Um projeto de financiamento coletivo está exposto ao fracasso. Basta não bater a meta, na modalidade tudo ou nada, para nenhum centavo cair na conta do idealizador e a ideia continuar sem sair do papel.
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Mas alguns projetos, principalmente ligados à tecnologia, parecem fadados a terminar mal. Seja porque a ideia ou a meta é ousada demais, seja porque o fabricante não dá conta de entregar o prometido.
Os casos vão desde smartphones, passam por caixas térmicas hi-tech e chegam aos drones. Em comum, eles têm o fato de subestimarem os desafios na materialização das promessas de campanha, ou seja, prometerem mais do que, no fim, eram capazes de entregar.
Confira uma seleção de projetos de financiamento coletivo que acabaram mal:
Smartphone WisePlus Pi
Um projeto de financiamento coletivo que não deu certo foi do smartphone WisePlus Pi. A empresa responsável pelo modelo, a brasileira WisePlus, lançou em dezembro do ano passado uma campanha no site Catarse para financiar a produção dos aparelhos. A expectativa era atingir R$ 2.872.500 até 21 de janeiro deste ano. O montante não foi alcançado e a campanha, cancelada.
A empresa prometia, para quem doasse R$ 1,149 ou mais, um smartphone WisePlus Pi. O aparelho teria sistema Android, tela de 5,5 polegadas, sensor de impressão digital e acabamento em alumínio. Detalhes como capacidade de armazenamento e informações mais precisas sobre o software não estavam disponíveis na campanha.
Outro detalhe também pode ter afastado os investidores: o smartphone não era fabricado pela WisePlus nem tinha design original. Na verdade, como relevou o site Manual do Usuário, tratava-se de um smartphone que seria importado da China, de uma empresa chamada Vinroad, que vendia o aparelho no atacado por US$ 155 cada, com pedido mínimo de mil unidades.
O que a WisePlus faria caso fosse bem sucedida, segundo apurou o Manual do Usuário em parceria com o Pinguins Móveis, era apenas colocar a sua logo no aparelho e oferecer o suporte pós-venda. A WisePlus já havia tentando lançar um smartphone rodando Windows, mas também sem sucesso.
Smartphone Ubuntu Edge
Um outro projeto de financiamento coletivo que falhou foi do smartphone Ubuntu Edge. A campanha foi hospedada no site Indiegogo e arrecadou US$ 12,8 milhões, mas ficou longe de bater a meta de US$ 32 milhões. As pessoas podiam doar de US$ 20 a US$ 80 mil.
A proposta era unir em um único aparelho as funcionalidade de um smartphone e de um computador. Ele rodaria os sistemas operacionais Android e Ubuntu, teria 128 GB de armazenamento e 4 GB de RAM. O preço de mercado de cada aparelho seria de US$ 695.
A empresa por trás da campanha, a Canonical, porém, tinha uma problema: não era fabricante de hardware. E nenhuma fabricante comprou o projeto do audacioso celular. Logo, a campanha, que atingiu US$ 3,4 milhões em seu primeiro dia, caiu em descrédito e ficou 60% abaixo da sua meta.
Drone Zano
Não é somente de smartphones que vivem as campanhas de financiamento coletivo que não deram certo ou que acabaram mal. O grupo Torquing lançou no site Kickstarter uma campanha para financiar a produção de um nanodrone chamado Zano. A promessa era tirar votos, fazer selfies e vídeos, tudo a partir de um aparelho que cabe na palma da mão, custaria apenas £ 139 e, o mais importante, seria autônomo, ou seja, ele flutuaria em torno do usuário sozinho, sem precisar ser controlado. Não havia nenhum aparelho similar na época com preço tão baixo.
A campanha, de 2013, pedia contribuições a partir de £ 5. A expectativa era conseguir £ 125 mil para dar vida ao projeto. O valor, modesto, foi alcançado em apenas dez dias de campanha e o total arrecadado ultrapassou £ 2 milhões, pagos por mais de 12 mil pessoas.
Com o dinheiro arrecadado, o grupo prometia entregar os drones em até seis meses. Mas muitos drones nunca foram entregues e aqueles que chegaram aos clientes sequer conseguiam voar alguns centímetros antes de bater na parede. A qualidade da imagens também eram ruim. Um relato do caso foi feito pelo jornalista Mark Harris, na plataforma Medium, contratado pelo Kickstarter para contar a história de um dos projetos mais ambiciosos (e um dos maiores fracassos) da plataforma.
Jolla Tablet
No início de 2014, a empresa Jolla, formada por ex-funcionários da Nokia, lançou a sua campanha no site de financiamento coletivo Indiegogo para tirar do papel o seu projeto de tablet. O Jolla Tablet seria um aparelho com um sistema próprio, Sailfish OS 2.0, capacidade para armazenamento de 64 GB, possibilidade de instalação de aplicativos Android, câmeras traseira e frontal de, respectivamente, 5MP e 2 MP e processador de 64 bits com 1,8 GHz.
A ideia era arrecadar US$ 380 mil. A campanha acabou levantando cerca de US$ 2,5 milhões, valor 479% superior à meta. A meta foi alcançada no dia10 de dezembro de 2014.
Só que aí vieram os problemas. A empresa não entregou os tablets nos prazos prometidos e apenas algumas centenas de clientes receberam o produto, um ano depois. Na mesma época, a Jolla revelou que teve problemas com fornecedores e que precisou trocar de fábrica duas vezes, o que a levou a ter prejuízos financeiros e, consequentemente, a impossibilidade de cumprir com o prometido. Por fim, anunciou o cancelamento do produto e prometeu reembolsar todos os financiadores que não receberam seus tablets “na medida em que a situação financeira da empresa permita”, um processo que até hoje ainda não foi concluído.
Coolest
A ideia do Coolest era transformar uma caixa térmica em uma festa. A caixa poderia armazenar até 60 litros, teria uma liquidificador acoplado para o cliente fazer as suas bebidas favoritas e contaria ainda com alto-falante à prova d’água com Bluetooth para tocar as músicas mais animadas e entrada para cabo USB.
A campanha, veiculada no site Kickstar, arrecadou US$ 13 milhões, de uma meta de US$ 50 mil. Foram 62 mil apoiadores do projeto, que esperavam receber o Coolest e mais alguns mimos.
Só que assim como aconteceu com o Jolla Tablet, parte dos financiadores da campanha não recebeu o prometido. Pra ser mais exato, 20 mil pessoas estão esperando pela recompensa, segundo a própria Coolest. A empresa alega que processos na justiça de alguns financiadores insatisfeitos com os atrasos levaram ao endividamento e a dificuldades ainda maiores para honrar os pedidos.
Só que é possível encontrar o Coolest em redes do varejo, enquanto os apoiadores do projeto seguem esperando a sua caixa térmica hi-tech.