A Embraer esteve no centro do noticiário nesta quinta-feira (21), graças à notícia de que a norte-americana Boeing está interessada em uma aquisição. Independentemente do desfecho da negociação, a companhia brasileira conta com duas novas aeronaves previstas para chegar ao mercado em 2018. Uma delas, o jato E190-E2, destina-se à aviação civil comercial. A outra é a aeronave de transporte militar multimissão KC-390, que substituirá os cargueiros turbo-hélice C-130 Hercules, usados pela Força Aérea Brasileira (FAB) desde a década de 1960.
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O E190-E2 e o KC-390 são os maiores aviões já produzidos pela Embraer. Segundo a empresa, que é líder mundial na fabricação de jatos comerciais com até 150 assentos, o E190-E2 tem uma eficiência aerodinâmica maior, o que foi possível graças ao desenho de uma asa mais alongada e apresenta redução de até 25% no consumo de combustível quando comparado à primeira geração de E-Jets (bimotores para 70 a 124 passageiros produzidos pela empresa a partir de 2001) e aos principais concorrentes do mercado.
Além disso, os custos de manutenção do E190-E2 são 25% menores que os da atual família de E-Jets, os motores são de alto desempenho e há menos ruído e emissão de gases. Já a operação é favorecida pela quarta geração de comandos de voo “fly-by-wire” (processados por computador), as cabines para bagagem de mão são maiores que as dos E-Jets e os assentos ultrafinos garantem maior espaço entre as pernas.
O jato civil E190-E2 também buscou inspiração na indústria automobilística, com novos controles individuais de luz e ar-condicionado, considerados mais ergonômicos e intuitivos. As janelas dessa aeronave de segunda geração foram redesenhadas para dar a sensação de uma cabine maior e permite a entrada de mais luz natural em seu interior. O novo modelo utiliza, ainda, um conceito chamado e-Enabled, que emprega sistemas integrados de comunicação para gerar eficiência operacional e de manutenção. Assim, é possível usar canais de comunicação para transmissão de dados do avião entre a tripulação e o centro de operações em solo, por exemplo. Isso permite que a equipe gere relatórios e os envie mesmo durante o voo. O E190-E2 dispõe, ainda, de uma plataforma de streaming sem fio a bordo, chamada SKYfi Club, para os passageiros que quiserem ouvir músicas e ver vídeos em seu celular ou tablet, com conexão de alta velocidade.
Na opinião de uma fonte de mercado que acompanha o setor aéreo, o E190-E2 da Embraer apresenta inovação tecnológica no motor, no material de fabricação — mais leve e resistente — e no desenho da asa, que gera eficiência no consumo de combustível. “O painel dos pilotos também tem facilidade de operação. Essa aeronave é a grande novidade para o mercado de aviação regional, e seu objetivo é cimentar o histórico positivo da Embraer”, analisa.
A empresa afirma que seu novo jato civil já recebeu pedidos de compras de companhias como AirCastle (EUA), Tianjin Airlines (China), ICBC Financial Leasing (China), Air Costa (Índia), Kalstar (Indonésia) e Widerøe (Noruega). A primeira unidade do E190-E2 deve ser entregue em abril de 2018 à Widerøe, maior companhia aérea regional da Escandinávia, e as operações estão previstas para começar em seguida. Se tudo sair conforme planejado, a norueguesa deve desembolsar quase R$ 3 bilhões pelos modelos brasileiros, que serão configurados em classe única, com 114 assentos cada.
“Estamos próximos de cumprir esse compromisso, o que só foi possível graças à excelência dos processos de engenharia e à nossa experiência única na certificação de 12 novas aeronaves nos últimos 17 anos”, diz John Slattery, presidente e CEO do segmento de aviação comercial da Embraer. “Desde o começo, o programa E2 esteve e permanece no prazo, dentro do orçamento, e está ainda melhor que a especificação inicial. Entregaremos ao mercado uma aeronave madura e robusta”, completa.
Além do jato E190, fazem parte da família E2: o E195-E2, que deve entrar em serviço em 2019, e o E175-E2, previsto para 2021. A principal diferença entre os três modelos está no tamanho, sendo que o E175 tem a menor capacidade (até 88 passageiros), o E190 é intermediário (até 114) e o E195 é o maior (até 124).
