Assunto inevitável em qualquer redação jornalística e fonte de dúvidas entre usuários e clientes, definir o “gênero” de empresas é uma questão complicada para nós, falantes do português.
Não há um consenso porque o idioma não prevê essa situação. É o que diz Diogo Arrais, professor de língua portuguesa do Centro Preparatório Jurídico (CPJUR): “O uso [do ‘a’ ou ‘o’] não é determinado por uma questão gramatical, como nomes de lugares. Em nomes de lugares existe uma regra, mas de empresas, não.”
Na prática, é fácil encontrar exemplos que se contrapõem e contribuem para o caos na hora de se referir a empresas. Fala-se “o Google” e “o Yahoo”, mas, no caso da Netflix, é no feminino mesmo.
Descontração nas redes sociais
A empresa de streaming, que tem uma presença forte em redes sociais e faz uso de uma persona descontraída nesses locais, brinca com o assunto sempre que é questionada. Pelo Facebook, foi questionada por uma cliente: “Por favor, acabe com uma discussão aqui na baia do escritório: por que vocês falam ‘A NETFLIX’?” A resposta? “Porque sou menina.”
Às vezes, o perfil da Netflix puxa o assunto até quando a questão do gênero não está em pauta. Quando alguém disse, no Twitter, “Espelho, espelho meu, existe alguém mais feliz com o Netflix do que eu?”, o perfil respondeu “quem é O netflix? Aqui só tem euzinha. Srta. Netflix :P”
Arrais explica que, em muitos casos, as empresas recorrem a uma figura de linguagem chamada elipse para resolver a questão. A elipse consiste na omissão de um termo da frase que seja facilmente subentendido. No nosso contexto, o termo comumente suprimido é “empresa”, daí porque, em casos como o da Uber, a empresa se refere no feminino: seria uma elipse de “a (empresa) Uber.”
Por meio da assessoria, a Uber esclarece que também usa o termo no masculino, mas com outro sentido: “Na realidade, nos referimos à Uber, no feminino, quando estamos falando da empresa Uber e ao Uber, no masculino, quando falamos do carro do motorista parceiro.” Ou seja, dizer que chamou “um Uber” está correto, segundo a Uber.
Provando que a lógica não é geral, o Google aparece no masculino mesmo quando se refere à empresa – é assim que aparece nos termos de uso deles, que abrange todos os serviços, não só o buscador. O mesmo ocorre com o Yahoo.
No fim, defende Arrais, são as pessoas quem decidem. Por não haver regras gramaticais, é no uso cotidiano que se determina o que é mais comum ou não. Por isso se ouve e se lê tanto “a Google” e “o Netflix” apesar de todo o empenho dessas empresas em assumirem o “o” ou o “a”.
E, só para esclarecer, já que ouvimos estranhos relatos em sentido contrário, aqui dentro todo mundo fala “a” Gazeta do Povo.
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