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Concorrentes investem em “supermercado do futuro” para conter avanço da Amazon

Um supermercado repleto de  tecnologia na China. | Giulia Marchi/NYT
Um supermercado repleto de tecnologia na China. (Foto: Giulia Marchi/NYT)

Para ver como funciona um estabelecimento onde os sensores e a inteligência artificial substituíram os caixas, os consumidores têm que ir à Amazon Go, uma loja de conveniência experimental da varejista da internet no centro da cidade.

Porém, em breve, mais negócios com orientação tecnológica como a Amazon Go devem estar chegando.

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A corrida global para a automatização do comércio está em pleno andamento entre vários dos principais varejistas e pequenas startups de tecnologia, motivados a reduzir custos trabalhistas e a minimizar a frustração dos clientes, como a espera por um caixa livre. Estão tentando também impedir que a Amazon domine o mundo do varejo físico como fez com as compras online.

As empresas estão testando robôs que ajudam a manter prateleiras abastecidas, além de aplicativos que permitam que consumidores passem itens pelo caixa com um smartphone. Sistemas de alta tecnologia, como o usado pela Amazon Go, automatizam por completo esse tipo de processo. A China, que tem suas próprias empresas de comércio eletrônico, bastante ambiciosas, surge como um lugar especialmente fértil para essas experiências.

Se isso for alcançado, essas novas tecnologias poderiam trazer ainda mais incerteza aos trabalhadores do setor, que já sentem as mudanças devido ao crescimento das compras online. Uma análise feita no ano passado pelo Fórum Econômico Mundial (PDF) concluiu que de 30% a 50% dos empregos do varejo no mundo podem estar em risco quando as tecnologias como o autoatendimento no caixa forem totalmente adotadas.

Além do mais, tudo isso vem gerando preocupações entre especialistas em privacidade por causa da enorme quantidade de dados que os varejistas serão capazes de coletar sobre o comportamento do consumidor que fornece sua localização. No interior da Amazon Go, por exemplo, as câmeras nunca perdem de vista um cliente que entra na loja.

Os varejistas adotaram tecnologias em suas unidades muito antes da chegada da Amazon Go. Caixas automatizados são comuns em supermercados e outras lojas há anos. A cadeia de supermercados Kroger usa sensores e ferramentas de análise para melhor prever quando novos caixas serão necessários.

Porém, a abertura da Amazon Go, em janeiro, apavorou muita gente do setor, que viu uma súbita vontade da empresa de exercer seu poder tecnológico de novas formas. Centenas de câmeras instaladas no teto e sensores nas prateleiras ajudam a calcular automaticamente os biscoitos, as batatas fritas e os refrigerantes colocados nas cestas pelos consumidores, que são cobrados ao passarem pela porta da saída.

Agora, a Amazon quer expandir a Go para novas áreas. Uma porta-voz se recusou a comentar sobre os planos de expansão, mas a empresa anunciou uma vaga de gerente imobiliário que será responsável pela “seleção, aquisição e busca de localizações com potencial” para novas unidades da Go.

“Há um constrangimento generalizado porque uma loja on-line está nos mostrando como montar uma loja física e, honestamente, está fazendo tudo surpreendentemente bem”, disse Martin Hitch, o oficial chefe de negócios da Bossa Nova Robotics, empresa que faz robôs de gerenciamento de estoque, atualmente sendo testados pelo Walmart e os outros.

À moda chinesa

A China, obcecada por novos modismos tecnológicos, é o país onde os lojistas testam mais avidamente as compras automatizadas.

Um exemplo é uma cadeia de mais de 100 lojas de conveniência, sem equipe de vendas, de uma startup chamada Bingo Box, com uma de suas unidades localizada em um parque empresarial em Xangai. Os compradores usam um código no celular para entrar e, uma vez lá dentro, escaneiam os itens que querem comprar. A loja destrava a porta de saída depois do pagamento efetuado através do smartphone.

A Alibaba, uma das maiores empresas de internet da China, abriu 35 supermercados automatizados, o Hema, que mistura pedidos online com caixa automatizado. Os clientes escaneiam suas compras em quiosques, usando reconhecimento facial para pagar eletronicamente, enquanto as sacolas de produtos comprados chegam por meio de esteiras de transporte à área de entrega.