O que o KC-390 oferece
A Embraer destaca que seu novo avião militar, o KC-390, é capaz de executar diversas missões como transporte de carga, lançamento de tropas ou paraquedistas, reabastecimento aéreo, busca e salvamento, transporte de feridos, combate a incêndios e apoio a ações humanitárias. Com capacidade de até 26 toneladas de carga, essa aeronave de defesa e segurança consegue atingir uma velocidade máxima de 870 km/h e operar inclusive em locais hostis, com pistas danificadas ou de terra.
Na quarta-feira (20), o KC-390 recebeu sua homologação operacional inicial e, ao longo de 2018, deve obter o certificado final concedido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A primeira unidade está prevista para ser entregue à FAB no segundo semestre do ano que vem. Nos próximos 12 anos, a Aeronáutica deve receber 28 exemplares do novo cargueiro, pelos quais pagará cerca de R$ 5 bilhões, e a Embraer informa que já acumula 32 cartas de intenção de compra enviadas por países como Chile, Argentina e Portugal.
Desde os primeiros testes, iniciados em outubro de 2015, os dois protótipos do KC-390 já somam cerca de 1.500 horas de voo. Segundo a fabricante, o modelo militar que substituirá o C-130 Hercules estabelece novos padrões, e a empresa está “muito satisfeita com a maturidade que esse produto já alcançou e totalmente confiante de que sua certificação será alcançada conforme previsto”. De acordo com uma fonte de mercado consultada, o cargueiro tem “mil e uma utilidades”, podendo até ser convertido em avião civil para transporte de carga. “O KC-390 também é pressurizado, o que lhe permite alcançar um teto de voo maior. Além disso, tudo que é antigo [como o Hercules] exige mais manutenção”, compara.
Expectativas para 2018
Para a Embraer, que hoje tem cerca de cem clientes no mundo operando jatos das famílias ERJ e E-Jets, a entrada em novos mercados com o KC-390 e o E190-E2 só tem sido possível por conta de um alto investimento em tecnologia e inovação. Cerca de 10% de todo o faturamento da empresa é aplicado em pesquisa, desenvolvimento e melhoria das instalações. Em 2016, a companhia deu entrada no registro de mais de 600 patentes no Brasil e no exterior, sendo mais da metade delas já reconhecidas.
Atualmente, a Embraer possui três centros de pesquisa no país, em São José dos Campos (SP), Belo Horizonte e Florianópolis, e outros dois nos Estados Unidos e em Portugal. Também reúne equipes de inovação em solo norte-americano: no Vale do Silício (Califórnia) e em Boston. Ao todo, são 16 mil funcionários no Brasil e 2 mil no exterior.
A Embraer espera que o mercado de aviação executiva continue estável ou apresente leve crescimento no próximo ano, em comparação com 2017. Para 2018, a empresa pretende entregar até 90 jatos comerciais, sendo o modelo E190-E2 10% desse total. Em 2016, a companhia entregou 240 aeronaves (90% para clientes internacionais) e obteve uma receita líquida de R$ 21,4 bilhões, patamar que, segundo previsões, deve se manter no balanço final deste ano e também em 2018.
Para seguir competitiva nos segmentos em que atua, a Embraer afirma que “continuará focada no controle de custos e no aumento da eficiência, com produtos de excelência e operações corretamente dimensionadas”. Em seus 48 anos de história, a empresa já fabricou mais de 8 mil aviões para 90 países. Atualmente, tem mais de 2 mil jatos comerciais (ERJ e E-Jets) em operação. Também produz jatos executivos, e entregou mais de mil unidades desse tipo para 700 clientes em 70 países.
Na avaliação do sócio do setor aeroespacial e defesa da KPMG, Marcio Peppe, a crise que o Brasil enfrenta nos últimos anos impactou significativamente a demanda do transporte aéreo. “Alguns ajustes têm sido feitos na estrutura de operação do país, para reduzir os efeitos negativos da economia. Ao mesmo tempo que saíram de cena aeronaves antigas, com mais de dez anos de uso – a idade média da frota brasileira é de 8,5 anos –, entraram unidades novas, com maior eficiência energética e sustentabilidade [como é o caso dos modelos da Embraer]. E essa é a tendência para os próximos 20 anos. Aeronave antiga gera mais custos que benefícios, pede mais manutenção, tem menos tecnologia de motor”.
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