou – não faz diferença alguma.
Embora a amostragem seja pequena, tentou-se fazer uma bastante diversificada, contemplando vários cenários. No fim, o PDF Reflow fez diferença em poucos deles e, na maioria, mais atrapalhou do que ajudou. Há uma limitação da tecnologia. Se o seu objetivo ao comprar um leitor de livros digitais for consumir conteúdos salvos em PDF, um tablet mediano, com tela grande (acima de 8 polegadas), se sai melhor.
Vale a pena?
O preço sugerido do Lev Neo é de R$ 479, mas ele costuma entrar em promoção e ser vendido por até R$ 399. São valores quase idênticos aos que a Amazon cobra pelo Kinder Paperwhite, que, ainda que longe de ser perfeito, tem alguns pontos críticos melhor resolvidos – especialmente o sistema de seleção de texto – e um ecossistema mais robusto.
O Lev Neo não é ruim, especialmente para quem pretende fazer leituras descompromissadas, leves. Mas se o objetivo é usá-lo para algo mais, por mínimo que seja, é uma boa considerar as alternativas, incluindo tablets.
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