Para não ficar para trás, a JD, outro grande varejista online na China, disse em dezembro que se uniu a uma incorporadora para construir centenas de lojas de conveniência sem funcionários. Serão usados chips de leitura nos itens para automatizar o processo de pagamento.

Em seu enorme campus no sul de Pequim, a JD está testando uma nova loja que utiliza visão computacional e sensores nas prateleiras para saber quando um item sai. O sistema controla o processo sem a necessidade de chips nos produtos. O pagamento, que por enquanto ainda acontece em um quiosque, é feito com reconhecimento facial.

JD e Alibaba planejam vender seus sistemas para outros varejistas e estão trabalhando em novas tecnologias de pagamento.

Nos Estados Unidos, o Walmart, maior varejista do mundo, está testando os robôs da Bossa Nova em dezenas de suas lojas para reduzir algumas tarefas entediantes que podem tomar muitas horas de seus funcionários. Os robôs, que parecem malas gigantes com rodas, percorrem os corredores à procura de prateleiras de cereais matinais vazias e itens erroneamente etiquetados, como brinquedos, por exemplo. As máquinas enviam então um relatório ao funcionário, que faz o reabastecimento ou as correções das etiquetas.

Em 120 das 4.700 lojas do conglomerado nos EUA, os clientes também podem escanear itens, incluindo frutas e verduras, com a câmera de seu smartphone, e pagar por eles usando os dispositivos. Na saída, um funcionário verifica o recibo do cliente e faz um “controle” dos itens comprados.

A Kroger, uma das maiores cadeias de supermercados norte-americanas, também está testando um serviço de digitalização móvel em seus supermercados, anunciando recentemente que vai adotá-lo em 400 de suas mais de 2.700 lojas.

Os riscos: privacidade e desemprego

Novas startups tentam fornecer aos varejistas a tecnologia para competir com o sistema da Amazon. Uma delas, a AiFi, está trabalhando com caixas automatizados que, segundo a empresa, será um sistema bem flexível e acessível de modo que lojas familiares e grandes outlets possam usá-lo. Desde 2016, os investidores injetam US$ 100 milhões/ano em startups de automação de varejo. Em 2015, o valor foi de aproximadamente US$ 64 milhões, de acordo com a empresa de dados financeiros Pitchbook.

“Há uma sensação de corrida do ouro”, disse Alan O-Herlihy, executivo-chefe da Everseen, empresa irlandesa que trabalha com varejistas na tecnologia de caixa automático com inteligência artificial.

Esses avanços melhoram a experiência de compra, mas também pode haver consequências que as pessoas acham menos desejáveis: varejistas como a Amazon podem compilar uma grande quantidade de dados a respeito das áreas das lojas onde os clientes passam mais tempo, algo comparável com o que as empresas de internet já sabem sobre seus hábitos online.

“Vai se juntar a tudo mais que a Amazon sabe sobre você, como o que compra online, o que assiste e agora como se movimenta em um espaço”, disse Gennie Gebhart, pesquisadora da Electronic Frontier Foundation (EFF), organização on-line de liberdades civis.

Na China, o público se preocupa menos com problemas de privacidade de dados. Muitos chineses se acostumaram a altos níveis de vigilância, incluindo câmeras de segurança generalizadas e monitoramento de comunicações online pelo governo.

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Dependendo da quantidade de automação nas lojas no futuro, a perda de empregos pode ser severa em um setor que já experimentou inúmeras ondas de fechamento de lojas como Macy’s, Toys R Us e Sears.

Os varejistas estão minimizando a ameaça aos postos de trabalho. O Walmart, maior empregador privado dos Estados Unidos, diz não acreditar que a automação levará a perdas, mas sim que as novas tecnologias são destinadas a redirecionar os funcionários para passar mais tempo ajudando os clientes a encontrar o que precisam.

“Vemos isso como uma ajuda a nossos colaboradores; somos uma empresa orientada para as pessoas e que usa tecnologia “, disse John Crecelius, vice-presidente de operações centrais do Walmart.

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