Um ano depois de a startup curitibana Fleety ter fechado as portas, mais uma empresa de compartilhamento de veículos encerrou suas atividades. A Pegcar, plataforma que permitia o aluguel de carros entre pessoas físicas, anunciou nesta semana que não funciona mais, confirmando uma tendência de mercado: o car-sharing tem cambaleado com força por aqui.
A PegCar tinha cerca de 30 mil usuários e atuava nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. A empresa afirma que “a crescente necessidade e dificuldade de trazer novos investimentos para nossa operação fez com que tomássemos a difícil decisão de descontinuar nosso sonho”. Ela ainda acrescentou que, dentre o avanço da economia colaborativa no Brasil, o segmento de aluguel de carros entre pessoas ainda é “bem embrionário, o que exige ainda mais o investimento de novos recursos que seriam usados principalmente para mudar uma cultura, gerar liquidez na plataforma e crescer da maneira consistente”.
O fato de o aluguel de carros entre pessoas físicas não ter caído nas graças do brasileiro foi definitivamente um dos principais motivos para o fim da Pegcar ter encerrado suas atividades. A plataforma era até então a a empresa mais antiga desse mercado em atuação no Brasil. A startup foi uma das principais do país nesse mercado embrionário, tendo sido responsável, junto à Mapfre, pela criação do seguro especial que hoje é usado por outros players.
Mesmo assim, segundo os sócios Bruno Hacad e Conrado Ramires, faltou a sustentabilidade que garantiria a rodada de financiamento institucional - essencial para qualquer startup tradicional se manter antes da lucratividade. “No Brasil, a gente vê que para ser disruptivo, o player precisa agregar muito valor à maneira que o consumidor resolve seu problema. Talvez o país ainda não esteja preparado para isso”, lamenta Ramires, em entrevista à Infomoney. “Acho que o car-sharing pode ser uma realidade, mas é um negócio de longo prazo e, na minha opinião, muito arriscado”, opina Hacad.
De qualquer maneira, Hacad tem plena convicção de que o mercado, se bem explorado, é realmente promissor. “Acreditamos no compartilhamento. Sempre acreditamos. Mesmo quando fechamos, percebemos que ajudamos muita gente, tivemos várias mensagens lamentando o fim da empresa. Isso mostra que podemos fazer a diferença.”
A Fleety, uma das pioneiras em car-sharing no Brasil, passou por uma situação parecida no início de 2017 e também encerrou as atividades. Na época, o CEO e co-fundador da Fleety, André Marim, explicou que a empresa teve que encerrar as atividades porque não conseguiu fechar novos contratos para receber aportes financeiros e ficou sem caixa. Ele também mencionou “motivos jurídicos levaram à impossibilidade de captação de recursos”.
E, apesar de também ter sido obrigado a fechar as portas, Marim se mostrou otimista com o mercado de compartilhamento de carros. “Eu acredito demais no mercado de transportes. É um mercado que já está sendo revolucionado, com muitas oportunidades. Queríamos e podíamos ter chegado mais longe”, disse em entrevista à Gazeta do Povo em 2017.
moObie ainda aposta no setor
A startup moObie, na ativa desde 2017, é uma das poucas que resiste atuando no modelo de car-sharing. A startup oferece uma solução semelhante ao Airbnb onde usuários podem anunciar seus veículos para uso de terceiros. De um lado, o proprietário que não usa tanto ganha dinheiro; do outro, quem precisa de um carro pontualmente consegue negociar algumas opções.
“Quando saí do ambiente corporativo para um ano sabático, fui pesquisar o que existia fora do Brasil e aprendi mais sobre o modelo de compartilhamento – tanto usando frota própria como peer to peer, que é o que trabalhamos”, contou Tamy Lin, fundadora da empresa, ao InfoMoney. Nos Estados Unidos e na Europa, ela descobriu mercados bastante avançados – uma das empresas, a Turo, possui 130 mil carros listados em 4,7 mil cidades.
Empecilhos para a popularização do car-sharing
O problema é que o mercado na América Latina para o setor de aluguel de carros entre pessoas físicas ainda não tem demonstrado demanda suficiente, tanto de público quanto de locadores. No caso de quem aluga um carro, o problema pode estar no baixo valor arrecado.
Os locadores da moObie recebem cerca de R$ 500 por mês, em média, de acordo com os porta-vozes da plataforma, descontando a comissão. Alguns perfis de clientes conseguem chegar a ganhos de R$ 1,5 mil e usuários mais assíduos com veículos mais potentes podem chegar a arrecadar R$ 2,5 mil com aluguéis. Considerando gastos inerentes ao veículo, como IPVA e a própria desvalorização causada pelo uso constante, é preciso ter ótima regularidade para realmente considerar o aluguel como uma opção lucrativa - caso contrário, vale mais como alívio para quem já tem um veículo “parado”.
Para o usuário, os preços ainda estão próximos de locadoras tradicionais - ao menos para carros mais populares. Além do valor do veículo, o usuário locador paga uma taxa de R$ 35 reais do seguro obrigatório. Já para modelos mais robustos é possível encontrar veículos por até a metade dos valores cobrados nas locadoras tradicionais, como a Localiza e a Hertz.
Outro empecilho é que os aplicativos ainda não “conquistaram” o público, como fizeram as plataformas de transporte privado de passageiros Uber, 99 e Cabify. Segundo os que se arriscaram no modelo de car-sharing, de usuários a empreendedores, a cultura do brasileiro ainda está longe de permitir um mergulho de cabeça no aluguel de carro por curto perído de tempo entre pessoas físicas.
Mas, esses empecilhos, não desanimam a moObie. “Em São Paulo, existem 4 milhões de carros próprios, enquanto a frota de locadoras tradicionais está em 1 milhão de veículos”, diz Tamy. “Claramente há uma demanda não atendida e que pode ser preenchida.”
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